sexta-feira, dezembro 30

As canções



Pessoas simples, histórias comuns, emoções semelhantes, permeadas por músicas em sua maioria vitrolões. As canções, de Eduardo Coutinho, poderia ser batizando de Sentimentos. O diretor desse documentário lança um olhar delicado, poético e sensível sobre momentos marcados por canções de cada personagem real que nos é apresentado através do filme. São pessoas anônimas mas com passagens universais de suas vidas. Perdas, amores desfeitos, relacionamentos impossíveis e efêmeros, mas que no entanto marcaram para toda vida, respectivamente acompanhados de uma trilha sonora.

Sentados em uma cadeira sobre um palco, tendo como pano de fundo cortinas, os personagens-pessoas desfiam suas histórias, e cantam as músicas, sem nenhum acompanhamento instrumental, que ajudam a avivar o momento e as emoções. Não raro, vertem lágrimas impulsionados pelas lembranças. É comovente para qualquer um as cenas mostradas, meio que força a nós, plateia passiva, a buscar em nosso interior experiências correlatas nossas, ou em pessoas que fazem nosso cotidiano. Eu particularmente, me vi remetido em muitos momentos. E quase que canto uma velha música.

São apenas 90 minutos que passam incrivelmente rápido. E uma fala me chamou a atenção. “Como ter lembranças sem música?” Em mim, não funciona exatamente assim. Há muitas coisas vivas, que ainda preciso acrescentar uma trilha a elas. Mas, sem dúvida, assim como os cheiros, a música fala diretamente ao coração.

Infelizmente, não há uma cultura de se assistir documentários. Uma sala de exibição praticamente vazia, na única sessão do dia é um tanto quanto melancólico. Principalmente quando a gente identifica tanta qualidade na produção que assistiu. Realmente lindo.

PS. Algumas pessoas me falaram de outros filmes, que poderiam figurar entre os 10 melhores. Acontece que não incluí os que vi em 2010, como Cisne negro, Bravura Indômita e outros, que foram disponibilizados antes de chegar às salas do país.

quarta-feira, dezembro 28

Os 10 melhores filmes de 2011

Reduzi muito a minha disponibilidade de tempo, com o retorno a falcudade. Com isso, também não pude assistir a todos os filmes que gostaria. Mas aqui vai a minha lista:

As canções

Uma doce mentira

Minhas tardes com Margueritte

O palhaço

Planeta dos macacos: a origem

Melancolia

Meia noite em Paris

Scoth Pilgrim contra o mundo

A pele que eu habito

Manda bala


Se fossem só três, sem dúvida Almodóvar, Woody Allen e Lars Von Trier seriam os escolhidos, com A pele que eu habito, Meia noite em Paris, e Melancolia, respectivamente. Desses, acho que só o espanhol deve figurar entre os favoritos aos prêmios. Os dois outros estão amaldiçoados pela academia. Tudo pelo poder não achei digno de estar aqui entre esses.

segunda-feira, dezembro 26

Certas respostas

Estranho pensar que somos todos

Como folhas lançadas ao vento

Sem vontade, se apinhando como

Aneurais fôssemos.


Chegamos aqui pela irracionalidade do destino?

Não há nada dentro de mim que me guie?

Que sentimentos brotam a ermo de mim

E de todos vocês?


Trago, mesmo que em ínfima parte,

Traços de consciência.

Não do que eu sou,

mas do que me limta

e me impede da desintegração


Também me cortam,

De cima a baixo,

Todas as minhas escolhas

Do que eu quero e do que eu

Repilo.


Não há porque responsabilizar

O acaso, pelos sentimentos

Que brotam em mim.

Há em cada pulsar, cada fluir

O consentimento

do meu próprio querer.

Tudo pelo poder

Confesso que fui atraído por críticas positivas. Cinco estrelas de Villaça não são poucas coisas, pelo menos em tese. Mas a produção Tudo pelo poder (Ides of march) me surpreendeu negativamente. Não sei aonde viram qualidade nesse filme para considerá-lo um os prováveis indicados ao Oscar. Mas com tanta porcaria que já conseguiu essa láurea, é possível. George Clooney que dirige e coadjuva esse filme tem o seu lugar no olimpo hollywoodiano.

A história conta os incidentes de uma campanha primária do partido democrata do pré-candidato à presidência dos Estados Unidos Mike Morris (Clooney). Os republicanos, na altura do campeonato, estão praticamente sepultados e vencer a refrega interna assegura a Casa Branca ao vencedor. Morris é dono do discurso mais progressista, daqueles que quer secundar algumas questões como religiosidade, direitos civis para homossexuais, defendendo um país igualitário para todos. Só que se vê ameaçado de perder a prévia e vive o dilema entre a derrota e fazer um acordo com um governador ambicioso e conservador para chegar ao seu objetivo. Opta pelo segundo, é claro, para justificar o título.

