terça-feira, maio 29

Nem tudo que ulula é o óbvio


Muito angu em pouca farinha


Fecha-se um televisão na Venezuela. Arrepia-se o mundo democrático-capitalista. É interessante como o simbolismo de qualquer situação tem muito mais peso que a realidade dos fatos. Sem nem se pestanejar, os arautos da livre iniciativa acentuam de forma veemente que está se afrontando a liberdade de expressão no vizinho país de Hugo Chavez (que é muito parecido fisicamente com um conhecido meu, diga-se de passagem). Para mim, são só definições abstratas, sem eco no mundo real. Acho que estão buscando razões por mais estapafúrdias que sejam para apear o cara do poder.

Se gente for para o extremo oposto, o país símbolo da liberdade de expressão, os Estados Unidos, vamos nos deparar com a House Commitee for the Investigation on Um-American Activities, (Comissão para Investigação de Atividades Anti-Americanas), que perseguiu, prendeu, censurou, e outras coisitas mais. E, ao que se sabe, nunca houve nenhuma mea-culpa da parte de quem impingiu este ritmo na vida da sociedade ianque. Gente como o ator Humphrey Bogarth, do elogiado filme Casablanca e a atriz Lauren Baccal, foram alvos desta ignomínia.

Nos Estados Unidos o diretor de documentários Michael Moore caiu em desgraça em grande parte da mídia, notadamente na emissora diretíssima Fox (se é se o país todo não é do mesmo jeito) porque expôs de maneira inequívoca o coluio existente entre as famílias Bush e a Bin Laden. Aliás o George praticamente assegurou a sua reeleição montado na popularidade adquirida a partir de uma fantasiosa guerra ao terrorismo. Osama, incapturável , transformou-se no principal cabo eleitoral da campanha republicana..

Hoje geram-se palavras conceituais para definir o lado do bem. O bom é quem é republicano e defensor dos direitos humanos e do estado democrático de direito. Quem se colocar contra estas abstrações está irremediavelmente do lado do mal. Seja em que momento for. E coisas parecidas com a Santa Inquisição imposta a judeus, mulçumanos, gregos e troianos continua a se repetir disfarçada das mais variadas matizes repressivas.

Em nome do Estado democrático de direito enforcou-se Sadam Hussein, coitado. Mas nada acontece a aqueles que criaram uma guerra e trucidaram milhares de iraquianos civis e inocentes, enquanto os canais da imprensa livre tratam estas mortes como efeitos colaterais do justíssimo combate ao terror mundial. Prova-se que não havia armas de destruição em massa no Iraque e o principal motivo da invasão ianque passa a ser apenas um detalhe. Não importa para que lado corre o rio. O lobo vai ser sempre o lobo e a ovelha nunca passará disso.

Canal de televisão na Venezuela, no Brasil, nos EUA, na Europa e na casa do chapéu é sempre uma concessão pública. Nos anos sessenta, alguns heróis da comunicação instalavam emissoras de rádio e de tv piratas (que depois se tornou nome de programa da rede Globo) além das águas territoriais (quem em alguns países não vão além de 12 milhas náuticas) para poder transmitir livremente. As antenas fixadas em terra firme eram e em muitas nações ainda são, de controle efetivo do Estado. Vide a BBC de Londres, só para citar a mais famosa.

A frase lançada pelo iluminista Voltaire, (de batismo François-Marie Arouet) "Posso não concordar com nenhuma das palavras que você diz, mas defenderei até a morte o direito de você dizê-las" é tida como verdade absoluta. Afinal de contas quem desafiaria contradizer tão renomado filósofo. Mas na prática, isso não existe. E não deve mesmo existir. Serão que neo (ou velho) nazista, pedófilo, KKK, racistas e coisas semelhante que o valham tem mesmo o direito de fazer proselitismo de suas idéias doentias? De sã consciência, qualquer um diria que não. Ou então a sua consciência não seria sã..

Mas vamos em frente. Um dos princípios do estado democrático de direito é o respeito às leis, de forma universal. E se as leis determinam que uma estação de tv é concessão, é porque o Estado está permitindo este direito a alguém e se reserva ao direito de subtraí-lo se esta concessão trair os interesses nacionais. ( da nação, bem dito, não do Estado).

