quarta-feira, dezembro 3

De um só fôlego


Na Suécia, 46% das mulheres sofreram violência de homem; 13% das mulheres foram vítimas de violência sexual fora de uma relação; e 92% das mulheres não prestam queixa a polícia após sofrerem violência sexual.

Essas três frases pontuam as divisões do livro Os Homens que Não Amavam As mulheres, que faz parte da trilogia Millenium, do jornalista sueco Stieg Larsson, morto em 2004 de ataque cardíaco, logo após entregar os originais a sua editora. Mesmo com a caudalosa edição de 522 páginas, é livro para ler de um só fôlego. Os personagens protagonistas conduzem a história com uma dinâmica própria e chegam a um final nada previsível. Trata-se de um jornalista de uma revista econômica sueca, que é contratado para escrever a história de uma família rica e decadente de seu país, quando estava para cumprir uma pena de prisão por ter sido julgado culpado por um processo de calúnia movido por um outro milionário, rival de seu contratante.

No meio do percurso tem de desvendar um mistério e para tanto recorre aos dons investigativos e hackers de uma jovem de comportamento nada convencional. Ele precisa descobrir o que aconteceu com uma jovem de 16 anos, da época, desaparecida há mais de 30 anos. O trajeto o leva a encontrar alguns pares de esqueletos nos armários os mais diversos. Ninguém está acima das suspeitas.

O que mais ficou evidente para mim é que a violência de homens contra as mulheres extrapolam as barreiras étnicas e sociais. Um país como a Suécia, com um padrão de vida considerado dos mais faustosos do mundo, ainda não se viu livre dessa chaga. O autor, através do seu enredo, e dos personagens femininos, mostra toda a ojeriza que tem a essa tipo de crime. Não segue padrões morais tradicionais, mas aponta uma ética e uma honra que nos deixa o que pensar.

Não sei se este é um deslize da tradução, mas, se não for, demonstra a dificuldade com que a maioria dos jornalistas trata com os números. Na página 435, um texto sobre a Austrália diz que o país tem 120 milhões de ovelhas e exporta anualmente 700 milhões de toneladas de carne desse animal. Ou seja, se todo o rebanho do país for abatido a cada ano, o que seria impossível à manutenção do plantel, cada animal pesaria em torno de seis toneladas, o que, convenhamos, é um peso excessivo até para gado bovino. Esta falha, contudo, não tira o brilhantismo do autor, a beleza da história, mas põe sob suspeição possíveis falhas nos demais números assinalados pelo autor. De sorte, recomendo pela diversão garantida aos que se engalfinharem pelas páginas deste livro.

Outros comentários podem ser lido em:

http://blogdofavre.ig.com.br/2008/11/os-homens-que-nao-amavam-as-mulheres/

http://revistaspeculum.wordpress.com/2008/10/16/os-homens-que-no-amavam-as-mulheres/

Um comentário:

Anônimo disse...

avalie como a porrada rola solta aqui no Brasil contra as mulheres e os números não dão conta.