quinta-feira, dezembro 30

Cisne Negro


A dança tem sido pouco explorada no cinema, ultimamente. Freddie Astaire e Gene Kelly sairam de cena e deixaram um vácuo. De menos antigo (Gene e Freddie estiveram no auge nos anos 40-50) só me vem a cabeça os filmes Tango (1998) e Carmen (1983), ambos de Carlos Saura e Retratos da Vida (1981), de Claude Lelouch, que traz uma bela dança coreaografada ao som do Bolero de Ravel no final. Ou seja, nada de recente.

O Cisne Negro vem com muita propriedade preencher essa lacuna que não deveria existir. Principalmente para mim, que tenho uma grande admiração por dança. Sempre tive. Sempre gostei. É o que me faz me permanecer sentado diante de um musical hollywoodiano. Este filme, que deve ser lançado em janeiro no Brasil, segundo a publicidade tem no papel principal Natalie Portman, que guarda algumas semelhanças com o seu personagem Nina. Ambas iniciaram-se na dança aos quatro anos e no presente têm a mesma idade.

Nina mora em New York e já está com 28 anos quando surge a oportunidade de ser a primeira bailarina de sua companhia. Filha de mãe solteira que deixou o balé por ter engravidado Nina, provavelmente de seu diretor. O filme não deixa muito claro a paternidade da protagonista, mas sugere isso. Só que o convite para o principal posto do balé Cisne Negro é longe de ser um processo pacífico. Nina asissistiu a antiga primeira bailarina, Beth (Winona Ryder) ser defesnestrada, percebendo todo o jogo de poder e sexo que reina nessas escolhas.

Se ela já não era inteiramente normal, sofrendo nas mãos de uma mãe superprotetora, que teme ver a filha ser vítima de abusos sexuais por seus dirigentes, assim como deve ter acontecido em sua própria vida, seu estresse emocional vai a coeficientes máximos. É muito cobrada pelo diretor que quer uma Nina sensual, e não apenas tecnicamente mera apurada, como Nina demonstra nos ensaios. A pressão ampliar enormemente o temor do fracasso. Por mais que se esforce, não atinge o ponto de desinibição que o diretor Thomas Leroy (Vincent Cassel) deseja. Sua neurose amplia-se e o seu tic nervoso de arranhar as costas involuntariamente com as unhas torna-se cada vez mais angustiante.

A tensão só aumenta quando ela descobre que Lily, a bailarina que é alvo das atenções sexuais do diretor, vai nomeada sua primeira substituta. Nina já a via como rival, e passa a ter pânico em perder o posto, antes mesmo de sua estreia. Com o pânico vêm as alucinações. A direção de Daren Aronofsky decide em não deixar claro para o público o que é verdadeiramente fruto da imaginação de Nina ou realidade. As cenas se confundem demonstrando os efeitos de uma insegurança levada ao limites sobre uma mente que passou por uma educação castradora. Nina também demonstra seu desejo extremado em se transformar uma primeira bailarina quando, antes de assumir o posto, sorrateiramente subtraia alguns objetos da sua antecessora.

As cenas de tensão são intercaladas por plásticos ensaios do balé Cisne Negro. São como um bálsamo na inquietação que o desenrolar do filme provocou em mim. O Gran Finale é a estreia do Cisne Negro unindo a beleza do balé e toda a leva de sentimentos que a expectativa gera nos protagonistas do espetáculo. O final é um pouco previsível, mas não deixa de ter a grande sua beleza.

Curiosidade: O primeiro bailarino, Benjamin Millepied, que interpreta David no filme, e o príncipe, no Balé, é noivo de Natalie Portman, que está grávida do seu primeiro bebê.

O trailler pode ser visto aqui: Cisne negro

sábado, dezembro 11

Braços de Morfeu

Encruzilhada da vida
centrifugado, centripetado
um pouco taco, um pouco vil
sorte em sites de sorteios
insights vislumbrantes
cama da manhã
em dia de pouco sol
calor de mim

sábado, dezembro 4

Cegos por Justiça


Quando assisti Cegos por Justiça me veio a cabeça a filósofa Hannah Arendt, que escreveu sobre os nazistas e os criminosos de guerra. Ela considerou que as atrocidades da Segunda Grande Guerra não deveriam ser somente atribuídas aos comandantes alemães, mas aos pais de família que assistiram passivos a todos os crimes. Disse ainda sobre Eichmann, o arquiteto da "solução final", que ele era alguém "horrivelmente normal".

O filme mostra a transformação moral de um casal, Elise e Craig, que se ver subtraído de seu mais precioso bem, o filho único de seis anos, Benjamim. A criança estava sob a guarda do pai.
O sequestrador, Kozlowski é um piscopata que queria dar vazão aos seus instintos bestiais e não visava a um resgate. Benjamim é morto após passar por sessões de toda sorte de tortura. O diretor e roteista, Robert Lieberman, nos poupa das cenas mais fortes. Mas só nesta parte do filme. O que se segue é de um sadismo parecido com o dos personagens.

O sortuno que se segue é bem anunciado. Se não bastasse o título original ser "Tortured", as cenas presentes são aprentadas com uma coloração sépia, criando uma atmosfera sortuna, enquanto que os flashbacks mostrando a criança alegre, se divertindo sob os olhos dos pais, são em cores intensas.

O assassino piscopata é apanhado, preso e condenado a 25 anos de cadeia. Fez um acordo com a promotoria. Mostraria a localização de outras ossadas em troca da redução da pena, que poderia chegar a prisão perpétua. Os pais ficam inconformados. Principalmente a mãe, que não poupa o pai pelo suposto descuido com o filho. Tudo isso com apenas 20 minutos de exibição.

O que se segue é a busca por vingança. Graig, sempre estimulado por Elise, esquece a sua vida profissional e passa a elaborar um plano de sequestro para o psicopata que questá cumprindo pena. Em um deslocamento do preso, eles conseguem o intento. Roubam a van que conduzia Kozlowski. Um primário golpe de colocar algum laxante na bebida dos guardas. Obrigados a parar para dar vazão às necessidades, deixam a chave na ignição, o que facilita o roubo. A camionete vira, e o suposto psicopata é apanhado com o rosto um tanto quanto machucado.

Depois, Dias seguidos de tortura, em uma cabana abandonada em meio a um floresta. Elise tinha conhecimento do local por ser corretora de imóveis. O casal, a princípio não suporta muito bem a própria maldade com o preso. Mas depois passam a sentir prazer com isso, sempre evocando as maldades que o algoz de seu filho sofreu. De um casal normal, transfiguram-se em pessoas tão doentes quando aquele que eles querem punir. Chegam a fazerem sexo entre uma sessão de tortura e outra, sempre mostradas com requintes de detalhes. Nem de tripas expostas o diretor nos poupa. Imagens de fazer sexta-feira 13 um diversão infanto-juvenil.