Mas a porca começa a torcer o rabo quando se define quem tem o direito de dizer o que são os interesses nacionais. O bom e velho estado democrático de direito diz que é o chefe do Estado, quando este eleito pelo povo. E a vontade da minoria deve ser submetida a da maioria. A princípio Hugo Chavez teve, no voto, o direito para proceder toda esta celeuma, se levada em consideração a fria letra da lei. Mas isto não interessa, pelo menos circunstancialmente, a ser discutido pela mídia.

Se querem condenar o presidente venezuelano por interditar um canal de televisão, primeiro é preciso avisar aos incautos que ele está obedecendo rigorosamente o texto constitucional e vamos tratar de mudar a lei. Só assim, a Fundação Casa Grande, situada no Cariri Oriental, poderá colocar um canal de tv controlado por crianças e adolescentes. Enquanto isso não acontece, os equipamentos vão continuar encaixotados. E não me peçam para defender o Estado Democrático de Direito. A minha consciência, pretendendo ser sã, não me permite.

Para quem leu até aqui. A foto acima é do Humphey

segunda-feira, maio 28

Quem viu, viu!







Quem não viu, perdeu. Show do Otto

sábado, maio 26

Agora só falta você



Hoje, que interessante, assisti a uma entrevista de Rita Lee Jones. Para quem só conhece essa paulista sexy (sagenária), aviso: Ela mudou muito aos longos dos anos, na em suas priscas ela era sinônimo da mais valente rebeldia de geração. Acho que foi a primeira cantora-artista a ser presa por porte de droga da história, apesar de não ser a única usuária. Tem quem fale que o Pato Fu, hoje, seria a versão do antigo Mutantes, do qual a Ritinha era a crooner. Mas isto é total falta de conhecimento. Na realidade, aquele grupo paulista de saudosa memória era o que mais de vanguarda havia época, anos 60, período em que era heresia algum cantor/cantora/banda se apresentar acompanhado de qualquer instrumento valvulado. Só os Mutantes se dispunham a ser vaiados com seus acordes distorcidos nos festivais da Record pré-igreja universal . Enquanto que o Patu Fu é o porta-voz da papauera pop-romântica, o que de mais conservador possa existir.

Este preâmbulo segue dizendo que, durante a entrevista, ela se confessou alcoólatra e toxicônoma, para usar as próprias palavras que empregou. E toda esta piração teve um controle com o advento do casamento em sua vida, façanha que já perdura longos 30 anos. Chave da longevidade matrimonial, segundo ela mesmo afirmou: obedecer incondicionalmente ao seu marido Roberto de Carvalho, por quem é apaixonada até hoje e de quem recebe, semanalmente flores. E eu que não gostava desse cara exatamente por ter encaretado completamente as músicas de sua esposa. De Ovelha Negra, Ritinha passou a compor decadências melosas como Banheira de Espuma e Mania de Você, que até hoje fazem parte dos flash backs musicais que pululam nas rádios jabás FM, Brasil a fora.

Aí fico querendo saber se obedecer de forma tão fidedigna ao marido traz estabilidade ao casamento, mesmo quando este par é formado por dois maluquetes drogadictos de outrora, oriundos dos tempos de quando experimentar naturais e químicos era condição sine qua non de todos os vanguardeiros da música mundial. (É claro que depois se soube que os mais aparentemente caretões da música, como Elis Regina, Nelson Gonçalves e outros também eram adeptos dos anabolizantes neuronais).

Mortes precoces por conta de overdoses a parte, a verdade que surge é a negação da felicidade movida a aditivos. O grande lance é tirar prazer do mundo totalmente limpo. É se realizar como ser humano se nutrindo das razões seculares, como compor uma família, prociar e torcer pelo sucesso dos netos. Rita lee que o diga, agora que chegou à casa dos sessenta, casada a trinta e se dizendo vanguarda, em meio a um mundo onde o padrão são casamentos efêmeros.

Correr de noooovo!



Frase dita pelo Rubinho (argt!) nesta sexta-feira...

"É um dos dons mais positivo que tenho. Eu consigo fazer um carro ruim ficar melhor".

Eu afirmo... Ele consegue deixar o carro melhor quando dá a vaga para outro. Vide Felipe Massa na Ferrari.

sexta-feira, maio 25

quinta-feira, maio 24

A carne é a nossa


O país está quase voltando a normalidade. Os primeiros membros do poder judiciário começaram a invocar o "estado democrático de direito" para libertar todos os bandidos, corruptos, propineiros, vagabundos e malacas presos pela operação Navalha da policia federal, que tem como pano de fundo o assalto secular aos cofres públicos. É sempre assim. Quem é pobre, não tem as costas largas e rouba pouco amarga xilindró dias e dias sem fim. Aos que se enfronham com os bandidos assentados no poder, cem anos de perdão.


