sexta-feira, setembro 28

Muito além do rock'n roll


A primeira cena de violência de que me lembro, em minha vida, eu fui a vítima. Aconteceu quando tinha cerca de quatro anos. Fui empurrado por um amiguinho de infância de um muro baixo e cai de cabeça em cima de uma pedra. Resultado: quatro pontos da testa e uma cicatriz que me acompanha até hoje. Recordo-me também do aperreio de minha mãe me levando para um pronto socorro.

Naqueles tempos, os atos de violência que presenciávamos no mundo real não eram muito de incomodar ou preocupar. As brigas não tinham conseqüências mais graves, senão algumas escoriações. Também ninguém ou nada era responsabilizado por ter induzido outrem às práticas de selvageria. Cada qual era o próprio responsável pelas brutalidades que se cometia. E, portanto, precisava de alguma reprimenda ou uns corretivos para coibir a repetição daquelas atitudes indesejáveis para o convívio social. Afinal, éramos crianças e ainda não havíamos absorvidos totalmente as regras do mundo adulto.

Hoje o cenário é completamente diferente. Todos têm culpa pela violência praticada, menos os seus próprios protagonistas. Abre-se o jornal e se lê em letras garrafais que três turistas foram alvejados pela polícia porque não pararam diante de uma ordem da autoridade. Um vai ficar paraplégico. Mas a responsabilidade não são daqueles que alvejaram os ocupantes do veículo, em vez de atirar nos pneus ou procurar barrar a fuga dando um tranca, como se vê em vídeos policiais gravados nos EUA e exibidos na TV. Afinal, são tantos os policiais que morrem pelas mãos de marginais que diante do perigo iminente, nada mais aceitável do que disparar contra prováveis bandidos.

Também não se pode dizer que foram os alvejados os culpados. São inúmeros os relatos de testemunhas vítimas de marginais que se utilizam de carros e roupas de policiais para realizarem seus ilícitos de cada dia. Nada mais normal do que não crer numa ordem de parar e procurar desesperadamente escapar.

Mas não é só o medo que move as reações desproporcionais. É comum se ver determinados especialistas do ramo querer culpar os meios de comunicação, os jogos de videogames e computadores, os noticiários, os filmes, as músicas e tudo o mais pela explosão irracional de violência. Até monges budistas estão entrando no cacete lá pras bandas do Miammar, contrariando todo o fetiche pacifista que a religião de Buda mostra através Dalai Lama e seus seguidores.

Recordo-me na minha infância que meu pai e meu avô eram incapazes de me presentear com uma arma de brinquedo, elemento indispensável na popular brincadeira de bandido e ladrão. Eu tinha de improvisar a minha pistola laser com algum jogo de montar tipo lego ou montebrás. Nem por isso deixava de disparar balas imaginárias contra meus parceiros de brincadeira, mesmo que a arma fosse apenas improvisada com os dedos.

A julgar pelo nível de violência imaginária que vivi em tenra idade, era para eu ter me tornado um troglodita, tipo esses que andam por aí, se achando os maiorais, na visão da psicologia moderna. Mas nunca cheguei efetuar um disparo de vera. Não me envolvia em brigas, a não ser alguns bate-bocas por conta dos rachas de futebol. Há a índole de cada um pesando na escolha do caminho a seguir, mas certamente, a falta de limites existente nos dia de hoje, está concorrendo para o salve-se quem puder. E não será apenas se criando novas ideologias pacifistas que este mundo vai se endireitar. No dia de Cosme e Damião, pensei um pouco nisso tudo.

3 comentários:

Bruno de Castro disse...

bom..ao contrário de ti, não me lembro da minha primeira cena de violência...
Enfim..me preocupa um pouco olhar pra essa geração que tá nascendo agora e perceber como a violência já se tornou algo vulgarizado pra ela, sabe!?
Olhando meus primos de quatro, cinco, seis anos, eu fico pensando como eles vão ter que agir daqui há 20 anos, qd já estiverem maiores. O que eles terão de fazer pra escapar dessa onda crescente de terror!? Se com a gente já está do jeito que está, imagine depois!
Abraço, Mezenga! ;~~

Anônimo disse...

Ei,meu blog não é preto com letras pretas não... valha... hehehe

Anônimo disse...

As matrizes da criminalidade são diversas, e uma delas são policiais despreparados que junto com uma justiça falha, deixa a sociedade desprotegida. Diante de tanta impunidade, a população começou a achar que poderia resolver com as próprias mãos... Um corre com medo, o outro com medo do que correu, atira. Se nossas leis funcionassem, e a população conseguisse crer nela, talvez iríamos nos sentir mais confiantes diante dessas situações, e não tão amedrontados e agindo por impulso para nos defender...

Um ótimo dia pra ti
Beijos
Graziela