segunda-feira, janeiro 9

Um conto chinês



Minha professora de roteiro Juliana Reis falou que depois de Freud nenhuma personagem de qualquer história pode ficar sem uma explicação sobre os seus comportamentos. É preciso dar algum sentido a aquela personalidade. Em Um Conto Chinês, o roteiro procura explicar Roberto (Roberto Darin), um personagem misantropo, de mau com a vida, e extremamente metódico, ao ponto de apagar a luz religiosamente somente quando o relógio assinala 23 horas, nem um segundo a mais ou a menos; como um trauma com a guerra das Malvinas. Onde combateu, nos meados dos anos 80.

Dono de uma loja de ferragens em Buenos Aires, Roberto nunca tem tempo para ninguém. Solitário em seu estabelecimento, está sempre ocupado com o estoque ou o atendimento de algum cliente. Nunca troca um número de palavras além do necessário, estritamente necessário. Tudo segue a mais monótona rotina, até que durante um tempo de folga, quando se diverte solitariamente vendo aviões descendo no aeroporto (que coisa mais paulista!), depara-se com um chinês sendo expulso de um taxi, depois de ser assaltado.

Não tendo outra coisa a fazer, Roberto acaba socorrendo Jun, o chinês que não fala uma gota de espanhol, mas que irá transformar a sua vida. O estrangeiro está em busca de seu tio que residiria em Buenos Aires. Só que não é encontrado no endereço que tinha. Já havia deixado o local há mais de dois anos. Roberto tenta então deixá-lo na embaixada ou na delegacia de polícia, sem sucesso. O jeito é levá-lo para casa, a muito contragosto. Por alguma razão inexplicável, aquele ser birracento, revoltado com o mundo acolhe o chinês em sua casa e se vê obrigado a mudar a sua rotina e começa lentamente ele mesmo também se transformar, por forças das circunstâncias.

O filme continua com uma busca incessante ao tio de Jun, que não sabe aonde está. Nem mesmo se está em algum lugar. Este é o pano de fundo que dá cenário às alterações que vão ocorrendo a passos lentos na vida de Roberto. Como todo filme baseado em fatos reais, a gente percebe problemas, como a falta de nós dramáticos que dêem alguma movimentação maior às cenas. Tudo é muito seco, e até mesmo a escolha da trilha sonora é preocupante. É a única alteração que se percebe na evolução da história. Como se a música extradiegética quisesse mostrar alguma mudança que de fato não acontece na tela.

Dos filmes que assisti com Darin, esse seja talvez seja o mais fraco. Nada que se aproxime do maravilhoso Segredo dos Seus olhos ou de o Pai da Noiva. Eu debito isso, em grande parte, ao fato de ser baseado em fatos reais. A realidade não raras vezes carece da dramaticidade que uma produção cinematográfica precisa para fugir dos lugares comuns. É o tipo de filme que ninguém precisa assistir, salvo por mera curiosidade. Cinema argentino também tem suas produções medíocres, é minha conclusão.

Um comentário:

Unknown disse...

tu quis dizer O Filho da Noiva, né?
gostei desse filme, é entretenimento, né.

beijão,

anna