Mais um fato histórico que vem confirmar a tese que todos os males deste país tem como responsável primeiro o poder judiciário. Não adianta. O mais bem intencionado dos cidadãos não encontra eco na justiça. Qualquer bandido com dinheiro pode ser autor de todas as safadezas, contratar um advogado com esquema de juizes no bolso, e esperar livre como um passarinho os prazos se esgotarem e as punições prescreverem, conforme preceitua a lei.


O mais emblemático disso tudo é um ministro do Superior Tribunal de Justiça, que deveria ser o guardião da legalidade, invocar o estado democrático de direito para soltar os bandidos. Ele sai acusando a Polícia Federal de atos ilegais para defender esta tese. Claro que roubar, dilapidar, permanecer impune diante de falcatruas contra o patrimônio público merece qualquer punição. Apesar de o que a PF almeja é bem simples: manter presos os envolvidos nos atos criminosos apenas impedir a destruição de provas ou coluios dos integrantes de quadrilha.


O que se vê, que se assiste nos noticiários, a prisão de peixões corruptos me parece com o clima de copa do mundo. Todos vibram, se sentem menos infelizes, acreditam que alguma coisa vai mudar na vida do país, mas no final fica só mesmo a ressaca. A gente lembra de tantos outros fatos, onde parecia que o paraíso estava próximo, que deixaram só o gostinho de ilusão.


Ainda está bem acesa na minha memória quando a mesma PF apreendeu centenas de quilos de cocaína em um caminhão carregado de inhame e todos os traficantes foram soltos através de uma liminar de um juiz federal, alegando provas conseguidas ilegalmente. Aquele velho estado democrático de direito inventado para livrar bandido de cadeia. Alguém emitiu opinião contrária a aquele ato do juiz em um jornal local e acabou sendo processado e condenado por falar o que pensa. O mais interessante é que a instância imediatamente superior ao juiz revogou a liminar que libertou os bandidos, quando estes já estavam todos bem longe e livres para novos delitos. Ou seja, o juiz realmente cometeu um crime ou, melhor dizendo, contribuiu de forma inequívoca para a preservação do tráfico. Se graciosamente ou mediante compensação financeira, ninguém sabe.


E haja a se fazer críticas generalizadas contra políticos por conta das mazelas encontradas nas mais diversas operações policiais como a navalha. Os comentaristas e analistas descascam em cima de deputados, prefeitos, governadores, senadores, por seus atos improbos, os mais variados, praticados ao longo dos anos. Como se tudo pudesse se resolvido com uma boa dose de vergonha na cara. Não é assim que o mundo real funciona. O principal mantenedor desta patifaria é mesmo o poder judiciário, que assegura o estado democrático de direito para que ninguém se encontre com um carcereiro. Um velho filme que se repete ao longo dos séculos neste país.

quarta-feira, maio 23

Pa-tro-pi


São tantos engenhos, engenhocas, descobertas científicas, biológicas, astronômicas, eletrônicas, sociológicas que a memória iconográfica não acompanha. Semana passada deixou este mundo Pierre-Gilles de Gennes, cidadão francês, descobridor do cristal líquido e vencedor do Nobel de física em 1991. A sua partida não mereceu nenhum registro ou destaque, mesmo com a sua descoberta estando presente no cotidiano de qualquer ser minimamente civilizado.

Está cada vez mais difícil se tornar notável. Ou melhor, se notabilizar por construir algo de útil. Mais fama ganha funkeiros e rappers do mundo todo, produzindo letras infames que retratam a degradação da sociedade, da ética, da honradez e outros itens tão comuns no cotidiano de tempos idos.

Mas como tem gente querendo aparecer às custas de atos totalmente inúteis! Certa vez descobri que tramita no Congresso Nacional projeto de lei que quer expulsar do vocabulário cotidiano do brasileiro palavras originárias de outro idioma, que não do português invasor. Como se nós tivéssemos algum compromisso de fidelidade cultural com o europeu que anos a fio nos espezinhou, depauperou parte das nossas riquezas, introduziu a escravidão dos negros e até hoje fecha as portas do velho continente para os brasileiros que buscam melhores dias naquelas paragens.

