segunda-feira, outubro 26

Vergonha dos pés


... Ana sentia-se realmente mal. Tudo o que desejava era retonar para casa e tentar esquecer o que passou. Assim, Ana sofre por antecipação. Acredita demais nas suas conclusões precipitadas, leva tudo muito a sério. Jaime, enquanto isso, decansava feliz. Tinha muito o que pensar. Aquela mulher linda ao seu lado…


Quando se trata de relacionamentos, mulheres gostam de projetos de longo prazo. Nada mais encanta aos ouvidos femininos do que ouvir de seu parceiro que ele tem o firme propósito de envelhecer ao seu lado, por mais rugas contabilizadas que isso possa significar. Aqui não se trata de nenhum elocubração, já ouvi uma amiga revelar o quanto a frase a conquistou, em um início de relacionamento. Por mais que o futuro sejam imprevisível, ou por tão insinceras possam ser essas palavras. Um voto de esperança na possibilidade de isso ser real a deixou muito feliz e confiante de dias em senil idade ao lado do atual companheiro.

Eu procuro entender esse lado das mulheres de só se satisfazerem com uma clara visão do horizonte distante. Afinal de contas, a natureza as reservou projetos de longo prazo. são nove meses uma gestação, criar um filho para a vida leva anos, e o tempo é menos generoso com as mulheres que tem prazos determinados para concluir sua fase fértil. Aos homens, todo tempo é tempo para procriar. Sem nenhuma necessidade de isso se transformar em um escopo arquitetônico. E mesmo quando as mulheres não desejam filho não se libertam de todo das tendências de longo prazo, creio eu.

Neste final de semana, fui assistir a peça "Vergonha dos Pés", baseada e muito fiel ao livro do mesmo nome de Fernanda Young. Peça divertida, muita a imagem e semelhança do que a autora tem feito-escrito ao longo dos anos. A obra original já tem 10 anos, mas continua no presente. Acho que as atuais gerações perderam a criatividade em renovar as formas de viver. Ou então está mais viva do que nunca a frase do Belchior ou de alguém, que ele plagiou que diz que ainda somos os mesmos e vivemos como os nossos pais.

Sem qualquer dúvida, essa perspectiva de longo prazo tem uma importância extrema na evolução do ser humano e de toda a sociedade. Não dá pra viver só com imediatismos de impulsos passageiros. É esse planejamento que nos proporciona nosso conforto e estabilidade física e emocional.

A personagem Ana, vivida por Juliana Knust, tem um passado freudiano, desconhece o pai e sonha em encontrar o marido ideal. porém se permite a uma aventura de final de semana e por isso passa a sofrer somente por imaginar que seu o parceiro apenas a usou, satisfazendo os básicos instintos. Ela quer o amor verdadeiro, que não se encontra em qualquer esquina. Jaime, por Danton Melo, tem virtudes e defeitos, ama Ana, mas tem uma vida complicada. Fernanda Young tem habilidade em transformar tragédias em comédias, sem apelar muito para o lado farsesco da coisa. As tragédias vistas à distância soam hiláricas, quase sempre. Divirti-me.

sexta-feira, outubro 23

Costa a Costa - O retorno

Com alguns anos de atraso, Costa a Costa chega a telinha da Globo. Rasamente referenciado, como bem pode-se perceber no vídeo http://tvverdesmares.com.br/cetv1aedicao/cetv-mostra-costa-a-costa/. Em 2007, eu mal tracei algumas linhas sobre os rappers cearenses, que podem ser lidas em: http://questao-fundamental.blogspot.com/2007/09/de-costa-e-costa.html Os caras tem pano pras mangas se coisas ruins não acontecerem. Eu ainda me transformo em um produtor musical.

quinta-feira, outubro 22

Na dúvida....

Não é regra, mas ao final de todo relacionamento a tendência é os circunstantes imaginarem que o homem teve a culpa pelo rompimento do elo. Se é a mulher que quer largar o cidadão, pensa-se logo o quão mal o parceiro é. Imcompreensivo, galinha, preguiçoso, desocupado, folgado. Não presta, enfim. Se é o homem o autor da separação, então é porque ele tem outra, não amou a companheira, aproveitou-se, foi só um golpe e agora que está bem de vida quer arrumar uma com a metade da idade. Se é que isso não aconteceu ainda. Não é assim? Estou muito enganado?

É por isso que achei estranho quando assisti A Mulher Invisivel aquele interesse todo da vizinha pelo ex-casado que foi abandonado pela esposa para viver uma aventura européia. O cara era certinho demais, e isso incomodava. Ninguém, em tese quer viver com alguém assim, que nunca falha, nunca se irrita e está sempre a disposição para aquele programa mais careta possível. Menos a vizinha, recém viúva de um casamento pra lá de Deus me livre. A regra é: homem largado não tem boa cotação no mercado amoroso. A não ser para algumas desesperadas que estão fazendo qualquer negócio para fugir do caritó. Que já perderam as esperanças nas rezas para Santo Antonio.

