segunda-feira, janeiro 30

Histórias Cruzadas


Este é um filme que a gente assiste e fica entendendo porque foi indicado ao Oscar quando um meia boca como Descendentes está cotado com um dos favoritos? Mas faz muito tempo que eu desisti de querer ver sentido artístico nessas indicações. Tudo corre por conta do viés político comercial mesmo, creio.

Histórias cruzadas tem como principal cenário a luta pelos direitos civis dos negros nos Estados Unidos, principalmente nos estados do Sul, onde a história é ambientada. Na pequena cidade de Jackson, no Mississipi mora a jovem Eugenia Phelan, apelidada pelas amigas por Skeeter. Recém formada na universidade do Mississipi, ela quer ser escritora, e consegue um emprego no jornal local, com um baixo salário mas como forma de se manter.

Ao retornar para casa, Skeeter percebe que a sua antiga babá, e empregada doméstica de sua mãe já não está mais entre a sua família, e questiona o porquê. Afinal de contas algumas moças da região criavam laços de extrema afetividade com suas amas, uma vez que as mães, ao que consta só tinha mesmo o trabalho de parir de lançar as crias aos braços de suas domésticas.

As amas negras criavam as crianças brancas com um extremo afeto, substituindo, quase sempre o amor materno que era negado pelas jovens mães. Apesar disso, as meninas e meninos, ao crescer logo adotavamos modelos de seus pais biológicos de preconceitos e ares de superioridade em relação aos negros. Carga que herdaram dos tempos de escravatura, que se deu de forma muito mais acentuada no sul dos EUA.

Mas Skeeter não reproduziu o modelo, e a busca pelo destino de sua antiga ama não a deixa engolir respostas esfarradas de seus pais. Neste contexto, ela começa a observar, já com o olhar amadurecido, como as empregadas domésticas são tratadas em diversos lares. Mesmo deixando as suas casas para cuidar das dos brancos, elas têm um tratamento de subrraça. A liga das senhoras brancas exerce uma pressão doentia sobre todas, de forma preservar a discriminação histórica. Qualquer tentativa de conciliação é fator de repulsa severa.

Há também na cidade de Jackson a pressão em cima de todas as jovens solteiras. Arrumar um bom casamento deve prevalecer sob qualquer outro projeto de vida. Skeeter não se mosta satisfeita com esta questão, e até aceita se envolver com um certo primo de uma fulaninha, só para sair do cenário de solteiras irremediáveis, e até chega a se apaixonar pelo sujeito. Porém, desiste dele, quando percebe no parceiro a mesma sanha preconceituosa reinante no meio.

Numa tentativa de fazer algo para mudar a realidade daquela gente, e ao mesmo tempo lançar-se o mercado editorial, seu principal sonho de formação profissional, Skeeter começa a escrever sobre a vida das domésticas negras. A princípio encontra resistência por parte das negras, que temem represálias. A Ku Klux Khan existe e é forte naqueles primeiros anos da década de 60.

O filme realmente vale a pena ser visto, principalmente por nós terceiromundistas, que ainda dispomos de empregadas domésticas, e não raras vezes a tratamos como se nem humanos fossem. Essa discriminação eu mesmo pude presenciar na minha família, e tenho me esforçado para não repeti-la. Mas não sou eu quem posso julgar-me se estou no caminho certo, ou não.

Historias cruzadas também nos remete a todos outros episódios de nossa história, onde uma determinada etnia passa a sofrer a repulsa de algum outro setor majoritário, que detém a hegemonia do poder. Vide o holocausto dos judeus, na Segunda Guerra. E nem por isso a lição foi aprendida. Que o diga o palestino residente na Faixa de Gaza. Não se pode julgar todos os alemães por Hitler e seu séquito, assim como não pode se dizer que todo o Wasp (White, Anglo Saxonic, Protestant) seja ruim. A conquista pelos direitos civis foi dos negros americanos, mas há de se lembrar de que brancos que viram além dos modelos reproduzidos pelas gerações também se ombrearam nesta luta, que é de toda a humanidade. Ou pelo menos do lado sensato da humanidade.

Recomendo sem reservas.