Não consigo esquecer de uma certa professora de sociologia que abriu a boca para criticar a recém introduzida comemoração do dias das bruxas por ser uma tradição anglo-saxônica. Como se todas as outras não fossem também originárias de outras plagas. O que há de brasileiro nas festas de Natal, são João, Páscoa, Reis, Carnaval ? Todas tradições importadas.

Eu, sinceramente, não me sinto confortável em chamar mouse de rato. Ou head phone de fone de cabeça. Se querem trazer ao país uma cultura genuinamente nacional, que antes façam uma sopa cultural minimamente palatável ao nosso jeito de ser. Enquanto isso não acontece, deixem-nos ser o que podemos ser.

quinta-feira, maio 17

A tribo Mamãeuquero



Quando estudei em colégio, as nações índigenas se dizia no plural. Eram os tupis que habitavam o litoral e os tapuias que ocupavam o interior, que se subdividiam em diversas outras tribos como os xavantes, os caiapós, os bororós, os goytacazes, que ainda hoje dá o resgatado nome da cidade de Campos, no Rio de Janeiro, e tantas outras tribos. Aprendíamos que os índios locais eram descendentes de povos asiáticos, portanto imberbes, possuíam traços faciais e cabelos de feições orientais. Mas depois do advento da pastoral indigenista e do jornal Folha de São Paulo tudo ficou diferente. Os nomes dos índios mudaram e não mais aceitam a flexão do plural. Sabe Deus e o professor sabe-tudo Pasquale o porquê. Agora é tudo no singular. Segundo o manual de redação agora são “os índios xavante”. Ou a “tribo dos Caiapó”. E haja a imprensa maria-vai-com-as-outras a imitar esta pseuda erudição. Todos os penas se achando pertencente das altas paneladas da imprensa nacional, e porque não dizer internacional.

Em termos de indigenismo, a coisa não para aí Tem também a tal pastoral que começou a descobrir por todos os lados descendentes puros e diretos dos primeiros habitantes do país. Se antes havia cablocos, cafusos e mamelucos, agora é tudo índio. Na mais profunda acepção da palavra. São indígenas negros, mulatos, brancos, barbados, peludos, de tamanhos e cores para todos os gostos.

Também havia aprendido, (e que agora preciso desaprender e ainda não consegui), já no tempo de faculdade, que para se pertencer a uma nação, é preciso se aceitar como tal e ter uma identidade cultural. Os índios que a gente vê por aí, pelo menos em nossas cercanias, não pronunciam outro idioma que não o do português invasor, não tem nenhum artesanato que lembre o passado das ocas, ou qualquer atividade minimamente artística que dê algum traço de pretendida vocação indígena. Pelo contrário. Os toréns que vi por aqui não passam de arremedo cantado todo em português, com alguns cidadãos fantasiados de palha na cintura e pena na cabeça, que nem a gente fazia quando era dia do Índio, nos bancos do jardim da infância.

Eu tenho muita vontade de saber porque não se recorre a um exame de DNA para provar ou comprovar cientificamente a origem desta gente travestida. Tenho certeza que se este procedimento fosse adotado, ia sobrar uns palmos de terra também para mim, e eu ia plantar mamona e produzir biodiesel. Os mesmos antropólogos de plantão que querem por fim da força criar etnias nativas sabem que não há ninguém neste lado do Atlântico sul que possa se arvorar de que tem sangue exclusivamente europeu. Salvo os que chegaram depois da metade do século XX, creio eu.

Se a coisa é assim como eu penso, todo este papo de índio só tem mesmo a razão ecônomica para existir. São alguns espertinhos que buscam tirar vantagem desta história, em buscar de se tornarem os próximos latifundiários devastadores do meio ambiente, como já acontece em diversas regiões do país. Ninguém se iluda, ninguém está imune ao capitalismo selvagem e às práticas predatórias em busca de alguns trocados ou botins. E não são só os que se reclamam índio que se aproveitam. Há toda uma estrutura de organizações não-governamentais também se locupletando da situação e andando em bonitos e caros carros 4x4 importados.

terça-feira, maio 15

Aonde estão as nossas bandeiras?