Sinceramente, não sei porque alguns filmes querem se notabilizar pela super realidade de suas cenas. Não bastassem as imagens, o personagem ainda grita desesperadamente, minutos a fio, sem nenhuma complascência de seus torturadores. Vale salientar que Lieberman dirigiu a consagrada e premiada série Arquivos X. Não é lógica tamanha queda de qualidade de direção. Não sei nem porque vi esse filme até o fim. Mas o desfecho é risível. O torturado, na realidade não era o psicopata, mas outro preso que estava também na van. Ninguém é preso, e o que sei viu foi tão somente a violência pela violência. Nenhuma epifania acorre. Filme para sádicos, eu diria. Se você não faz parte dessa categoria mental, o torturado foi você.

Título no Brasil: Cegos Por Justiça
Título Original: The Tortured
Paísde Origem: EUA , Canadá
Gênero: Terror, Suspense
Tempo de Duração: 78 minutos
Ano de Lançamento: 2010

Direção: Robert Lieberman
Erika Christensen ... Elise
Jesse Metcalfe ... Craig
Bill Moseley ... Kozlowski
Chelah Horsdal ... Liane Strader
Fulvio Cecere

Jakob Davies ... boy

sexta-feira, dezembro 3

Da série - É por isso que não leio jornal

“É comum a Apple manter parceiros reféns ao modelo de suspense sobre o lançamento do produto e até mesmo sobre quando os produtos chegarão aos estoques’’

Jornal o Povo de hoje

sexta-feira, novembro 26

Hoje no morro não toca Raul


Uma casa que tem uma encanação velha, quando se tenta conter um vazamento, inexoravelmente a pressão vai abrir um furo em outro lugar. É só uma questão de tempo. Para mim, é exatamente isso que está acontecendo no Rio de Janeiro. O dono da casa resolveu sacudir o mundo do narcotráfico depois que carros começaram a ser incendiados em protesto por transferências de presos. A reação dos marginais serviu de mote na guerra da comunicação. Finalmente, a opinião pública ficou ao lado das ações policiais. Quem se comunica melhor é capaz de seduzir a comunidade com o seu discurso. Pode fazer tudo o que quiser, enquanto não perder o apoio popular.

E nessa balança, o lado do bem muda constantemente. Hoje, não se conta mais o número de morte de trabalhadores. Isso passou a ser efeito colateral. O cerne da questão é passar para a opinião pública a ideia de que o Estado, após dezenas de anos, voltou a ter o controle de regiões cariocas antes sob o poder de traficantes, milícias e afins. O que é verdadeiramente real conta muito pouco.

Ninguém está disposto a entender todo o processo que levou a este estado de coisas. O carioca quer de volta o direito de andar nas ruas de sua cidade sem ser alvejado, tão somente. O resto, pode ficar para depois. Não interessa ser discutido quem vai pagar a conta, aonde vai ser gerada a riqueza que irá encher as barrigas de homens, mulheres crianças e idosos, antes supridas pelo dinheiro advindo da venda de crack, maconha, cocaína e afins. Também não vale a pena ser detalhado o modelo que levou a tudo isso ser catalizado.

A espoleta foi a transferência de um certo Márcio Nepomuceno, também conhecido como Marcinho VP de uma penitenciária para outra. O Estado não conseguiu ao longo de vários anos impedir que um sujeito, de dentro de um presídio continuasse no comando do narcotráfico. O cara está há 11 anos detrás das grades e mesmo assim todos os seus comparsas ainda batem continência.

Não há como controlar a comunicação de presos com a comunidade. A Ordem dos Advogados do Brasil defende peremptoriamente que bandidos e advogados possam ter audiência reservadas, longe dos olhos e ouvidos das autoridades. Um juiz pode autorizar que qualquer suspeito seja grampado, vigiado, espionado. Mas um bandido com um rosário de crimes nas costas pode continuar controlando o crime, casando e batizando, sob as bençãos da tão bem conceituada instituição dos advogados.

Em uma democracia, todas as ações políticas visam a conquista da opinião pública. Precisa-se ter um discurso bem elaborado capaz de conquistar corações e mentes em cada passo que se deseja dar. O poder tem vontade própria e os homens se colocam a serviço dele, e não o contrário. Nunca. Agora está fácil de se invadir favelas com tanques de guerra, o que antes seria impensável. Mas esse jogo, como em várias oportunidades anteriores, vai virar. Logo, logo vão aparecer os autores de outros discursos. Pessoas inocentes estão morrendo, os problemas sociais não estão se reduzindo, a população continua sofrendo. É só uma questão de tempo.

O narcotráfico tomou de conta dos morros cariocas porque não rende voto ações enérgicas das polícias contra segmentos da população. As fronteiras foram relaxadas, porque o Brasil não produz coca. Toda ela entrou de alguma forma, e em muitos casos tiveram facilitadores. Já ouvi falar até de ambulância de prefeitura transportando droga. Mas isso é outro caso.

É claro que droga não é afeita somente aos países pobres. Todos têm seus problemas nessa área. Mas, sem qualquer dúvida, no Brasil a questão tem fortes componentes sociais. O exército do narcotráfico é infinito, enquanto houver jovens desesperançados, sem perspctivas de uma vida digna, sem condições de igualdade na árdua competição do capitalista mercado de trabalho. Todo mundo quer usar nike, todo mundo quer andar dentro dos panos, ir a shopping, ter namorado sarado e namorada loura. Por que só uns têm esse direito enquanto a grande maioria, não?

segunda-feira, novembro 15

Desonestidade intelectual

Vou ser breve porque acho que o assunto não merece um esforço maior, mas também não deve passar despercebido.Poucas coisas me causam a indignação de uma desonestidade intelectual. Alguém culturalmente privilegiado, que possui a capacidade mental de discorrer sobre determinado recorte da realidade de forma convincente, até mesmo eloquente, se utilizar dessas ferramentas para fins mesquinhos, malévolos. Isso mexe com os meus nervos, certamente. Principalmente, quando se trava neste país uma luta desigual e as vezes desumana por dias melhores para a grande maioria da população. Ninguém merecia ler determinadas coisas publicadas pela Folha de São Paulo.

Nesta sexta-feira li uma ignomínia assinada por uma certa professora de direito, Janaina Conceição Paschoal da Universidade de São Paulo - USP, fazendo a defesa da estudante Mayara, autora de textos de microblog vociferando contra os eleitores da presidente Dilma e conclamando todos a matar um brasileiro morador de fora do eixo Sudeste-Sul do país. Segundo essa articulista da FSP, teria sido Lula quem iniciou toda essa divisão nacional, e que antes do petista, o Brasil era uma nação unida, como todos os brasileiros vivendo como irmãos. Em outras palavras, a xenofobia, o racismo, o separatismo foram obra do ex-metalúrgico. Com Serra tudo seria diferente.