Direção:
Tate Taylor

Roteiro:
Tate Taylor

Elenco:
Emma Stone, Viola Davis, Octavia Spencer, Bryce Dallas Howard, Jessica Chastain, Ahna O'Reilly, Allison Janney, Anna Camp, Chris Lowell, Cicely Tyson, Mike Vogel


quinta-feira, janeiro 12

Sob o domínio do medo

Straw dogs


Sob o Domínio do Medo (Straw Dogs – cachorro de palha, em uma tradução literal) é uma refilmagem. O original é de 1971, dirigido Sam Peckinpah, com Dustin Hoffman interpretando o protagonista. Eu estava esperando assistir o antigo primeiro para só em seguida escrever sobre a nova versão de 2011. Já está no HD, ainda inédito aos meus olhos, mas vamos em frente. Este filme é pura tensão, desde o início. Que nos leva a uma desequilíbrio constante. Não dá para respirar tranquilo enquanto não chega ao fim.

A história conta a chegada de um roteirista de Hollywood, David Summer (James Mardsen), em uma pacata cidade do interior do sul dos Estados Unidos, com a sua esposa, Amy (Kate Bosworth) uma jovem atriz e, talvez a mais ilustre personalidade do lugarejo. Ela havia herdado uma propriedade do seu pai e resolveram passar uma temporada na cidade e aproveitar a tranquilidade da região. Nada como escrever um novo roteiro no silêncio do campo.

Mas a tão almejada tranquilidade rapidamente se dissipa. Logo que chegam ao local a Amy, considerada uma celebridade por todos da cidade, principalmente os homens, por seu trabalho em um seriado de TV, é visivelmente cobiçada. E ela não se nega de lançar boas doses de sensualidade ao meio, como se divertisse em atrair as atenções masculinas. Entre estas, a de um ex-namorado (Alexander Skarsgard), que se acha ainda no direito de se insinuar para Amy.

Na trama não falta também o valentão do bar, que não aceita o assédio de um homem, com distúrbios mentais a sua filha, e o espanca rotineiramente, sob o pretexto de mantê-lo afastado. Aparentemente descontextualizada, essa subtrama, no entanto, assume importância fundamental no desfecho da história, mostrando bastante engenhosidade na concepção do roteiro. Um inserção orgânica e convincente.

A tensão, mobilizada por Amy amplia-se de proporção a medida em que ela resolve provocar os quatro trabalhadores contratados para consertar a coberta da garagem de sua propriedade, entre esses o seu ex-namorado. Por conta de uma discussão com o marido, Amy troca-se de janela aberta, na altura do telhado, encarando aqueles homens, em trajes de serviço. Isso desperta a sanha machista dos trabalhadores que tramam de alguma forma satisfazer os instintos. A partir desse ponto, não há monotonia. O público antecipa o que está prestes a explodir, enquanto David apenas suspeita que algo não está correto, nas relações de sua esposa com os habitantes da cidade, notadamente os homens.

Os trabalhadores, com a evolução da história, sentem-se cada vez mais a vontade na propriedade, já que estão em maior número e são visivelmente mais condicionados fisicamente que o roteirista. Com isso, aprofunda-se um processo de intimidação e o cerco a Amy. E nada parece deter o curso dos acontecimentos, nos levando a um desfecho com forte carga dramática. Soma-se a isso, uma possível crise do casal, que volta e meia trocam acusações entre si. ele visto por ela como um covarde por não enfrentar os caras que a assediam e ele por considerar o comportamento de sua esposa excessivamente sensual, principalmente em uma cidade pequena, do sul dos EUA.

Vale aqui dizer que o filme original escandalizou o público e a crítica da época, por sua violência em cenas explícitas. A refilmagem, que foi baseado no mesmo livro Straw Dogs não deixa nada a desejar nesses dois itens. Apesar de os roteiristas serem outros, a montagem da história se deu de forma linear, meio que abandonando a tendência atual de histórias pontuadas de flashbacks, que muitas vezes me entediam. Um bom filme que merece ser visto por todos e principalmente por quem curte histórias contadas com primor.

