sábado, junho 19

Kick Ass - Quebrando Tudo


Fiquei, após assistir a esse filme, com a nítida impressão que Hollywood resolveu dar uma resposta, diante de tantos assassinatos em massa, alguns praticados por adolescentes com problemas de socialização e de bullying. Algo como "apesar de você ser um zé mané, um futuro brilhante pode ser construído. É só despertar o super-herói que existe em seu interior". E mais uma vez foi buscar nos quadrinhos , que eu nunca li, confesso, o personagem capaz de preencher o modelo concebido.

Trata-se de um adolescente desses que ninguém percebe nas escolas. E que imagina ser isso o normal. De poucos amigos e filho órfão. Logo no início da trama, a morte da mãe é tratada como uma coisa banal, insuficiente para mudar a rotina irritantemente imutável. Mas dentro de si há um desejo juvenil de mudança. Ele e seus dois únicos amigos ate ensaiam se aproximar de um menino abastado que anda em limousines. Imaginam que uma amizade com alguém com grana poderia atrair a atenção de outras pessoas e principalmente das meninas. Nesse esforço, no entanto, escutam do guarda roupas que faz a segurança do riquinho um "kick ass", uma ordem para que se afaste.

A expressão é usada para batizar o nome do super-heroi que vai ser vivido pelo personagem Dave Lewinski (Aaron Johnson). A fantasia verde do paladino é comprada na internet, sinais de tempos mordenos, mas que é insuficiente para lhe conceder alguma habilidade. Falta até coordenação de movimentos no nosso herói. Fica muito claro que ele vai se meter em encrenca. E é exatamente isso que acontece. Leva uma surra de dois marginais, e chega a ser esfaqueado e levado ao hospital. Mas heroicamente impede o assalto que foi assistido por dezenas de pessoas. Logo um filmete vai parar na Net, dando fama ao super-heroi atrapalhado.

O personagem é algo como uma antítese de Henry Chinaski, que nos foi apresentado pelo escritor Charles Bukowski, em seu Misto Quente. Vida confusa ao extremo. Com a diferença que este prefere as bebidas aos atos de heroismo, e as pancadas que toma, ou dá, são em causa própria e nunca em busca de algum reconhecimento público.

Na identidade pública de Dave, ele é confundido com um gay. Por isso, é aceito como amigo de uma bela menina que tem envolvimento com gangster. Como diz a lenda, amigo de mulher é cabelereiro. Lugar comum aqui e alhures. E para intermediar esse conflito, ele se mete em confusão com gente violenta em alto calibre. Nada que conseguisse resolver só. Nessa missão conhece a super-heroina Hit Girl, uma menina de 11 anos, que é treinada pelo pai em combate, um ex-policial, que ficou preso injustamente alguns anos e agora volta para se vingar. Hit Girl livra a cara de Kick Ass. É esse o ponto de virada.

Apesar de tantos clichês, o filme é divertido e reserva algumas surpresas que tornam a trama mais atraente. Vale destacar a apresentação de Hit Girl e seu pai (vivido por Nicolas Cage) e a forma sanguinária como uma menina tão novinha enfrenta a bandidagem. Uma dúvida me restou. O diapasão, aquelas cenas iniciais que antecedem ao desenvolvimento da história, não é pago ao longo do filme. Talvez deixando a porta aberta para uma sequencia. Kick Ass e bom como diversão, para quem não se importa em sair da sala manchado de sangue.


Dirigido por Matthew Vaughn. Com: Aaron Johnson, Nicolas Cage, Chloë Grace Moretz, Mark Strong, Christopher Mintz-Plasse, Lyndsy Fonseca, Michael Rispoli, Jason Flemyng, Elizabeth McGovern.

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