quinta-feira, maio 24

A carne é a nossa


O país está quase voltando a normalidade. Os primeiros membros do poder judiciário começaram a invocar o "estado democrático de direito" para libertar todos os bandidos, corruptos, propineiros, vagabundos e malacas presos pela operação Navalha da policia federal, que tem como pano de fundo o assalto secular aos cofres públicos. É sempre assim. Quem é pobre, não tem as costas largas e rouba pouco amarga xilindró dias e dias sem fim. Aos que se enfronham com os bandidos assentados no poder, cem anos de perdão.


Mais um fato histórico que vem confirmar a tese que todos os males deste país tem como responsável primeiro o poder judiciário. Não adianta. O mais bem intencionado dos cidadãos não encontra eco na justiça. Qualquer bandido com dinheiro pode ser autor de todas as safadezas, contratar um advogado com esquema de juizes no bolso, e esperar livre como um passarinho os prazos se esgotarem e as punições prescreverem, conforme preceitua a lei.


O mais emblemático disso tudo é um ministro do Superior Tribunal de Justiça, que deveria ser o guardião da legalidade, invocar o estado democrático de direito para soltar os bandidos. Ele sai acusando a Polícia Federal de atos ilegais para defender esta tese. Claro que roubar, dilapidar, permanecer impune diante de falcatruas contra o patrimônio público merece qualquer punição. Apesar de o que a PF almeja é bem simples: manter presos os envolvidos nos atos criminosos apenas impedir a destruição de provas ou coluios dos integrantes de quadrilha.


O que se vê, que se assiste nos noticiários, a prisão de peixões corruptos me parece com o clima de copa do mundo. Todos vibram, se sentem menos infelizes, acreditam que alguma coisa vai mudar na vida do país, mas no final fica só mesmo a ressaca. A gente lembra de tantos outros fatos, onde parecia que o paraíso estava próximo, que deixaram só o gostinho de ilusão.


Ainda está bem acesa na minha memória quando a mesma PF apreendeu centenas de quilos de cocaína em um caminhão carregado de inhame e todos os traficantes foram soltos através de uma liminar de um juiz federal, alegando provas conseguidas ilegalmente. Aquele velho estado democrático de direito inventado para livrar bandido de cadeia. Alguém emitiu opinião contrária a aquele ato do juiz em um jornal local e acabou sendo processado e condenado por falar o que pensa. O mais interessante é que a instância imediatamente superior ao juiz revogou a liminar que libertou os bandidos, quando estes já estavam todos bem longe e livres para novos delitos. Ou seja, o juiz realmente cometeu um crime ou, melhor dizendo, contribuiu de forma inequívoca para a preservação do tráfico. Se graciosamente ou mediante compensação financeira, ninguém sabe.


E haja a se fazer críticas generalizadas contra políticos por conta das mazelas encontradas nas mais diversas operações policiais como a navalha. Os comentaristas e analistas descascam em cima de deputados, prefeitos, governadores, senadores, por seus atos improbos, os mais variados, praticados ao longo dos anos. Como se tudo pudesse se resolvido com uma boa dose de vergonha na cara. Não é assim que o mundo real funciona. O principal mantenedor desta patifaria é mesmo o poder judiciário, que assegura o estado democrático de direito para que ninguém se encontre com um carcereiro. Um velho filme que se repete ao longo dos séculos neste país.

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