Que sofremos discriminações por morar na parte alta do país, isto é fato. E por todos os lados. Até de nós mesmos. A gente pode perceber claramente tais manifestações no futebol. Lembro-me claramente o Bira, baixista do Sexteto 11 e meia, ser alvo de galhofas do Jô Soares por torcer por times em praticamente todos os estados do país. Grêmio em Porto Alegre, não sei o quê, em São Paulo, tal e tal em Minas e na Bahia, e por aí vai. Enquanto o gordinho ia fazendo as perguntas das preferências do baixistas, o restante do grupo musical caía nas risadas. Tudo era galhofa. Para quem nasce no Rio ou São Paulo é totalmente non sense abraçar qualquer preferência por uma equipe além das fronteiras do seu próprio estado.

Aqui também devia ser assim. Mas, como todos sabemos, não o é. Creio que deve haver algum complexo de inferioridade no povo daqui. Ou, pelo menos, nos torcedores de futebol. Cada um tem uma paixão incomensurável pela cores das equipes paulistas e do Rio de Janeiro. Sem nunca ter morado ou sequer passado uma temporada nas terras do Sudeste. São tão botafoguenses, flamenguistas, corintianos, sampaulinos ou santistas quanto o mais genuíno torcedor-símbolo destas equipes. Eu já cheguei ao cúmulo de presenciar uma carreata em plena cidade de Sobral (que guarda traços da nobiliarquia nacional) para comemorar a conquista do campeonato de futebol do Rio de Janeiro pelo Flamengo. Cheguei a comentar o quão espécie isso me causou, mas fui informado por alguém que percorre outras tantas cidades do interior que manifestações de tal sorte são muito comuns em todas as paragens daqui.

Vejam só! Ainda hoje estava assistindo um programa esportivo de determinada emissora televisiva sediada no Rio de Janeiro, quando certo comentarista começou a citar os craques que estão disputando a primeira divisão do brasileirão, este ano. Falou o nome de uns dez jogadores, ou mais, todos de times cariocas ou paulistas, apesar de ter na primeirona também equipes de Minas, Rio Grande do Sul, Pernambuco, Goiás, Paraná e Santa Catarina. Será que ele fez isso por algum jabá? Ou é porque o Brasil que conta limita-se a estes dois estados?

Certa vez comentava com um amigo, também apreciador do esporte bretão, mais do que eu até, sobre o que eu considero um verdadeiro colonialismo esportivo esta estória de ficar torcendo por times do eixão rio-sp. Mas para ele, nada mais natural que quer ter outras paixões futebolísticas fora das divisas estaduais e em várias outras unidades da federação (ele mesmo confesso flamenguista de carteirinha, na mais cafona acepção da palavra ). Ai eu perguntei: E por qual time você torce em Rondônia e em Macapá? Claro que ele não sabia nem os nomes dos clubes de lá! É esta a diferença que nos separa do Brasil supostamente desenvolvido.

(post em defesa da presença de bandeiras em nossos estádios)

PS. A foto é da Torcida Uniformizada do Fortaleza, em Roraima (vejam só!)

segunda-feira, maio 14

No princípio era o verbo. E no final?


Nada do que você vê, do que você sente, do que você ouve, ou qualquer informação que venha dos seus sentidos é verdadeiro. Tudo não passa de um processamento de informações do meio por uma limitadíssima máquina. Nós mesmos. Enxergamos pior do que os pássaros, sentidos odores felinos, ouvimos menos do que os canídeos. Facilmente perdemos o nosso senso de orientação. Uma tartaruga marinha ou um salmão é capaz de localizar o exato local onde nasceu anos depois para procriar e garantir a perpetuação da espécie. Os bebês, e até as crianças guardam nada ou muito pouco de um passado recente. Pássaros como pombos correios são capazes de voar centenas de quilômetros de volta ao seu lar, sem usar bússola, gps, ou mapa.

O que nos faz superior como espécie animal é o nosso cérebro com nossa capacidade de interpretar dados. Mas se nada do que pensamos ou refletimos também não tiver amparo da realidade suprema? A gente imagina sólido como sólido, líquido como líquido, gasoso como gasoso. Mas se estas três formas sequer existissem? Basta lembrar que pela química convencional existe mais nada em qualquer matéria do que substância concreta. Os espaços entre os elétrons e os núcleos dos átomos são bem maiores do que o tamanho das partículas. Já li, não sei bem aonde, que se todos estes espaços fossem suprimidos, o planeta terra não teria tamanho superior a uma dessas laranjas amarelinhas que se compra em qualquer feira.

