quarta-feira, janeiro 4

Amor a toda prova


Amor a toda a prova certamente não seria o filme que eu escolheria para ver, se não tivesse uma boa dica. O ator-protagonista Cal (Steve Carell) tende a me afastar de qualquer produção que participe. Não porque me dou alguma maior importância a interpretações, mas porque os papeis que ele desempenha, os bobões de meia idade, só existem em filmes que não me atraem. Mas a pessoa que me indicou, a Anna, sabe o que fala.

A história inicia-se mostrando um casal com 25 anos de enlace jantando em um restaurante, quando a esposa Emily ( Julianne Moore) pede o divórcio. Cal, um sujeito um tanto quanto malamanhado, capaz de combinar terno com tênis cafonas, surpreende-se e imagina-se chifrado, o que é confirmado logo em seguida. E não se aquieta enquanto não conta a novidade para dois dos seus três filhos, sem economizar no sentido das frases que usa nas explicações. O amigo de trabalho de Emily estava fazendo a tarefa que ele próprio parecia não dar mais conta.

O tênis de cal assume um simbolismo próprio. Ele representa todo o desleixo e a acomodação do personagem com aquela vidinha perfeita, ao lado da mulher amada, sua primeira namorada, conhecida ainda no tempo de colégio. Aquele ritmo monocórdio, sem surpresas e modorrento parece ter entediado sobremaneira a vida de Emily, que buscou nos braços de seu colega de trabalho algum tempero para si. A situação nos é apresentada de tal forma que não há como tomar partido. Se por um lado nos compadecemos pela montanha russa que passa a viver Cal, sem a sua amada, não tiramos dela o direito de buscar sensações que a preencha.

Os diretores Glenn Ficarra e John Requa também se utilizam de outro simbolismo que me chamou a atenção. O jardim da casa do casal. Mesmo depois de separados, Cal continua a secretamente a cuidar do ambiente, noite a dentro, meio que para se redimir da falta de zelo que teve com a própria esposa, e demonstrando o sentimento que ainda nutre por ela.

Não tendo outro coisa a fazer, Cal passa a ser freqüentador contumaz de um bar, usando as mesmos trajes desarrumados de sempre, e contando para todos quantos chegassem perto a sua trágica história de amor desfeito. O garanhão do bar se compadece com a tragédia, e o ensina a canalizar as suas energias a atividades de conquista sexual, não sem antes assessorá-lo na compra e roupas mais adequadas para o seu novo modus vivendi. De marido abandonado transforma-se em objeto de desejo, a partir de orientações passadas por Jacob (Ryan Gosling).

Apesar de sua nova vida sexualmente satisfatória, Cal não deixa de pensar na sua agora ex-esposa, nem de continuar zelando pelo jardim. Emily também não está feliz em sua nova condição, e procura conter a tristeza fazendo chamadas telefônicas para o ex-marido somente para jogar conversa fora, inventando razões triviais, como ligar o aquecedor da casa, que somente ele saberia.

O roteiro é bem amarrado, com subtramas interessantes: o filho do casal que se apaixona pela babysitter que por sua vez apaixona-se por Cal e a virada na vida de Jacob, que finalmente, depois de traçar todas no bar encontra o amor de sua vida. O final é previsível, mas as viradas inteligentes que acontecem dão um bom brilho a essa produção despretenciosa, e nos causam algumas surpresas ao longo da história. Os clichês que surgem, como um discurso na escola do filho, são facilmente digeríveis, basta não ser tão exigente, já que o gênero comédia romântica não consegue mesmo escapar de alguns. No final, nos é mostrado que mesmo com o desgaste das rotinas, na previsibilidade e monotonia da realidade de um casamento é ainda possível se resgatar e atualizar velhos sentimentos, quando se há disposição para isso.

Gostei de ter assistido. Valeu Anna!

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