Diretor: Rod Lurie
Elenco: Kate Bosworth, Alexander Skarsgård, James Marsden, James Woods, Dominic Purcell
Produção: Marc Frydman, Rod Lurie
Roteiro: Rod Lurie, baseado na obra de Gordon Williams
Fotografia: Alik Sakharov
Trilha Sonora: Larry Groupé
Ano: 2011
País: EUA
Gênero: Suspense

terça-feira, janeiro 10

Tomboy


Tomboy é a expressão em inglês que designa meninas que se vestem e se portam como meninos. E é assim que a protagonista deste filme, Laura (Zoé Héran) é, é apresentada. Logo na primeira cena, ela está com o pai, que dirige o carro, quando é colocada no coloco para assumir o volante, coisa que se faz, geralmente com os filhos e não com as filhas. A família está de mudança para os arredores de Paris.

Ao chegar em seu novo endereço, Laura assume para as crianças da vizinhança a personalidade masculina e se apresenta como Michel. A sua aparência e as vestimentas a auxiliam a desempenhar esse papel. Logo é aceita nas brincadeiras dos meninos e mais que aceita por Lisa, uma menina que se apaixona pelo novo “menino” do quarteirão.

Tomboy é bem rápido. Em pouco mais de 70 minutos toda a trama e desenvolvida, mostrando a vida de uma jovem, com pouco mais de 10 anos, que não aceita muito bem a sua condição feminina. Mas isso, no lar, passa a ser um segredo entre ela e a irmã mais nova. A questão da homossexualidade é só arranhada pela trama. Ela apenas demonstra uma satisfação mínima ao ser beijada por Lisa.

Por se tratar de uma criança, ficamos na dúvida se o papel masculino escolhido por Laura é apenas uma tentativa de ser aceita pelo grupo de meninos, ou se há mesmo inclinações mais acentuadas para o lesbianismo. O filme foge dessa questão, e procura apenas apresentar o caso, sem buscar origens ou respostas definitivas.

Roteirizado e dirigido por Celine Sciamma (Lírios D’água), Tomboy tem uma pegada suave, sem procurar nos desestabilizar de nossa função de público. Apesar de ter um cenário contemporâneo, o filme nos remete ao tempo que os pais eram capazes de dar o ajuste necessário à personalidade dos filhos, sem recorrer a psicólogos, ou ficar pondo as mãos nas cabeças e perguntando aonde erraram na educação de suas crias. É um filme interessante, mas que a sua maior virtude, não produzir julgamentos nem apontaram culpados, talvez seja também a sua maior fragilidade.

segunda-feira, janeiro 9

Um conto chinês



Minha professora de roteiro Juliana Reis falou que depois de Freud nenhuma personagem de qualquer história pode ficar sem uma explicação sobre os seus comportamentos. É preciso dar algum sentido a aquela personalidade. Em Um Conto Chinês, o roteiro procura explicar Roberto (Roberto Darin), um personagem misantropo, de mau com a vida, e extremamente metódico, ao ponto de apagar a luz religiosamente somente quando o relógio assinala 23 horas, nem um segundo a mais ou a menos; como um trauma com a guerra das Malvinas. Onde combateu, nos meados dos anos 80.

Dono de uma loja de ferragens em Buenos Aires, Roberto nunca tem tempo para ninguém. Solitário em seu estabelecimento, está sempre ocupado com o estoque ou o atendimento de algum cliente. Nunca troca um número de palavras além do necessário, estritamente necessário. Tudo segue a mais monótona rotina, até que durante um tempo de folga, quando se diverte solitariamente vendo aviões descendo no aeroporto (que coisa mais paulista!), depara-se com um chinês sendo expulso de um taxi, depois de ser assaltado.

Não tendo outra coisa a fazer, Roberto acaba socorrendo Jun, o chinês que não fala uma gota de espanhol, mas que irá transformar a sua vida. O estrangeiro está em busca de seu tio que residiria em Buenos Aires. Só que não é encontrado no endereço que tinha. Já havia deixado o local há mais de dois anos. Roberto tenta então deixá-lo na embaixada ou na delegacia de polícia, sem sucesso. O jeito é levá-lo para casa, a muito contragosto. Por alguma razão inexplicável, aquele ser birracento, revoltado com o mundo acolhe o chinês em sua casa e se vê obrigado a mudar a sua rotina e começa lentamente ele mesmo também se transformar, por forças das circunstâncias.

