quarta-feira, novembro 26

Selva processada

Todos querem que nós, brasileiros, leiamos mais. Uns por questões sociais. Quem ler mais se preparar melhor e tem condições de conquistar uma vida mais digna. Outros por questões mercadológicas. Trabalhador mais bem preparado agrega mais valor, e, por conseqüência, assegura mais lucro aos donos do capital. Há também aqueles que desejam mais leitura nossa para vender mais livros. Os autores, livreiros, editores.

Em nome de mais leitura para todos, uma série de programas e iniciativas está rondando as cabeças dos dirigentes dos setores de educação e cultura do país. Distribuição de exemplares, criação de clube de leitores, realização de feiras e por aí vai. Mas alguma coisa está fora de ordem. Alguma ou algumas. Exemplo é que aconteceu na Bienal Internacional do Livro, realizada na semana passada.

Com o fito de divulgar e lançar novos livros, congregar livreiros, autores, editores e o público das mais distintas faixas etárias, a bienal se realizou. Para alguns foi como uma visita ao zoológico percorrer os diversos pavilhões de expositores. Filas e mais filas de alunos de escolas públicos, sem um níquel no bolso, sequer, percorriam os stands com as mãos escoradas no companheiro da frente e oferecendo apoio para as mãos do detrás. Os livros, só para os olhos, à distância. Não lhes era dado o direito de manuseá-los, assim como os bichos expostos não devem ser tocados ou alimentados no zoo.

A princípio o sucesso de uma bienal internacional do livro deveria ser de amplo interesse de todas as instituições públicas. Não foi bem assim. Como uma madeireira em uma floresta em pé, os órgãos de fiscalização do trânsito passaram o rodo e multaram praticamente todos os visitantes da bienal, nas caladas das 10 noites de funcionamento do evento livresco. Assim como os madeireiros, não houve nenhum interesse em ganhos a longo prazo. O que valia é empurrar algumas centenas de milhares de reais imediatamente para os cofres da prefeitura. A única alternativa seria pagar um estacionamento privado ao preço de dois livros comprados na exposição. Dá até para pensar em conluio entre o dono do parque e determinadas autoridades do trânsito. Ah Brasil!

Um comentário:

Anônimo disse...

Eu não fui à Bienal, de novo! Nunca tenho recursos suficientes para matar a vontade de comprar e de me locupletar com a leitura.

Para não aumentar a frustração nesse sentido, fiquei na retaguarda fazendo a cobertura jornalística à distância.