Texto literal publicado na sessão de opinião da Folha da professora uspiana: "É o nosso presidente quem faz questão de separar o Brasil em Norte e Sul. É ele quem faz questão de cindir o povo brasileiro em pobres e ricos. Infelizmente, é o líder máximo da nação que continua utilizando o factoide elite, devendo-se destacar que faz parte da estigmatizada elite apenas quem está contra o governo."

Dito isso,a professora ainda chama o país a uma reflexão. Será que ela não sabe que os estados mais pobres do país não estão nesta condição porque os recursos do país foram historicamente usados para promover o desenvolvimento dos mais ricos? Que apesar de um terço da população nacional viver nesses estados mais pobres só têm direito a 10% do bolo nacional dos investimentos federais? Que sempre que aconteceram levantes por conta de tantas injustiças foi o poder central, localizado no Sudeste do Brasil que esmagou com punho de ferro os ideias libertários? Que foi o ministro do Planejamento José Serra que exterminou a Sudene, a Suframa e quis extinguir a Zona Franca de Manaus?

São acontecimentos emblemáticos de conhecimento de qualquer aluno de nível médio. Não quero crer que uma professora universitária de uma das mais bem conceituadas faculdade de direito do país seja tão desinformada, mesmo sendo paulista. E o mais grave é querer enganar o restante dos paulistas através de seu artigo. É para isso que serve a liberdade de imprensa?

Não quero me alongar demonstrando que os estados pobres sempre foram tratados como um problema de si próprios enquanto que os problemas do restante do Brasil é sempre visto como um problema nacional. Se os exportadores paulistanos estão com dificuldades, o problema é nacional, se o narcotráfico no Rio de Janeiro está gerando um poder paralelo, é problema do país, se o setor de calçados do Sul do país enfrenta concorrência do mercado internacional, preocupe-se Brasília. E se o coronelismo ainda impera nos sertões, ah! isso é problema cultural! Nada tem a ver com a gente! Eles que se resolvam!

domingo, outubro 24

Muito além de um Rojas

Tudo bem! Vocês podem entregar as principais empresas nacionais em troca de gordas propinas, podem sucatear as universidades e o restante do ensino público, podem congelar salários de servidores, podem deixar serem destruídas as rodovias, podem continuar favorecendo o capital internacional, podem deixar o país em eterno endividamento com o FMI, podem arrebentar com os pobres, aumentar o número de miseráveis, ampliar as desigualdades sociais e deixar uma geração sem esperança. Só não podem liberar o aborto. O resto a gente aguenta.

Parece que é isso que parte de uma nação está dizendo ao escolher uma certa candidatura que pretende tratar o país como se fosse uma horda de idiotas, sem nenhuma possibilidade de discernimento. Se o bom senso prevalecesse essa eleição seria a zero. 100 milhões de votos contra nenhum. Nem o #serrarojas votaria em si mesmo, sabedor que é das suas programadas tretas quando de posse do poder nacional.

Mas a vida, infelizmente, não é assim. Há uma multidão que se rende a discursos insólitos simplesmente porque reveste de infabilidade determinadas lideranças. Se o meu pastor falou, se o meu padre falou, se o meu prefeito falou é verdade, só pode ser verdade. Aliado a isso há uma mídia que anda de braços dados com o tucanato, vislumbrando, com a tomada do poder, gordos contratos. Em vez de serem codificadores das representações da realidade, os meios de comunicação passaram a gerar discursos que ajudam a defender e referendar candidaturas tucanas. A imprensa me parece que retornou ao século XIX, e início do século passado, quando representava partidos políticos ou ideologias, abertamente. Tinha o jornal republicano e o monarquista, o do PSD e o da UDN, O escravocrata e o abolicionista. Agora, são todos os meios de comunicação, ou quase todos, árduos defensores do neo liberalismo.

Só que agora, ao contrário daquela época onde as cartas eram marcadas, as coisas são dissimuladas para facilitar o engodo. A mídia faz de conta que é neutra para ter um maior poder de destruição como discurso majoritário. A ideia é fazer de coisas irrelevantes, como a liberação do aborto (que não depende da presidência para acontecer) assunto de primeira grandeza. Se é capaz de tirar votos, então que se explore até que todo o desgaste possível tenha sido realizado.

Mais ridículo ainda é tentar transformar em agressão severa um incidente de campanha. Vai que Serra tivesse mesmo sido atingido por uma pedrada e estivesse neste momento em coma. Que provas foram apresentadas sobre a autoria do atentado? Alguém apareceu como o autor do pseudo crime? Por que a Globo, que é capaz de nominar de simples acusado um assassino, como o caso do goleiro Bruno, saiu logo disparando e dizendo que tinha sido um petista quem arremesou uma suposta e pouco real bobina adesiva? E se foi um militante tucano? Ou uma armação do próprio Serra para se sair de vítima? Ninguém trabalho com essas hipóteses, que são normas de qualquer manual de jornalismo.Nenhum repórter minimamente preparado pode comprar versões que não se sustentam. Bem, os tucanos querem o fim da profissão de jornalista, mas isso já é outra história...

Se persistia ainda alguma dúvida sobre o comportamento da rede Globo em questões políticas, acho que agora não há com se ter ainda. Sabemos o que foi o caso Proconsult, quando a rede quis sustentar a vitória de Moreira Franco contra Brizola, a famigerada edição do debate entre Lula e Collor, mas agora todos os limites da ética foram ultrapassados.

Inventou-se um atentado sem nenhuma prova, uma agressão aonde não existe nenhum corpo delito, o candidato não mostrou nem o roxo da suposta pancada e foi introduzida a figura de um Molina, um perito policial que nunca ouviu falar em trucagem de vídeo. Como é que isso tudo pode acontecer e se fazer de conta que tamanho embuste não é um crime de lesa pátria?

O pior ainda é que toda a revolta dos que viram o mesmo que estou vendo se volta para Wiliam Bonner e Fátima Bernardes. É claro que eles têm a sua parcela de culpa. Assim como os nazistas que cumpriram ordens. O casal Telejornal Serra não deveria, em nome da ética, participar de um teatro que visa a ludibriar toda uma nação. Mas os grandes responsáveis são uma quadrilha formada há 200 anos no país, se revezando de pai para filho, com o objetivo de se locupletar da miséria da grande maioria da população.

Infelizmente, por total incompetência da campanha de Dilma Roussef, pessoas como o Serra ainda vão amanhecer em novembro com uma aura de honestos, probos, trabalhadores e competentes aos olhos de muitos. Se fosse eu a comandar essa batalha pelo lado petista, Serra não teria nenhuma condição sequer de se candidatar a síndico de seu condomínio.

sexta-feira, setembro 24

Cada qual no seu quadrado


Um certo pastor evangélico procura influenciar seus seguidores e posta no Youtube um video pedindo que não votem nos candidatos do Partido dos Trabalhadores porque, num claro oportunismo eleitoreiro próprio das instituições religiosas, diz ver nessa sigla intenções advindas das profundas do inferno. Em um cuto espaço de tempo, a peça propagandística é assistida por mais de dois milhões de internautas, fora as divulgações do discurso através de outras mídias. Na semana seguinte as pesquisas de opinião demonstram que o cenário eleitoral está inabalado. As repercussões aferidas pelos institutos de consulta popular foram imperceptíveis, beirando a zero.

