domingo, outubro 24

Muito além de um Rojas

Tudo bem! Vocês podem entregar as principais empresas nacionais em troca de gordas propinas, podem sucatear as universidades e o restante do ensino público, podem congelar salários de servidores, podem deixar serem destruídas as rodovias, podem continuar favorecendo o capital internacional, podem deixar o país em eterno endividamento com o FMI, podem arrebentar com os pobres, aumentar o número de miseráveis, ampliar as desigualdades sociais e deixar uma geração sem esperança. Só não podem liberar o aborto. O resto a gente aguenta.

Parece que é isso que parte de uma nação está dizendo ao escolher uma certa candidatura que pretende tratar o país como se fosse uma horda de idiotas, sem nenhuma possibilidade de discernimento. Se o bom senso prevalecesse essa eleição seria a zero. 100 milhões de votos contra nenhum. Nem o #serrarojas votaria em si mesmo, sabedor que é das suas programadas tretas quando de posse do poder nacional.

Mas a vida, infelizmente, não é assim. Há uma multidão que se rende a discursos insólitos simplesmente porque reveste de infabilidade determinadas lideranças. Se o meu pastor falou, se o meu padre falou, se o meu prefeito falou é verdade, só pode ser verdade. Aliado a isso há uma mídia que anda de braços dados com o tucanato, vislumbrando, com a tomada do poder, gordos contratos. Em vez de serem codificadores das representações da realidade, os meios de comunicação passaram a gerar discursos que ajudam a defender e referendar candidaturas tucanas. A imprensa me parece que retornou ao século XIX, e início do século passado, quando representava partidos políticos ou ideologias, abertamente. Tinha o jornal republicano e o monarquista, o do PSD e o da UDN, O escravocrata e o abolicionista. Agora, são todos os meios de comunicação, ou quase todos, árduos defensores do neo liberalismo.

Só que agora, ao contrário daquela época onde as cartas eram marcadas, as coisas são dissimuladas para facilitar o engodo. A mídia faz de conta que é neutra para ter um maior poder de destruição como discurso majoritário. A ideia é fazer de coisas irrelevantes, como a liberação do aborto (que não depende da presidência para acontecer) assunto de primeira grandeza. Se é capaz de tirar votos, então que se explore até que todo o desgaste possível tenha sido realizado.

Mais ridículo ainda é tentar transformar em agressão severa um incidente de campanha. Vai que Serra tivesse mesmo sido atingido por uma pedrada e estivesse neste momento em coma. Que provas foram apresentadas sobre a autoria do atentado? Alguém apareceu como o autor do pseudo crime? Por que a Globo, que é capaz de nominar de simples acusado um assassino, como o caso do goleiro Bruno, saiu logo disparando e dizendo que tinha sido um petista quem arremesou uma suposta e pouco real bobina adesiva? E se foi um militante tucano? Ou uma armação do próprio Serra para se sair de vítima? Ninguém trabalho com essas hipóteses, que são normas de qualquer manual de jornalismo.Nenhum repórter minimamente preparado pode comprar versões que não se sustentam. Bem, os tucanos querem o fim da profissão de jornalista, mas isso já é outra história...

Se persistia ainda alguma dúvida sobre o comportamento da rede Globo em questões políticas, acho que agora não há com se ter ainda. Sabemos o que foi o caso Proconsult, quando a rede quis sustentar a vitória de Moreira Franco contra Brizola, a famigerada edição do debate entre Lula e Collor, mas agora todos os limites da ética foram ultrapassados.

Inventou-se um atentado sem nenhuma prova, uma agressão aonde não existe nenhum corpo delito, o candidato não mostrou nem o roxo da suposta pancada e foi introduzida a figura de um Molina, um perito policial que nunca ouviu falar em trucagem de vídeo. Como é que isso tudo pode acontecer e se fazer de conta que tamanho embuste não é um crime de lesa pátria?

O pior ainda é que toda a revolta dos que viram o mesmo que estou vendo se volta para Wiliam Bonner e Fátima Bernardes. É claro que eles têm a sua parcela de culpa. Assim como os nazistas que cumpriram ordens. O casal Telejornal Serra não deveria, em nome da ética, participar de um teatro que visa a ludibriar toda uma nação. Mas os grandes responsáveis são uma quadrilha formada há 200 anos no país, se revezando de pai para filho, com o objetivo de se locupletar da miséria da grande maioria da população.

Infelizmente, por total incompetência da campanha de Dilma Roussef, pessoas como o Serra ainda vão amanhecer em novembro com uma aura de honestos, probos, trabalhadores e competentes aos olhos de muitos. Se fosse eu a comandar essa batalha pelo lado petista, Serra não teria nenhuma condição sequer de se candidatar a síndico de seu condomínio.