O filme continua com uma busca incessante ao tio de Jun, que não sabe aonde está. Nem mesmo se está em algum lugar. Este é o pano de fundo que dá cenário às alterações que vão ocorrendo a passos lentos na vida de Roberto. Como todo filme baseado em fatos reais, a gente percebe problemas, como a falta de nós dramáticos que dêem alguma movimentação maior às cenas. Tudo é muito seco, e até mesmo a escolha da trilha sonora é preocupante. É a única alteração que se percebe na evolução da história. Como se a música extradiegética quisesse mostrar alguma mudança que de fato não acontece na tela.

Dos filmes que assisti com Darin, esse seja talvez seja o mais fraco. Nada que se aproxime do maravilhoso Segredo dos Seus olhos ou de o Pai da Noiva. Eu debito isso, em grande parte, ao fato de ser baseado em fatos reais. A realidade não raras vezes carece da dramaticidade que uma produção cinematográfica precisa para fugir dos lugares comuns. É o tipo de filme que ninguém precisa assistir, salvo por mera curiosidade. Cinema argentino também tem suas produções medíocres, é minha conclusão.

domingo, janeiro 8

Precisamos falar sobre Kevin


We need talk about Kevin

Precisamos falar sobre Kevin é tenso. Desde as cenas iniciais. No princípio, nós somos levados ao desconforto e a desestabilidade a partir de ruídos diegéticos (contextualizados), como perfuratrizes, cortadeiras de grama, aspiradores de pó e outros equipamentos e ferramentas ruidosas. A partir daí, a relação conflituosa entre o filho Kevin e sua mãe Eva se encarrega de nos incomodar por toda a película, em uma narrativa não linear que não se preocupa em esclarecer os fatos que sugere ou exibe.

O filme, baseado no livro de mesmo nome, de Lionel Shriver, tem Eva Katchadourian (Tilda Swinton) como protagonista. Vivendo um casamento estável, tem a sua vida desequilibrada quando nasce o seu filho Kevin (Ezra Miller e Jasper Newell). Ela procura ser uma mãe normal, dando atenção e afeto à cria, mas o menino, desde a mais tenra idade, já demonstra todo o seu desapreço à mãe, ao mesmo tempo que demonstra um comportamento normal em relação ao pai, Franklim. Eva se preocupa com essa situação e chega a levar o filho a uma médico, temendo um autismo, que não é confirmado pelo diagnóstico.

Como a narrativa não segue a linha do tempo, as constantes idas e vindas do roteiro nos forçam a compor um quebra-cabeça para montarmos a história. Em todos os trechos há tensões e cenas expondo situações desagradáveis entre mãe e filho. Ele faz questão de demonstrar o desamor em vários momentos, quer quebrando lápis de ceras que lhe foram dados, quer pichando o quarto recém decorado dela. A situação é incômoda, mas Eva não desiste, e sempre procura contornar os conflitos.

A cada tentativa, uma nova frustração. Não adianta querer puxar conversa sobre trivialidades, jogar partidas de mini-golfe ou um jantar em um restaurante. Kevin só dá trégua uma única vez, quando adoece e aceita os afagos da mãe, ao mesmo tempo em que rejeita momentaneamente o pai, companheiro de todas as horas. Mas é coisa rápida, logo o mau humor com a mãe retorna.

Eva tem uma nova gravidez e uma filha, que logo passa a ser objeto de judiação de Kevin. As coisas não mudam até a adolescência, quando incidentes domésticos levam a perda de um olho da menina. Nada é muito esclarecido, suspeitas são quase evidenciadas, mas sempre paira dúvidas sobre responsabilidades. Eva continua se esforçando para ter uma relação normal com o filho mas a cada nova tentativa vem outra frustração.

E como tantos outros meninos desajustados, Kevin transforma-se em um serial killer em sua escola. E parece que ele foi o único responsável por isso. Tinha um lar ajustado, pais normais, mesmo assim, desenvolveu uma personalidade doentia, implacável, que o levou a premeditar assassinatos em série, usando um arco e flechas, que foram presentes do pai. Nem assim, a mãe foi capaz de abandoná-lo. A pergunta que fica: será que precisava ser assim e nada pode ser feito para se evitar uma tragédia? O filme é interessante, mas não aborda, nem se aprofunda nessas questões, como se houvesse uma certa inevitabilidade nos comportamentos de psicopatas. Eu não sei se é assim mesmo.