Mas filme não é pra ser visto como algo real, porque a realidade sempre tem cortonos bem mais estranhos que a ficção. Salvo se o filme for de PT Anderson em momento inspirado. Vale a diversão. Porque, afinal de contas, ninguém quer como marido, namorado, companheiro alguém que possa surtar a qualquer momento, creio eu. A não ser se o cara for um gênio ou zilionário, o que não é o caso.

sábado, outubro 17

A guerra

A guerra não muda.
Nunca é derrotada
Nunca realmente desaparece
nem nunca é superada.
Apenas afasta-se, recolhe-se para a as dobras escuras da mentes dos governantes; sussurrando e conspirando em seus ouvidos, fazendo-os ver inimigos aonde não há,alimentando sua ganância e fomentando batalhas.
A guerra não muda.

terça-feira, outubro 13

O que vai na cabeça dos homens

Coisas estranhas estão acontecendo na cabeça dos homens. Ou então está faltando muito assunto na mídia. Também, com essa profusão de canais de rádio, televisão, internet difícil criar coisas inéditas, atraentes.

Sei que quando era adolescente muitas vezes viajei com amigos para a serra, fazendas, sítios e praias. E faziámos coisas que hoje receberam nomes chics como rapel, tirolesa, tracking, coisas assim. Naquela época era só brincadeira, diversão. Com o passar dos anos, a idade foi aumentando e as brincadeiras passaram a ser aditivadas. Entramos para era total flex onde o combustível mais inocente era o álcool.


Hoje tudo passa a ser altamente espiritualizado. Ninguém dá mais uma caminhada sem um profunda reflexão interior. Esse final de semana, vi uma matéria de repórter que fez um conhecido roteiro turístico na América do Sul. E todos, dentro do vídeo, ficaram perguntando: “será que ela continua a mesma depois de tão importante trajetória?”. Quanta bobagem.


Povo quer chegar a Deus pela comida que come, pelo tipo de ar que respíra, pela quantidade de sola de tenis que gasta. Ou pelo menos, e esta é uma teoria conspiratória, estão querendo vender pacotes turísticos através do viés autoajuda (será que ainda tem hífen?).


E tem outros babados também. Pessoal de uma certa empresa se junta para andar em um bote inflável numa corredeira de algum rio Brasil afora. Ou andar de tirolesa, ou fazer qualquer infantilidade de adulto da atualidade. No final, saem todo o grupo com altos comentários sobre a importância da integração, participação, apoio e solidariedade de todos para o sucesso da empreitada. Será que antes do passeio ninguém sabia disso?


Tem também aquela frase que aprendi com uma prima professora de inglês “The diference between men and boys is the price of the toys”. Uns marmanjos que não tiveram infância compram uns carros 4x4 e saem em caravana destruindo tudo que vem pela frente em estradas já esburacadas, sacolejando por todo o percurso e ao final do percurso falam das maravilhas do contato com a natureza. Bem doida mesmo!

segunda-feira, outubro 12

Sobre pirataria, relacionamentos e assuntos banais

Pensei em um bocado de coisa pra escrever aqui, mas não me veio a cabeça nada que merecesse minimamente um post. Tipo Olimpíada pro Rio, que vai arrebentar com o restante do país, o prêmio nobel da paz pro Obama que prometeu matar o Osama, coisas ridículas assim. Não, nada disso merece nem uma linha. Nem meia.

Então vou ficar por aqui comentando alguns comentários. Achei interessante a reação das pessoas ao post que comentei uma das leis do poder. Falar pouco para que mesmo a maior asneira pareça original. Pelo jeito, e eu não me excluo, todos nós falamos mais do que deveríamos. E talvez seja por isso que a maioria das vezes a gente aparenta ser bobo, inconveniente, arroz de festa, coisas assim.

Vejo que os relacionamentos se desgastam muito mais pela proximidade excessiva do que pelas falhas que cada um comete, invariavelmente. Relacionamentos são seres organicamente vivos, que dependem e aos mesmo tempo são independentes das partes. Tem sinergias que só acontecem quando estão todos no mesmo polo. As ausências são tão ou mais importantes quanto as presenças.