Idos de março, tradução literal, seria um nome mais honesto para o filme. Tudo pelo poder não faz juz. Idos de março seria uma alusão ao assassinato de Julio Cesar pelo senado romano, a partir de uma traição. Só que em Tudo pelo poder não acontece exatamente uma, que apesar de se assemelhar como tal, trata-se de uma queda de braço entre o coordenador da campanha Paul Zara (Seymour Hoffman) e o assessor de imprensa Sthepen Meyers (Ryan Goslin), segundo homem na hierarquia da campanha. Em política, traições são desconsideradas na disputa pelo poder. Na realidade, são mais vistas como realinhamento de forças.

Fazendo-se de protagonista do filme, Meyers é de uma ingenuidade a toda prova. Primeiro, aceita o convite para o encontro com o coordenador de campanha adversário, que aparentemente tenta seduzi-lo, vendendo a ideia de que Meyers estaria do lado perdedor e que poderia se sair melhor mudando de lado. É óbvio que isso é um desespero. Onde já se viu alguém que está vislumbrando a vitória cooptar mais gente para dividir os louros? Não convenceu o assessor espertinho ser tão ingênuo de uma hora para outra.

Não quero aqui entregar toda a trama, para quem quiser ainda conferir. Mas os lances que se joga nesta disputa política são todos tão óbvios que não falta a estagiariazinha sedutora-seduzida do candidato. Parece que toda eleição tem de ter uma. Nas campanhas aqui, isso não causou problema. Também de uma infantilidade a toda prova a relação entre o assessor e a jornalista de um grande periódico. Quem minimamente conhece os meandros dessas relações não dorme no ponto, nem se deixa apanhar de cobertor curto.

Mas essas falhas no roteiro, demonstrando muita ingenuidade não é o mais grave. A história é arrastada e perde-se em nódulos dramáticos desinteressantes ao mesmo tempo em que muitas questões não ficam claras. Tais como a existência de um certo bilhete, que se transforma no pivô de uma chantagem. Somente o óbvio do óbvio é evidente, como: em brigas pelo poder não há como se preservar relações de afetividade.

quarta-feira, dezembro 21

A certeza do incerto

O CERTO É UMA ESTRADA RETA

Para onde devemos olhar? E o que somos capazes de apreender a cada vez que olhamos? Do que apreendemos o que somos capazes de transformar em linguagem e transmitir? Tenho pensado muito sobre isso. Ao que me parece, muita coisa se perde no meio do caminho entre a forma como apreendemos o mundo e as ideias que levamos a outras pessoas. Mas para mim, o mais grave é a transformação do que pensamos ao se adequar a ideia a uma linguagem.

Definitvamente, cheguei a conclusão que há coisas que não podem ser ditas sobre pena de se transformado em outra coisa. Como se dizer a um chefe que está exigindo uma determinada produção que naquele momento está se sentindo cansado. Na certa, isso nunca terá uma compreensão literal. Há de se pensar que na realidade está se desculpando pela queda da qualidade do que vem sendo produzido, ou se está pedindo um descanso, ou até mesmo a dispensa da conclusão da tarefa.

As pessoas, e eu me incluo, estamos constantemente avaliando, pesando, ou desconfiando de tudo que chega a sua esfera de conhecimento, ou ao espírito, como diria Wittgenstein. E aí? O que você quis dizer exatamente quando revelou o seu cansaço? era cansaço mesmo, ou queria se livrar da conclusão da tarefa? Ou foi alguma recusa a um afago, a um carinho, um desejo enorme de está distante dalí? Cada qual com seus motivos, não há uma regularidade previsível, o que deixa a linguagem um tanto quanto mais aberta.

E um entendimento equivocado sobre algo dito aonde leva? A gente sempre está buscando no outro a compreensão absoluta de nossas ideias, quando as exteriorzamos, não é mesmo? Mas isso existe? Tratados e tratados filosóficos já se debruçaram sobre essa questão. Não só nada conclusivos mas tão díspares quanto possível. Há quem diga que se algo não pode ser falado, não pode ser sequer imaginado. Eu penso que a respeito de tudo que é dito há um abismo entre a origem o a recepção. Há tantas palavras que para cada pessoa há um significado pertubadoramente individual, que as vezes parece que são linguagens diferentes aplicando os mesmos termos. O que é para você saudade, melancolia, felicidade, alegria, tristeza? Certamente, haverá quem tenha acepções semelhantes às suas. Mas quem pode assegurar que é igual? Procuro essas respostas que sei que nunca irei encontrá-las.

quarta-feira, dezembro 7

Viagem imprecisa

Há um certo sentir

que não faz sentido

Fora de mim.


Há torres e pontes

onde piso, território

estranho, como eu.


Não que o terreno

seja arriscado,

pedregoso ou pantanoso.


Mas é exigente

e não aceita descuidos

em rotas incertas.