segunda-feira, maio 1

O valor da vida


Tempos estranhos e sombrios esses.  Faz algum tempo, que venho percebendo as tentativas de eliminação de marcos históricos. Não só de conquistas sociais, como as leis trabalhistas e previdência social, que estão sendo dizimadas, deixando grande parte da população perplexa e sem saber a quem recorrer. Outra parte, até que está gostando. Sabe aquele ditado de derrubar a casa só pra fazer poeira pro vizinho? Meio isso o que está acontecendo, fora a "faxina étnica" nos aeroportos e outros recintos que vinham sendo permeados pela emergente classe C. O sonho acabou?

A sanha e o desejo de pseudo gestores que assumiram postos políticos em suprimir o passado e criar uma realidade alternativa (termo inventado para subverter a lógica da mentira) são avassaladores. Em Sampa, a a arte o primeiro alvo do iconoclasta. Paisagens grafitadas viraram cenário cinza e insípido, apenas pelo desejo de apagar os marcos anteriores. Não é por desprezar as obras artísticas que isso foi feito. Exatamente o contrário. É por entender o quanto as obras formam o imaginário que elas são destruídas. É preciso atacar qualquer sinal de que já houve vida inteligente no passado. Só o futuro interessa a aqueles que querem subverter uma lógica social pré-existente.

Ciclovias criadas para proteger um transporte não poluente, rápido e barato com objetivo de deslocar um grande contingente da população, vão se transformando em sucata. Nada do antigo presta, e deve ser destruído o mais rápido possível para abrir espaço ao novo tempo. Mesmo que à custa de vidas, não importa. Ser bom gestor é ser capaz de devolver uma cidade ao atraso, dando-lhe a aparência de algo moderno. Então, se houve redução de velocidade e de vida nas rodovias, mas isso não faz parte do novo universo diegético, a carnificina em forma de liberação dos limites deve retornar. E todos acharam moderno, como moderno é a desqualificação do valor da vida.

(Ao meu amigo Jayme que me estimulou o retorno)