Quero afirmar que quando trata-se de compartilhamento de bens culturais digitais não vai aqui nenhum eufesmimo. Em tese, pela lei dos direitos autorais, nós não poderíamos emprestar um CD ou um livro sem sofrer sanções. Mas isso é aceito apenas porque o alcance dessas midias, salvo se houver copia, é bem reduzido diante da multiplicidade que o meio eetrônico permite. Além de permitir a transferência para qualquer parte do mundo. Nos antigos long plays havia até um dístico: "A reprodução, execução pública e radiodifusão deste disco estão proibidas. Todos os direitos do produtor fonográfico". O artísta nunca era dono da obra. Então, chamar o compartilhamento de pirataria é que deveria ser o crime. Onde já se viu pirata não faturar nada através de suas ações criminosas? Quando alguém compra um cd, um livro, ou DVD está subentendido o direito de emprestar a outras pessoas. Ou não é assim?

sexta-feira, outubro 9

Estômago

Ontem assisti ao Estômago, filme que ganhou Festival do Rio de 2007, dirigido por Marcos Jorge. A oportunidade me foi concedida por uma amiga, que me passou por pen drive. Omito o nome para não inseri-la como cúmplice desse compartilhamento de bem cultural, tratado como pirataria por alguns.

Uma boa diversão. História de um nordestino, que chega a São Paulo em busca de fazer a vida e abraça a oportunidade de se transformar em um chef de cozinha. O filme, pude identificar, faz muitas referências a outras obras que tratam de gastronomia. E também ao Silêncio dos Inocentes.

Dá pra entender porque o filme ganhou o prêmio. O sul-sudeste maravilha sempre trata os migrantes saídos do lado de cima do mapa brasileiro como seres incultos, ingênuos, e de uma inocência de fazer dó, mas que em contato com a maravilhosa civilização de paulistas e cariocas aprendem o que há de melhor e pior na cultura ocidental.

Sinceramente, não consigo imaginar que existe alguém com mais de 15 anos que não saiba identificar uma puta, em qualquer cidade nacional. Mas cinema não é realidade. Personagens não são existem, a não ser na idéia de quem os pensou. O que vale mesmo é que a composição da história é convincente e divertida. Recomendo, e os senões não ocultam o brilho do filme, certamente.

quarta-feira, outubro 7

Leis do Poder

Ouvir dizer que alguém esperava mais de mim é muito estimulante. Sinal que a minha imagem está melhor do que eu realmente sou. Mas cada um só dá o que tem e só mostra o que é. Chances de frustar expectativas são sempre bem maiores do que a de atendê-las. Isso é fato. Mesmo porque somos só um e os outros são milhares. Se alguém quiser aprofundar no assunto, recomendo a leitura das 48 Leis do Poder, capítulo 4, ‘Diga Menos que o Necessário”, que é aberto com o seguinte texto:

"Quando você procura impressionar as pessoas com palavras, quanto mais você diz, mais comum aparenta ser, e menos controle da situação parece ter. Mesmo que você esteja dizendo algo banal, vai parecer original se você o tornar vago, amplo e enigmático. Quanto mais você fala, maior a probabilidade de dizer uma besteira”.

terça-feira, outubro 6

Os Homens que odeiam as mulheres

Defendo que filmes baseados em livros não devem ser comparados à obra original. São duas manifestações artísticas tão diferentes que melhor considerá-las independentes e absorvê-las como se uma existisse sem a outra. Há filmes que considero tão bons quanto os textos em que se inspiraram. Entre esses cito O Nome da Rosa de Umberto Eco, transposto para a telona sob a direção de Jean-Jacques Annaud, em uma produção alemã. São duas obras dignas dos mais elogiosos predicados. No mesmo nível de satisfação também estão a trilogia Senhor dos Anéis e Tubarão.

É claro que há enormes diferenças entre os livros e os filmes. Mas as películas também são formidáveis como diversão, mesmo perdendo a pretensa erudição das obras escritas. Aliás, o filme Tubarão do Spielberg até considero superior ao livro de Peter Benchley, diante da dramaticidade desenhada na telona. É adrenalina pura, o enredo é imposto, enquanto o ritmo do livro depende do leitor.

Mas o mesmo não acontece com a obra Os Homens que Não Amavam As Mulheres, do jornalista sueco Stieg Larsson. O livro é soberbo. O melhor que li no ano passado. Ontem assisti o filme baseado na obra, dirigido pelo norueguês Niels Arden Oplev, em uma produção sueca-dinamarquesa-alemã. Gostaria até ter assistido o filme sem ter lido a obra, para não incorrer em comparações involuntárias. Mas, ao que pude perceber, a película está longe de transmitir as mesmas emoções. É profundamente abreviada, sem que haja ganho de dramaticidade. Os personagens perdem profundidade e a gente sente uma certa tentativa de se copiar a estrutura fílmica norteamericana.

Mas está valendo. O filme também merece ser visto, mesmo sendo tão distante da história que lhe deu asas. Sobre o livro comentei aqui no blog em 3 de dezembro passado.