Jornais O Estado de São Paulo, Folha de São Paulo, O Globo, as redes de TV Globo e Bandeirantes, as revistas Isto É e Veja requentam em um looping interminável notícias as mais estaparfúdias, tentando melar o processo eleitoral para prejudicar Dilma Roussef. Chegam ao ponto de trazer para os dias de hoje, em um malabarismo temporal, denúncias de quebras de sigilo que aconteceram há um ano Ao mesmo tempo, é absoluta e propositalmente esquecida a quebra de sigilo de todos os brasileiros, produzida por uma empresa de da filha de José Serra, em sociedade com a irmã do banqueiro meliante Daniel Dantas . A tentativa de manipulação da opinião mais uma vez não funciona. Pesquisas mostram que Dilma permanece inabalada na liderança da opinião pública.

O presidente Lula diz que é preciso extirpar o partido DEM do cenário político nacional. A imprensa adestrada por tucanos sai rasgando o verbo, afirmando em bom tom que isso seria atentar contra a democracia, claro que o pano de fundo é a busca pelo desgaste de Dilma. Novamente o intento é frustrado. É mais grave, na minha concepção, tentar esconder que o DEM é o antigo PFL que era o antigo PDS, que era a antiga Arena, que foi formado pelos apoiadores e avalisadores do golpe Militar de 1964, como Antonio Carlos Magalhães, Paulo Maluf e toda sorte de conspiradores contrários aos princípios democráticos. Ou seja, na visão desta imprensa nefasta, ser antidemocrático é querer a extirpação da vida política de golpistas, conspiradores, oportunistas, viúvas da ditadura, aliados incondicionais do entreguismo nacional promovido pelo PSDB.

Na minha avaliação, a população brasileira, nestas eleições, está dando um exemplo de maturidade política. Mesmo antes da abertura das urnas, já demonstrou claramente que não é mais, até que me provem o contrário, apenas um joguete nas mãos dos empresários latifundiários da comunicação nacional. O eleitor está se baseando em sua vida pessoal, nas transformações ocorridas em seu próprio meio para adotar a sua decisão. E isso não significará apenas não dar importância às tentativas de mistiticações. Com certeza, terá influências no próprio mercado. Dá gosto de ver exemplares de revistas encalhados em bancas e pontos de venda por conta do descrédito.

Para quem não considerou o assunto enfadonho e árido, recomendo este texto: http://migre.me/1okVI€€

PS. Volto ao teclado mobilzado pela minha comentarista solitária.

terça-feira, agosto 31

Diferenças entre Dilma e Serra

O que é óbvio para a grande maioria do povo brasileiro é que Lula conseguiu administrar esse país de forma muito mais benéfica para as camadas mais necessitadas da população do que os 500 anos anteriores de tucanismo-demonismo, tão bem sincretizados na gestão FHC. E o coitado do Serra ainda quis, através de uma propaganda enganosa, dizer que era a continuidade de Lula. Quem esse paulista pensa que é? Ou melhor, o que ele pensa da inteligência do povo? O mais estupefaciante é repetir em sua propaganda que foi ministro duas vezes. Mas ministro de quem? De que Governo? Só faltou afirmar que era do ministério de Lula.

Falando na real, Serra jamais poderia ter sido o candidato do PSDB, se esse partido quisesse ter alguma chance na atual campanha. Porém, Serra preferiu esfacelar o partido mesmo sem qualquer possibilidade de vitória a ter a humildade de reconhecer que Aécio Neves seria muito mais palatável à opinião pública. O ex-governador mineiro não havia sujado as mãos na gestão FHC, e por isso mesmo estaria desvinculado do ex-presidente tucano. Serra e FHC são a mesma coisa, o país sabe disso. Só Serra parece não saber. E como tal, a comparação não é Serra x Dilma, mas FHC x Lula. Desta forma, o máximo de popularidade adquirida, fruto de uma administração bem aceita e quista, não poderia ter alguma desvantagem contra uma gestão que terminou pifiamente, supermega mal avaliada, com inflações galopantes e dólar a R$ 4,00. Quem seria o doido de querer isso de volta? Só os que pensam em se locupletar nas tetas da viúva. E tal contingente é infinitamente minoritário entre o eleitorado.

Além de uma candidatura natimorta, o tucanato produziu erros em profusão durante a campanha em curso. Se não bastasse a estratégia equivocada de querer mostrar Serra como o candidato de Lula, a propaganda do Zé não tinha o que dizer. Por isso, tentou de todas as formas desqualificar Dilma Roussef. A última estratégia foi chamá-la de terrorista por ter tido a ousadia de lutar contra a ditadura militar. O mais primário sociólogo seria capaz de tirar a legitimidade de uma luta que tem como adversário um regime autoritário, ilegal, inconstitucional e divorciado da vontade da população. Serra deveria ter consultado o seu mentor FHC sobre o assunto.

Mas, sem dúvida, o maior de seus erros foi acreditar que os mídias tucanos (Folha de São Paulo, Revista Veja, e o grupo Globo) seriam capaz de sustentar a sua campanha contra tudo e todos. Felizmente, o Brasil tem comunicações alternativas capaz de fazer frente a esta avalanche de contrainformação e a inexorável avaliação pessoal de seus proprios sentimentos com relação às transformações acontecidas no país. Não é mais possível através da edição de um debate como já foi feito, mudar o rumo de uma eleição. Agora, as pesquisas de opinião começam a fazer seus ajustes para não cair no descrédito total no primeiro domingo de outubro. Sabe qual é a principal diferença entre Serra e Dilma? 24 pontos nas pesquisas de opinião. Quem viver verá.

sábado, agosto 28

Certo ou feliz?


Há dias uma determinada expressão me persegue e tem consumido alguns ATPs de minha massa cinzenta. Ser feliz ou estar certo? A princípio, todos se lançam rumo a felicidade. É claro que ninguém quer ser infeliz, mesmo que para isso precise cortar os dedos ou vender a mãe. Felicidade, na visão de alguns filósofos é a razão primeira da existência humana. É o que humaniza o homem e nos faz absolutamente diferentes de tudo o mais que possa existir na criação divina.

Sorte minha que por esses dias tive a oportunidade e a felicidade (olha ela aparecendo aqui) de cruzar com os pensamentos da filósofa judia-alemã Hannah Arendt que me lançaram algumas luzes sobre essa questão. A primeira delas é que faz sentido o meu primeiro insight de que ser feliz ou está certo é uma falsa dicotomia. Não há felicidade fora da razão, é a minha conclusão. Sem estar certo, a pessoa pode se manter na zona de conforto, evitar conflitos, tornar-se manso e dócil, assegurar a redução de eventuais tensões na busca por uma harmonização empírica. Mas nada disso pode ser visto como felicidade, na minha precária visão.

Hannah conheceu as atrocidades do nazismo in loco, expatriada que foi da Alemanha, em 1933. E não atribuiu os crimes praticados contra os judeus somente ao comando do poder germânico, mas, principalmente, aos pais de famílias, a grande maioria, que cruzaram os braços diante das maldades para não por em risco seus empregos, a condição que desfrutavam na sociedade alemã, o conforto, e em última análise, a suas felicidades comezinhas. O resultado deste não-comprometimento com o justo, o certo e a razão foi o desastre que se seguiu, com repercussões até hoje, mais de 60 anos após o fim da guerra.

Em 1963, Hannah escreveu sobre Eichmann em Jerusalém, o nefastamente famoso engenheiro da solução final, que levou milhões de judeus aos campos de extermínio. Ela considerou que o grande exterminador não era alguém terrivelmente mal, mas um típico burocrata que se limitara a cumprir ordens, com zelo, sem nenhuma capacidade de destinguir o bem e o mal. É claro que os judeus israelenses não gostaram dessa frase. Eles preferiram a espetacularização de proporções mundiais do julgamento do criminoso de guerra. Eichmann não poderia ser alguém "horrivelmente normal" como apregoou a escritora.

Quero deixar claro que o nosso juizo individual é sempre passível de imperfeições. Podemos nos admitir certos e dentro da razão em situações que um terceiro olhar não permitiria tal avaliação. Mas, por outro lado, não podemos ficar deslizando em falsas dicotomias ou se evadir totalmente de determinados confrontos interiores em nome de uma pax romana. É o que tenho a dizer no momento, procurando não ser cansativo, mas já o sabendo como tal.

quarta-feira, julho 28

Cultura e o Guia do Mochileiro das Galáxias


Pronto, fui ontem conhecer a livraria Cultura que se instalou em Fortaleza. O novo ponto cult da cidade. Quem ainda não andou por lá é porque não gosta de livros ou está totalmente fora de moda. Acho que me incluo na segunda categoria. Na primeira compra, fui logo surpreendido pela falta de controle de qualidade do que é vendido.

Adquiri pela segunda vez o Guia do Mochileiro da Galáxia. Nem ia ler, mas por não ter nada a fazer, dei uma folheada. Não foi a minha surpresa, estavam faltando três capítulos inteiros. Do três ao cinco. Vou lá hoje destrocar o livro. Obriguei-me a comprar novamente este livro porque o primeiro foi emprestado a quem nunca mais devolveu. E já vão alguns anos. A pessoa nem sequer mora mais na cidade. Pela terceira vez um livro que eu gosto muito desaparece nas mãos de amigos. Fora os que se foram e eu não dei conta. Não aprendo nunca. Mas de que vale um volume encostado na estante?

Mas a Cultura tem os seus encantos. Pena que não tenha pessoas que realmente entendam de livros por lá. Afinal, que iria... Por isso, vou rezando para os meus santos, pedindo que os kindles se popularizem logo, de uma vez por todas, e a gente passe a ter acesso de forma mais efetiva ao que o mundo escreve.

Para quem não sabe, ou ainda não percebeu, o nome deste blog foi tirado da trilogia de 5 livros (é assim que está dito no próprio livro) Guia do Mochileiro das Galáxias. Uma das coisas mais geniais que li até hoje.

sábado, julho 17

Da Copa para a cozinha



Minha irmã viu isso, e lembrou-se de mim. Recebi ontem e hoje pude degustá-lo. Tem méritos. Recomendo.

sexta-feira, julho 16

O que é o amor

O amor. O homem não precisa de amor.
Precisa de posses.
Seu carro, sua casa, seu iate
sua família, sua mulher seus filhos.

E conquistas. O homem precisa de conquistas
Precisa se fazer de inteligente e bem sucedido
Para conquistar suas posses,
rostinhos e corpinhos.

Aquele rico empresário, barão das privatizações
conquistou a rainha da bateria.
Teve a sua mulher e seus filhos.
Rico homem, dono de bela família.

Mas a mulher não precisa de amor.
Ela quer segurança, bem estar
E alguém que seja provedor
De Shoppings e compras
Bolsas Louis Vuitton, Dior e Prada
Cartão de crédito sem limites.

Tudo de bom, mas nada, nada mesmo
Que liberte de ansiolíticos receita azul
Bromazepan, alprazolan, clonazepan.
Nem que deixe menos verde
A grana do vizinho.

quinta-feira, julho 15

Jornal de domingo

Um texto genial de minha amiga Cibele

Mundo surreal: um sujeito escreve que o acidente com o petróleo no Golfo do México será positivo para o Brasil. Me pergunto de que maneira destruir estupidamente milhares de formas de vida marinha pode ser positivo para alguém em qualquer parte do universo. O sabidão explica que pode. O Brasil vai ganhar investidores e muita grana com toda essa tragédia. Agora me explique, caro economista: quanto vale uma vida? Quanto você pagaria pela sua? Aquele irmãozinho pelicano merece morrer para que a Petrobrás fature um pouquinho? Bom, não me explique, eu, sinceramente, não tenho o menor interesse em entender.

O jornal de domingo nunca tem nada que preste. O jornal nunca tem nada que preste. Eles não podem contrariar os interesses de todas aquelas nobres instituições que pagaram o espaço publicitário e escrever a verdade. Bem, quem se importa com a verdade? Como diria aquela musiquinha breeega do George Michael, "there´s no comfort in the truth, pain is all you´ll find" e a classe média, leitora de jornais, precisa de conforto. O tempo todo, muito conforto. Eles precisam de pessoas que limpem suas privadas, que lavem suas roupas, que lhes abram as portas do prédio, que sejam jogadas do barraco na Berrini para as profundezas da Vila Gilda porque, meu Deus, eles pagam tão caro pelo conforto. E pagam mesmo. Disso não há a menor dúvida. Pagam com o tempo, com o corpo, com a mente, com a alma, com dinheiro, com impostos. É justo, sim, que tenham o conforto, já que pagam tanto, o tempo inteiro.

O andar de baixo está pegando fogo, como diria Amma, eles estão no andar de cima e acreditam que o fogo jamais chegará até eles se continuarem pagando. Fogo! Fogo! Embaixo está tudo queimado, mas enquanto nossa fumacinha vier do cigarro, do cigarro de maconha e do churrasco, que o povo do andar de baixo queime, queime quieto, queime sem reclamar e longe de nossas vistas porque nós, a classe média, com certeza pagamos pelo fósforo que eles conseguiram comprar porque receberam o Bolsa-Família.

Todos estão queimando. Não tem jeito. É mais confortável imaginar que não, mas, olha isso: sua alma também queima, desesperada, ela implora para ir ao andar de baixo e retirar de lá, dos escombros, aquela irmãzinha que ficou pra trás. Ela também sofre com a imagem do irmão pelicano morrendo dentro daquela mancha de petróleo. No fundo você sabe que só haverá paz dentro de você quando o andar de baixo parar de queimar, quando o andar de baixo parar de existir, quando você e os do andar de baixo viverem no mesmo lugar. Mas, até lá, nos contentemos com todo este conforto e com as loucuras publicadas no jornal.

sábado, julho 10

Homem de Ferro II


Lembro-me do meu professor de histórias em quadrinho que me falou certa vez que é muito complicado levar para as telas os herois dos desenhos, pelo simples fato que eles ficam humanos, demasiadamente humanos, ao ponto de não serem capazes de executar na tela o que rola nas páginas dos gibis. Ou então se transformariam em seres pouco críveis. Talvez. Essa compreensão me afeta todas as vezes que assisto algum derivado das revistinhas de minha infância-adolescência.

Não poderia ser diferente com o Homem de Ferro, herói, confesso, que passou ao largo dos meus preferidos. Achava aquele artifício de sempre ter de carregar as baterias um saco. Fui assistir ao primeiro, confesso, mais para ouvir a música do Black Sabath. Queria saber como ela se encaixou dentro do roteiro. Não se encaixou. Serviu apenas para embalar a subida dos créditos no final. Essa foi a primeira decepção, de tantas outras que viriam em seguida.

Mas estamos falando do Iron Man II. Gostei da criatividade do roteirista que deu ao personagem Tony Stark um espírito muito mais bem humorado do que o soturno das HQs que lhe deu vida. Nos quadrinhos ele estava sempre deprimido com a morte iminente, e a recusa de se envolver com alguém por ter a vida sempre por um fio. Acho que ele percebeu que no primeiro filme, quando o personagem principal adotou uma postura politicamente correta de preocupação com os destinos da humanidade a história caiu muito em ritmo e em interesse. Daí, foi ressucitado o Tony Stark do começo do primeiro filme. Não dá de forma nenhuma para ver o segundo como uma continuação do anterior. As peças simplesmente não se encaixam.

Filme que é filme deve ser visto como uma obra acabada, que até aceita sequências. Salvo raras exceções, que todos devem saber quais são. Para assistir o dois é dispensável o um. Basta ter algum conhecimento prévio do quadrinho, mesmo Tony Stark vivendo uma nova encarnação de playboy bonachão, despreocupado com valores morais, megalomaníaco ao ponto de se considerar o grande fiador da paz mundial. Galinha, daqueles que passa a mão em toda mulher que lhe atrai. Isso rende algumas piadas, do tipo quando olha para Scarlet Johansson (Viuva Negra) e diz "quero uma", como se a sua secretária, vivida por Gwyneth Paltrow fosse capaz de suprir essas "encomendas".

Até aí, tudo bem, mas a coisa fica meio de serra acima quando o seu melhor amigo, um certo coronel do exército, se irrita com um porre que Tony, vestindo a sua indefectível armadura, e após também trajar uma roupa metálica mimetizando o nosso heroi, sai no braço , jatos propulsores e rajadas mortais de energia com o até então amigo. Não satisfeito, trafica o traje que é confesso objeto de desejo do Governo Americano e o entrega para o maior rival do empresário bonachão. Diga-se de passagem que esse coronel já tinha falado coisas que poderiam prejudicar Stark em uma comissão do Congressso Nacional.

Parece-me que o Homem de Ferro ou é profundamente ingênuo, coisa que o filme até então desmente o tempo todo, ou adora ser traído. Não é que o mesmo coronel que aprontou com ele termina fazendo uma parceria no grand finale? Isso, na minha precária avaliação, é fazer os outros de tolo. Todos nós sabemos da irreverssibilidade ao se passar para o negro da força em histórias de capa e espada. Lord Darth Vader só se recupera quando está à beira da morte. Mas esse coronelzinho transita com muita desenvoltura entre os dois lados. Rouba uma armadura do homem de ferro e a troca por algumas armas que poderiam ser encontradas em qualquer mercado negro dos morros cariocas. Logo em seguida, volta para auxiliar no combate às forças do mal. Estranho, bizarro, mal construído, mal amarrado esse coronel. Mas, para alguém que gosta das pirotecnias hollywoodianas proporcionadas por efeitos visuais, o Homem de Ferro II está bem servido.

sábado, julho 3

O Pequeno Nicolas


Semana passada, em Fortaleza, foi exibido A Mostra de Cinema Francês Varilux. Passou quase despercebida, ninguém deu a importância que deveria ser dada, em função da qualidade dos filmes apresentados. Mas graças a minha amiga Anna, que fez a gentileza de me passar uma cópia digital, pude assistir O Pequeno Nicolas.

O filme, dirigido Laurent Tirard, traz a história de um menino de nove anos que anda assustado com um suposta gravidez da mãe. Um irmão, a valer a experiência de um colega que está assustado com a sua mãe efetivamente grávida, poderia ser a entrada no pior dos infernos. A perda da primazia das atenções, a possibilidade de ter seus brinquedos quebrados, ou até de ser abandonado em uma floresta a exemplo do que acontece com João e Maria, um conto infantil que já lhe foi narrado na escola.

Então, é preciso se livrar do irmão que irá nascer de alguma forma. Ele pensa em contratar um gangster qualquer para dar o sumiço no irmão. O filme segue mostrando o quanto as crianças levam a sério seus medos e traumas. Ao ponto de conseguir de forma criativa os 500 francos necessários para contratar o marginal que dará cabo no bebê.

O roteiro prima pela originalidade, apesar de ter se baseado em uma série de desenhos belgo-francesa Le Petit Nicolas que conta a vida de um menininho encrenqueiro e inocente, que nunca entende a reação dos adultos. A ligação é bem clara na animação posta na apresentação dos créditos.

Merece destaque a interpretação dos atores mirins. Eu que não sou muito de reparar nisso, me encantei. Impagável também é o almoço que o pai de Nicolas oferecem ao chefe, com o objetivo de conseguir um aumento de salário. Sem dúvidas, é uma comédia fina, que foge em absoluto das piadas forçadas, previsíveis e repetidas das produções norteamericanas. A fotografia é de uma qualidade que espanta. Percebam na cena em que os meninos estão levantando fundos para a contratação do facínora. A direção se faz presente e engradece artisticamente o roteiro que é muito bom, como um todo.

Se me fosse dado o direito de dar uma nota a esse filme, seria 10. Le Petit Nicolas tem qualidade para agradar e encantar a todos quantos assistam.

sexta-feira, julho 2

Entre golfinhos e gols do Brasil

O melhor da copa é isso. Dia de jogo, ninguém trabalha. Ou se trabalha, é menos. Mas como é também aniversário do Fabrício, vamos ter também um churrasco no rachid. Ele uma hora dessas deve estar "coisando" a piscina para quem quiser tomar banho depois de o Brasil meter uns gols nessa Holanda metida a besta.

Tenho visto uns filmes legais. O melhor deles foi Le Petit Nicolas, que circulou por aqui no festival Varilux de cinema francês. Quem não seu deu ao trabalho, como eu, pode pegar na net. Ou pedir a quem já tem, como eu fiz. Valeu Anna! Bonzinhos também O Exame e um documentário sobre a matança dos golfinhos no Japão. É ressalta especialmente aos olhos que a cidade patrocinadora do maior golfinhocídio do planeta tem no animal uma de suas principais atrações turísticas. São representações de golfinhos por tudo quanto é lado, das formas mais singelas, desde barcos até brinquedos de pelúcia, enquanto que a mortandade é guardada a sete chaves.

Ou era, já que o antigo treinador do Flipper conseguiu gravar as imagens de como os pescadores japoneses são capazes de ser cruéis com os bichos. Para quem não sabe, o golfinhos são tratados como pragas, uma vez que, segundo ele, disputam os peixes com os rachis humanos. O nome do documentário é The Cove. Fácil de pegar na net. Mas quem não quiser ter o trabalho, é só me dizer. Mando cópia. É o tipo da cois que todo mundo deveria assistir. Mas hoje não é dia para ficar falando de coisas tristes, porque logo logo confirmaremos a vaga na semifinal. E o melhor será amanhã, com a desclassificação da Argentina, que não tem nada de hermano, como alguns insistem em dizer.

domingo, junho 27

Mr. Ninguém


Podemos ter certeza de que as nossas memórias são reais? O que pensamos ter sido o passado realmente aconteceu? Qual a diferença entre a imaginação e a realidade? Essas questões são tangenciadas pelo filme Mr. Nobody, uma produção franco canadense, que traz a vida de um suposto cidadão de 120 anos, o último mortal da terra, em meio a uma civilização que descobriu a imortalidade. Ele é objeto de um reality show, que, no ano de 2085 prepara-se para transmitir a última morte de um ser humano.

Mas esse é apenas o gancho para abordar o quanto somos reféns de nossas escolhas. A memória do ancião se confunde entre três vidas distintas, onde em cada uma delas teria uma esposa, filhos e profissão diferentes. A nós não é dado saber qual foi mesmo a vida que ele viveu. Mas isso não importa. A história é bem construída e mesmo o tempo de 2h18 min de projeção não parece tão longo assim. São seguidas idas e vindas ao passado e ao futuro, através das lembranças do protagonista Nemo Nobody.

Bastante criativa a solução encontrada para o enredo, que ao final não sabemos ao certo se estamos diante de uma memória confusa de alguém à beira da morte, ou se são as fantasias de um garoto de nove anos, que assiste o pai ser abandonado pela mãe. Quando ela está partindo, Nemo enche-se de dúvidas entre morar com o pai ou seguir com a mãe. As duas opções o levarão para uma série de encruzilhadas, assim como nós somos absolutamente dependente de nossas próprias escolhas.

Sem dúvidas, a experiência de assistir Mr. Nobody vale muito a pena, principalmente quando não se gera uma expectativa de uma história única. Ela é polissímica ao extremo. Cabe a nós descobrir ou imaginar aonde ela começa e termina na linha do tempo. Pela originalidade, merece muito ser vista com atenção.

Diretor: Jaco Van Dormael
Roteirista: Jaco Van Dormael
Elenco: Jared Leto, Diane Kruger, Sarah Polley, Rhys Ifans

quarta-feira, junho 23

Opium


Que tal um filme húngaro-alemão? Produções além do eixo Hollywood-New York me atraem, por nos darem uma construção cênica além da que já conhecemos. Opium não foge a essa regra e nos traz alguma coisa parecida com o expressionismo alemão. Pessoas mostradas em toda a sua crueza.

Josrph Brenner é um médico psiquiatra contratado por um hospital para doentes mentais da Hungria. Logo nos primeiros minutos percebemos que ele não tem nenhum escrúpulo. Se aproveita da condição de ser também escritor para arrumar envolvimentos sexuais com as suas leitoras. A aura de artista é suficiente para abrir as pernas de uma companheira de vagão, no trem que o levará a seu novo emprego. Ele satisfaz os seus desejos sem ter nem a delicadeza de perguntar o nome da parceira. tudo é feito cruamente, como em todo o filme.

O hospital mais parece com uma masmorra da inquisição. Destinado a mulheres dementes, é palco dos mais variados experimentos. Seres são despidos de qualquer roupagem minimamente humano, como se bichos fossem. Entre essas coitadas está Gizella, que se diz possuída pelo mal, e afoga o seus desespero em escritos intermináveis. Mesmo assim, tem alguns momentos de lucidez e consegue estabelecer comunicação com Brenner.

Opium é o vício do psiquiatra, que se encontra em crise de criatividade, sem assunto para o novo livro. Gizella transforma-se na porta para o retorno dele à literatura, em uma relação doentia, inescrupulosa, mostrada de maneira seca pelo filme. Não é diversão fácil assistir esta produção, que tem um roteiro arrastado, pesado e denso. As interpretações, notadamente da atriz Kirsti Stube, são dignas de nota. A direção é do húngaro János Szász, que também assina o roteiro.

sábado, junho 19

Kick Ass - Quebrando Tudo


Fiquei, após assistir a esse filme, com a nítida impressão que Hollywood resolveu dar uma resposta, diante de tantos assassinatos em massa, alguns praticados por adolescentes com problemas de socialização e de bullying. Algo como "apesar de você ser um zé mané, um futuro brilhante pode ser construído. É só despertar o super-herói que existe em seu interior". E mais uma vez foi buscar nos quadrinhos , que eu nunca li, confesso, o personagem capaz de preencher o modelo concebido.

Trata-se de um adolescente desses que ninguém percebe nas escolas. E que imagina ser isso o normal. De poucos amigos e filho órfão. Logo no início da trama, a morte da mãe é tratada como uma coisa banal, insuficiente para mudar a rotina irritantemente imutável. Mas dentro de si há um desejo juvenil de mudança. Ele e seus dois únicos amigos ate ensaiam se aproximar de um menino abastado que anda em limousines. Imaginam que uma amizade com alguém com grana poderia atrair a atenção de outras pessoas e principalmente das meninas. Nesse esforço, no entanto, escutam do guarda roupas que faz a segurança do riquinho um "kick ass", uma ordem para que se afaste.

A expressão é usada para batizar o nome do super-heroi que vai ser vivido pelo personagem Dave Lewinski (Aaron Johnson). A fantasia verde do paladino é comprada na internet, sinais de tempos mordenos, mas que é insuficiente para lhe conceder alguma habilidade. Falta até coordenação de movimentos no nosso herói. Fica muito claro que ele vai se meter em encrenca. E é exatamente isso que acontece. Leva uma surra de dois marginais, e chega a ser esfaqueado e levado ao hospital. Mas heroicamente impede o assalto que foi assistido por dezenas de pessoas. Logo um filmete vai parar na Net, dando fama ao super-heroi atrapalhado.

O personagem é algo como uma antítese de Henry Chinaski, que nos foi apresentado pelo escritor Charles Bukowski, em seu Misto Quente. Vida confusa ao extremo. Com a diferença que este prefere as bebidas aos atos de heroismo, e as pancadas que toma, ou dá, são em causa própria e nunca em busca de algum reconhecimento público.

Na identidade pública de Dave, ele é confundido com um gay. Por isso, é aceito como amigo de uma bela menina que tem envolvimento com gangster. Como diz a lenda, amigo de mulher é cabelereiro. Lugar comum aqui e alhures. E para intermediar esse conflito, ele se mete em confusão com gente violenta em alto calibre. Nada que conseguisse resolver só. Nessa missão conhece a super-heroina Hit Girl, uma menina de 11 anos, que é treinada pelo pai em combate, um ex-policial, que ficou preso injustamente alguns anos e agora volta para se vingar. Hit Girl livra a cara de Kick Ass. É esse o ponto de virada.

Apesar de tantos clichês, o filme é divertido e reserva algumas surpresas que tornam a trama mais atraente. Vale destacar a apresentação de Hit Girl e seu pai (vivido por Nicolas Cage) e a forma sanguinária como uma menina tão novinha enfrenta a bandidagem. Uma dúvida me restou. O diapasão, aquelas cenas iniciais que antecedem ao desenvolvimento da história, não é pago ao longo do filme. Talvez deixando a porta aberta para uma sequencia. Kick Ass e bom como diversão, para quem não se importa em sair da sala manchado de sangue.


Dirigido por Matthew Vaughn. Com: Aaron Johnson, Nicolas Cage, Chloë Grace Moretz, Mark Strong, Christopher Mintz-Plasse, Lyndsy Fonseca, Michael Rispoli, Jason Flemyng, Elizabeth McGovern.

quinta-feira, junho 17

O Juramento do Árabe


Baçus, mulher de Ali, pastora de camelas,
Viu de noite, ao fulgor das rútilas estrelas,
Vail, chefe minaz de bárbara pujança,
Matar-lhe um animal. Baçus jurou vingança,
Corre, célere voa, entra na tenda e conta
A um hóspede de Ali a grave e inulta afronta,
"Baçus, disse tranquilo o hóspede gentil,
Vingar-te-ei com meu braço, eu matarei Vail."
Disse e cumpriu.
Foi esta a causa verdadeira
Da guerra pertinaz, horrível, carniceira
Que as tribos dividiu. Na Luta fratricida,
Omar, filho de Anru, perdera o alento e a vida.
Anru, que lanças mil aos rudes prélios leva,
E que, em sangue inimigo, irado, os ódios ceva,
Incansável procura, e é sempre em balde, o vil
Matador de seu filho, o traidor Mualhil.
Uma noite, na tenda, a um moço prisioneiro,
Recém-colhido em campo, o indómito guerreiro
Falou, severo, assim:
" Escravo, atende e escuta:
Aponta-me a região, o monte, o plaino, a gruta,
Em que vive o tridor Mualhil, diz a verdade;
Dá-me que o alcance vivoi, e é tua a liberdade!"
E o moço perguntou:
"É por Alá que o juras?"
"Juro" - o chefe tornou -
"Sou o homem que procuras!
Mualhil é o meu nome, eu fui que espedacei
a lança de teu filho, e aos pés o subjuguei!"
E intrépido, fitava o atónito inimigo.
Anru volveu: "És livre, Alá seja contigo!"

Gonçalves Crespo, de "Nocturnos"

segunda-feira, junho 14

O Golpista do Ano



Não sei quem inventou, mas o "politicamente correto" é capaz de fazer grandes estragos em muitos setores onde a criatividade é fundamental. Tudo deve se encaixar de forma não gerar sucetibilidades em grupos de pressão. E é isso que os diretores e roteiristas Glenn Ficarra e John Requam procuram fazer em o Golpista do Ano (I Love You Phillip Morris), que tem como protagonista um homossexual encarnado por Jim Carrey. Quando vi o título, pensei que se tratasse de uma subliminar de cigarros, já que o título original nos remete, inevitavelmente a empresa britânica de tabaco. E talvez seja, já que em hollywood nada é de graça. Mas esse é o menor dos problemas da produção.

Carrey dá vida a um policial Steven Russel que é casado e pai. Mas talvez cansado da monotonia, resolve mudar de time e sai do armário. Na sua nova vida, passa a aplicar golpes e mais golpes com o objetivo de sustentar a luxúria onde se meteu. Se primeiro par fixo é uma bicha vivida por Rodrigo Santoro, que, mais uma vez não vai além de uma ponta em uma produção ianque. Os conhecidos exageros performáticos de Carrey são comedidamente explorados, para não deixar o personagem caricata ao extremo. Afinal, a tentação de tornar bichas com trejeitos engraçados uma atração cinematográfica é sempre grande. Vide o repertório de produções com esse teor. Mas isso nos dias não seria politicamente correto.

Da mesma forma, acredito que dentro da linha do politicamente correto, o filme vem recheado com algumas cenas sexuais homo quase explicitas. Coitado do Rodrigo sendo enrabado... Não entendi o porque, e, sinceramente, a plástica dos atos não justificam. Mas é o tal do hiperrealismo justificando-se. Sendo meio e fim em si próprio.

Steven Russel é um mau-caráter de marca maior, capaz de enganar a tudo e a todos para conseguir os seus objetivos hedonistas. Mas acaba se perdendo por querer ser mais esperto do que o sistema, que é rotineiramente burlado. O personagem vai ficando caricata a medida que o filme avança, para enquadrá-lo das regras politico-sociais. Afinal de contas, um gay que abandona uma família, é golpista e mau caráter precisa ser suavizado para não cair nas garras dos guetos. A direção faz de tudo para gerar uma empatia entre o protagonista que não vale o que o gato enterra e o público. Comigo não funcionou, sinceramente. Ao final, acho que ninguém fica inteiramente agradado com essa produção. Talvez só os mais curiosos se interessem.

sábado, junho 12

A educação


Uma jovem estudante, apaixonada pelas artes, mas de família em condições financeiras não muito propicias, conhece um homem uns 15 anos mais velho e com uma conta bancária abastada. A princípio ela ensaia alguma resistência aos galanteios, mas logo cede. A pai e mãe, sabedores das posses do pretenso genro, não colocam nenhum obstáculo ao namoro.

Para desfrutar do seu relacionamento, a jovem Jenny torna-se uma aluna relapsa, chegando a faltar aula. Certa que estaria vivendo os seus melhores dias. Antes do caso, ela era suficientemente boa para ingressar na lendária Universidade de Oxford, mas esse não seria o seu sonho, e sim dos seus pais, pensava . Que futuro teria após concluir ensino superior? Se transformar em uma professora? