quinta-feira, abril 28

Eu falo o brasileiro

Tem gente que encontra inimigos em todos os lados. Até na língua que fala. Desta vez, na visão de alguns comunistas o adversário a ser combatido são todos aqueles que ousarem a usar qualquer palavra de origem estrangeira ao se comunicar. O nosso português, sim, o nosso português, deve ser preservado a todo custo.

Bem, acho que já até postei isso. O português, na realidade, é a língua do europeu invasor que se abancou por aqui, promovendo um genocídio nas nações antes existentes e milenarmente estabelecidas. Só por isso, já não deveria haver nenhum motivo para tanta defesa. A língua portuguesa é tão estrangeira nas terras brasilis quanto qualquer outro idioma que por aqui aportar. Quem não pensar assim, decerto não considerará as tribos sobreviventes da matanças desenfreadas de nossos "herois" bandeirantes os legítimos herdeiros da brasilidade. Que tal defender o xavantês?

Mas o pior é que eu acho, ou melhor, tenho certeza, que o combate aos estrangeirismos tem como alvo principal e único os países de língua inglesa, seculares adversários das ideias derivadas do pensamento do alemão Marx, tão largamente abraçadas pelos comunistas. Mania de ver inimigo por todos os lados. É desconhecer que o próprio inglês possui 30% de seus vocábulos oriundos do latim, que, segundo os historiadores, também deu origem ao português de Portugal, que por sua vez se destacou do Espanhol do seu vizinho.

Eu prefiro entender que um país é tanto mais livre dos laços domintantes do seu colonizador tão quão diferente for a cultura que consegur formar em seu território. E, graças a Deus, esquecemos muitas coisas que estão enfronhadas no imaginário português como a melancólica e desagradável música chamada fado. Que tipo de nação seríamos se não tivéssemos outros gêneros musicais, inclusive importados dos países anglicistas? Sem graça, eu diria.

A nossa religiosidade também é em sua totalidade importada do além mar. O cristianismo, que criou o almágama religioso-ideológico impulsionador das conquistas genocidas não surgiram no Brasil, e mesmo assim por aqui se estacionou sem que nenhuma voz faça qualquer menção de considerá-lo estrangeiro.

Aliás, é bom que se diga que o Brasil só se tornou um país de dimensões continentais e não fala outros idiomas por um sem número de repressões militares impostas pela coroa portuguesa. E eu, sinceramente, não sei se os resultados na vida das pessoas foi o mais favorável. Pernambuco, por exemplo, não virou um país de língua holandesa porque os senhores de engenho pernambucanos resolveram dar o calote nos banqueiros dos Países Baixos, expulsando seus representantes aqui instalados por muitos anos. Não sei se seria melhor, mas provavelmente o sistema escravagista (teoricamente extinto no séc XIX) e patrimonialista reinante até os dias de hoje, não tivesse aprofundado tanto as desigualdades sociais perpetuadas até hoje.

Bem, afastando qualquer tentativa de se querer estabelecer uma antítese aos xenófobos pensamentos dos comunistas (pelo menos no nome do partido) , vou continuar chamando mouse de mouse, deletando os arquivos que julgar desnecessários, me plugando na internet, zapeando os canais de tv, e achando um absurdo alguém querer preservar a língua portuguesa comparecendo a um programa de debate da GloboNEWS. Não é mesmo Aldo Rebelo?

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