quarta-feira, julho 6

Uma Doce Mentira


Comédias românticas têm sempre finais previsíveis. Ou então não seria comédia, e sim tragédia. Afinall, os aficcionados do gênero querem ver exatamente isso: um casal apaixonado chegando a bons termos até o final do filme. Então, quem espera algo diferente disso vai perder tempo. E Uma Doce Mentira não foge desses parâmetros.

O que faz a diferença é a engenharia do roteiro, além da interpretação dos atores. Claro que nenhuma interpretação é capaz de superar as falhas roteirísticas, mas faz alguma diferença, tornando suportáveis eventuais deslizes.

As comédias românticas se sustentam mais pela criatividade de cenas inusitadas. E essas são em profusão neste filme. A começar pelo poligolta ex-funcionário da Unesco Jean (Sami Bouajila) que resolve iniciar a vida sendo um faz-tudo em um salão de beleza, e se apaixona pela dona do estabelecimento, Emilie (Audrey Tautou, de Amelie Poulan). A cena inicial já é hilária. Um mulher em dúvida sobre cortar ou não uma franja.

O amor dele é platônico, porque ele se passa por alguém se nenhuma instrução graduada. Porém, suas habilidades começam a ser descobertas quando ele trava um ríspido diálogo com dumas orientais, na língua nativa delas. Isso assusta Emilie, que se vê enganada e o demite. Pouco tempo depois a demissão é revogada.

Jean, um moreno, que na pequena cidade francesa deve ser considerado negro, não tem coragem de revelar seus sentimentos, e resolve escrever uma carta apaixonada. O certo pendor literário do personagem fica justificado pela sua formação em Harvard. Emilie não dá a mínima, mas resolve usar o mesmo texto para enviar uma correspondência anônima a sua mãe que se encontra deprimida por ter sido largada pelo marido há quatro anos. Aí começam os problemas.

A sua máe, Mardy, realmente sai da depressão, diante da perspectiva de um novo caso amoroso em sua vida. E as dificuldades de se manter a mentira estabelecida sem causar estragos nos sentimentos da mãe passam a ser as principais preocupações da filha. No meio desse rolo, muitas situações inusitadas são geradas, inclusive a contratação de Jean para se fazer de amante secreto.

O filme é divertido, criativo, e suficientemente amarrado para prender o interesse até o fim, sem nunca enveredar para o melodrama. Vale a pena.

UMA DOCE MENTIRA
(De Vrais Mensonges, França, 2010)
Direção:
Pierre Salvadori
Roteiro:
Pierre Salvadori, Benóit Graffin
Elenco: Audrey Tatuou, Nathalie Baye, Sami Bouajila, Didier Brice
Duração:
104 min

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