Então, se há tanto vácuo na própria matéria porque simplesmente não atravessamos um parede ao invés de procurarmos uma maçaneta para abrir uma porta? Segundo os especialistas do ramo, é porque os átomos formam determinado campo magnético que torna os corpos impenetráveis. Eu tenho cá minhas dúvidas sobre estas teorias. Para corroborar com o que eu penso, é bom que se diga que o mais avançado estudo em termos de física é o princípio da incerteza. Então, na realidade, tudo é incerto e possui endereço incerto e não sabido. Apesar dos pesares do mundo.

Até agora, estamos no campo do tangível. Mas isto dá uma pequena amostra do quanto estamos longe de conhecer a verdadeira verdade, como diria Tony Garrido, nos primórdios do Cidade Negra. Quem tiver interesse em conhecer como realmente é o universo não dará grandes passos se pensar só com os miolos entre as paredes cranianas, creio eu. Nem com os de 10% normalmente atribuídos como massa pensante cerebral, ou com qualquer outro coeficiente que exceda a este quantitativo.

Há de se aprender a captar o que universo realmente tem para nos mostrar com outros olhos. Não falo do terceiro olho dos budistas. Mas certamente será bem mais avançado do que o já falado, pesquisado, estudado, especulado, imaginado até hoje. Não caminhamos até tão longe para apenas contemplar.

Uno pilota nostro


Parece que agora os brasileiros finalmente tem para quem torcer na Fórmula Um, de novo. Desde a morte de Ayrton Sena, no longínquo dia primeiro de maio de 1994, quando o tricampeão sobrou da curva Tamborello, em Ímola, que o irritante Gavião Bueno tentava convencer os incautos de que o Rubinho (no diminutivo para demonstrar o real tamanho dele) poderia preencher a lacuna. Além de pouco talento, ele nos envergonhava a cada pódium fazendo um arremedo de passo de sambista bêbado diante das câmeras e do mundo inteiro. (Isso só teve fim quando um determinado comentarista esportivo, em um certo programa de televisão pediu para que o pseudo-piloto parasse com aquilo. Graças a Deus que ele atendeu!!).

Nenhum outro piloto brasileiro campeão mereceu o tratamento no diminutivo. Nelson Piquet nunca foi nelsinho (se bem que o filho dele o é), Ayrton Senna nunca foi airtinho ou Emerson Fittipaldi foi emersinho. Só mesmo os pequenos merecem serem nominados desta forma. Pelo menos do que diz respeito a campeões de F-1.

Mas se ele é pequeno no nome, sobra na megalomania. Quando sentava no banco da Ferrari queria passar a falsa idéia de que não era o segundo de Schumacher. Esse sim, piloto de verdade. A cada nova prova quebrava o carro, condenava a Ferrari pelos péssimos resultados e depois acusava os jornalistas de terem interpretado errado as funestas palavras dele para ficar bem na foto com os ferraristas. Como se pudesse enganar todos o tempo todo.
Agora está correndo em um carro a sua altura (ou baixura). E mesmo largando em 12º domingo passado, na Espanha, disse que ia partir para cima dos adversários. Moral, terminou em 10º, apesar das quebras que ocorreram a sua frente. Não passou ninguém e ainda foi ultrapassado. Mas é claro que a culpa é do péssimo carro que dirige!!!. Para rubinho, não tem equipe que resolva.

Bem diferente de rubinho (que é nome de estacionamento, enquanto os demais batizam autódromos, segundo a lenda) é Felipe Massa, que nunca será felipinho. Assume os próprios erros, não faz previsões mirabolantes, e este ano já venceu duas provas, das quatro disputadas. Finalmente, o Gavião não precisará encher os seus ouvintes de empulhações, além do necessário. Já bastam as leituras de pensamento dos pilotos que a cada prova ele exercita, erradamente, é claro.

Para os aficcionados pela F-1, vale a pena ler o texto publicado hoje na Folha São Paulo:

visita indesejável
Feroz, Massa bate Alonso na Espanha

Brasileiro conquista sua quarta vitória na F-1 em manobra arriscada na 1ª volta e desperta reclamações do bicampeão

"Se alguém foi agressivo foi ele", defende-se o ferrarista, que largou na pole position em Montmeló e também fez a melhor volta da corrida

TATIANA CUNHA
ENVIADA ESPECIAL A BARCELONA

Eram 15h38 em Montmeló, o sol castigava os 140.700 torcedores que lotavam o circuito. Nas arquibancadas, alguns já deixavam seus lugares. Os que ainda resistiam aplaudiram timidamente quando viram Felipe Massa cruzar a linha final.Quem estava no Brasil não acompanhou ao vivo a quarta vitória dele na F-1, a 92ª de um brasileiro na categoria, ontem no GP da Espanha. Neste mesmo instante, a TV transmitia a última missa do papa Bento 16 na sua visita ao país.

Mas não foi só isso que o Brasil não viu. No pódio, ladeado por Lewis Hamilton, o segundo, e o herói local Fernando Alonso, o terceiro, Massa tinha um olhar diferente, quase agressivo. Com os punhos cerrados, vibrou.Olhar fixo no horizonte, acompanhou o hino.
Estava satisfeito. Havia cumprido à risca o roteiro traçado no dia anterior, quando fizera a pole: largar de maneira agressiva e manter a ponta a qualquer preço, já que este circuito quase não permite ultrapassagens.

E foi o que fez. Na luta pela primeira curva, não deu chance a Alonso, que vinha por fora. Manteve o traçado, e os dois se tocaram. O espanhol saiu da pista e perdeu duas posições.
"Não queria desperdiçar a pole como na Malásia", falou Massa. E foi justamente essa a chave para sua vitória, a segunda seguida, de novo completa: além da pole e do triunfo, ainda cravou a melhor volta.

Depois, na entrevista coletiva, exibiu um outro lado. Mostrou agressividade também fora da pista. Sentado a seu lado, com cara de poucos amigos, Alonso repetia que Massa havia exagerado em sua manobra.

"Eu estava bem à frente do Felipe. Infelizmente, ele não achou a mesma coisa, e acabamos nos tocando. Mas tivemos sorte porque em 99% das vezes teríamos os dois ficado ali. Isso é perigoso", reclamou Alonso.

Depois de rir, fazer caretas e balançar a cabeça ao ouvir Alonso, Massa foi incisivo.
"Foi uma manobra arriscada dos dois. Mas eu estava por dentro. E, se estou por dentro, não vou me mexer. Se alguém foi agressivo, foi ele", disse. "No dia em que eu fizer besteira, vou ser o primeiro a falar. Sempre fiz isso. Mas, desta vez, não errei. Se o Fernando quiser falar, discutir, eu vou até o fim."


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domingo, maio 13

O hoje não é o amanhã


Há algum tempo, vários anos para não ser tão impreciso, lembro-me de ter encontrado uma amiga, que havia passado uma temporada estudando na França, o berço da democracia, como se conhece hoje. O Brasil, na época, era noviço em termos de eleições diretas e ainda se respirava nas universidades os ares esquerdistas. O muro de Berlim, se não me falha a memória, ainda não havia caído, nem a Perestroika era papo de bar. Nos bancos da faculdade, ou se era de esquerda, burguês ou capacho dos capitalistas. Não havia meio termo. As tendências à gouche, trocavam acusações entre si, sobre quem realmente defendia os interesses do proletariado ou era um mero reformista. Quer dizer, entre os esquerdistas não se entendia. Tanto foi assim que uma determinada tendência trotskista rachou no meio por conta de uma eleição na França. Um lado apoiava o socialista François Miterrand e o outro lado afirmava de mãos postas que ele não passava de um fantoche do sistema capitalista.

Alonguei-me um pouco do primeiro parágrafo só para dar um clima do que se passava nas bandas de cá. O que conta mesmo foi a conversa com a minha supra citada. Eu perguntei a ela quais eram as idéias políticas que o velho e experiente mundo estava gerando naquelas datas. Queria saber o que os bancos universitários do além mar conspiravam sobre o futuro da humanidade. (É claro que a turma só conspira. De concreto, bem pouco). Ela me contou que a próxima revolução que se avizinha seria a da comunicação. O mundo iria se transformar pela linguagem.

Depois que ouvi isso, nem abri a boca para argumentar nada. Aquilo era o soco no estômago de alguém como eu que acreditava nos Beatles e nos Rolings Stones, que idolatrava, mesmo sem entender muito o que significava os ícones, Che Guevara, revolucionários chineses e por aí vai. Não era nada do que eu queria ouvir aquela tal revolução. Pelo contrário, me cheirou pirotecnia burquesa para atrair os simpatizantes dos pensamentos socialistas, ou os ignorantes de todas as faixas que freqüentam o chamado nível superior do ensino e se acham o supra-sumo da elite pensante do universo.

Mas o que antes eu achava a fina flor da fuleragem, hoje, anos e anos depois revisito, e passo a arranhar o entendimento do que esta suposta revolução pela comunicação possa vir a ser. Principalmente depois que saiu uma reportagem da revista Veja, sobre determinados índios da Amazônia que são altamente limitados na forma de pensar por absoluta falta de vocabulário. Não têm nomes para cores, nem noção do ontem ou o dia de amanhã porque não há no dialeto deles estas palavras. Não conhecem frases subordinadas, o que os deixam sem noção de causalidade ou conseqüência. Não possuem nenhuma lenda ou explicação para a origem da tribo. São também sem noção de qualquer divindade. Vivem em estado realmente primitivo, praticamente só instinto, inerente a qualquer animal. São tão diferentes de todas as culturas existentes, que estão até quebrando a universalidade de determinados princípios da lingüística. Os estudiosos do assunto ficaram de cabelos em pé com estas descobertas.

É aqui que entra a mencionada revolução da comunicação (ou da linguagem, não lembro bem as palavras que a minha amiga enunciou daquela data). Considero que para a verdadeira revolução da humanidade, que eu acho que não verei, é preciso que o nosso vocabulário (ou algo que esteja além disso como forma de comunicação) seja ainda muito enriquecido. Nós ainda não conseguimos arranhar o conhecimento sobre a forma sistêmica de como funciona e se porta cada individualidade e os efeitos que cada ser pensante gera no seio da comunidade. Ainda muito pouco sabemos sobre o peso de cada palavra lançada despretenciosamente ao éter causa na estrutura quântica do universo. Precisamos de mais, na minha precária avaliação. Ainda somos como estes índios amazônicos, quase só básicos instintos, diante do que ainda seremos um dia. E quando este dia chegar, todas as questões políticas serão vistas como uma briga de crianças por um capricho qualquer.

(Para quem leu até aqui. A foto acima é um comício de Sègoléne Royal na cidade de Puno).

quarta-feira, maio 9

Habemuns papa


Nem o mais herege dos ateus consegue passar incólume a uma visita papal. Principalmente os habitantes do novo mundo, que esperam por décadas até merecer a graça da presença do chefe supremo do Vaticano. É realmente um acontecimento midiático e com grande poder trator às atenções. Cobertura 24 horas em pool de emissoras de TV dão bem a dimensão do poder de mexer com o lado emocional dos féis e infiéis que o sumo pontífice tem. A representação abstrata do herdeiro do trono de Pedro tem maior significado do que qualquer palavra que possa ser dita contra ou a favor da vinda dele ao Brasil. Isto é fato.

O que acho mais peculiar no meio a este bombardeiro de religiosidade instantânea é a busca de repercussões políticas e sociais que a visita de Bento XVI possa ter. Recordo-me da vinda do antecessor dele, que também arrebatou multidões, celebrou missas para milhões e disse para tantos o que muitos não gostariam de ouvir. Nada mudou. Nem os dogmas católicos nem os seus nominados fiéis. Tudo o que seria proibido à igreja continua proibido, assim como as práticas de pecados apontados não cessaram. Uso de camisinha, sexo fora do casamento, controle de natalidade.

Agora há um fato inédito. Será canonizado um certo frei Galvão que tem, segundo os seus seguidores, feito cura milagrosas através da ingestão de pequenos papeis em forma de pílulas, contendo orações. Vivas ao primeiro santo brasileiro, como se esta nação precisasse do referendo do bispo de Roma para cultuar suas personalidades. Vide padre Cícero, que mesmo excomungado pela Igreja Católica continua arrebatando milhares de fiéis a cada nova romaria.

Mas nada no plano físico é o que realmente vale. Corações se elevam para o lado místico do cristianismo e todos se reúnem em torno da visão de mais um papa em solo nacional. É como sediar um Pan ou uma Copa do Mundo. A cada nova transmissão, o locutor não se cansa de repetir que somos o maior país católico do universo. O difícil mesmo é descobrir o que isso, na prática significa. Ou saber o que é mesmo ser católico.