Mesmo evitando mostrar as cenas mais pesadas que acontecem ao longo da trama, Precisamos falar sobre Kevin não dá vida fácil ao público, que se vê em meio a situações de desconforto pela tensão que cada cena gera. É uma conversa que não acontece, apesar de sua urgência. Se estiver procurando diversão leve, não irá encontrar nesse filme, mas é uma trama bem interessante, apesar de deixar mais perguntas do que respostas ao final.

Agradeço a Aline, pela dica. =)


quarta-feira, janeiro 4

Amor a toda prova


Amor a toda a prova certamente não seria o filme que eu escolheria para ver, se não tivesse uma boa dica. O ator-protagonista Cal (Steve Carell) tende a me afastar de qualquer produção que participe. Não porque me dou alguma maior importância a interpretações, mas porque os papeis que ele desempenha, os bobões de meia idade, só existem em filmes que não me atraem. Mas a pessoa que me indicou, a Anna, sabe o que fala.

A história inicia-se mostrando um casal com 25 anos de enlace jantando em um restaurante, quando a esposa Emily ( Julianne Moore) pede o divórcio. Cal, um sujeito um tanto quanto malamanhado, capaz de combinar terno com tênis cafonas, surpreende-se e imagina-se chifrado, o que é confirmado logo em seguida. E não se aquieta enquanto não conta a novidade para dois dos seus três filhos, sem economizar no sentido das frases que usa nas explicações. O amigo de trabalho de Emily estava fazendo a tarefa que ele próprio parecia não dar mais conta.

O tênis de cal assume um simbolismo próprio. Ele representa todo o desleixo e a acomodação do personagem com aquela vidinha perfeita, ao lado da mulher amada, sua primeira namorada, conhecida ainda no tempo de colégio. Aquele ritmo monocórdio, sem surpresas e modorrento parece ter entediado sobremaneira a vida de Emily, que buscou nos braços de seu colega de trabalho algum tempero para si. A situação nos é apresentada de tal forma que não há como tomar partido. Se por um lado nos compadecemos pela montanha russa que passa a viver Cal, sem a sua amada, não tiramos dela o direito de buscar sensações que a preencha.

Os diretores Glenn Ficarra e John Requa também se utilizam de outro simbolismo que me chamou a atenção. O jardim da casa do casal. Mesmo depois de separados, Cal continua a secretamente a cuidar do ambiente, noite a dentro, meio que para se redimir da falta de zelo que teve com a própria esposa, e demonstrando o sentimento que ainda nutre por ela.

Não tendo outro coisa a fazer, Cal passa a ser freqüentador contumaz de um bar, usando as mesmos trajes desarrumados de sempre, e contando para todos quantos chegassem perto a sua trágica história de amor desfeito. O garanhão do bar se compadece com a tragédia, e o ensina a canalizar as suas energias a atividades de conquista sexual, não sem antes assessorá-lo na compra e roupas mais adequadas para o seu novo modus vivendi. De marido abandonado transforma-se em objeto de desejo, a partir de orientações passadas por Jacob (Ryan Gosling).

Apesar de sua nova vida sexualmente satisfatória, Cal não deixa de pensar na sua agora ex-esposa, nem de continuar zelando pelo jardim. Emily também não está feliz em sua nova condição, e procura conter a tristeza fazendo chamadas telefônicas para o ex-marido somente para jogar conversa fora, inventando razões triviais, como ligar o aquecedor da casa, que somente ele saberia.

O roteiro é bem amarrado, com subtramas interessantes: o filho do casal que se apaixona pela babysitter que por sua vez apaixona-se por Cal e a virada na vida de Jacob, que finalmente, depois de traçar todas no bar encontra o amor de sua vida. O final é previsível, mas as viradas inteligentes que acontecem dão um bom brilho a essa produção despretenciosa, e nos causam algumas surpresas ao longo da história. Os clichês que surgem, como um discurso na escola do filho, são facilmente digeríveis, basta não ser tão exigente, já que o gênero comédia romântica não consegue mesmo escapar de alguns. No final, nos é mostrado que mesmo com o desgaste das rotinas, na previsibilidade e monotonia da realidade de um casamento é ainda possível se resgatar e atualizar velhos sentimentos, quando se há disposição para isso.

Gostei de ter assistido. Valeu Anna!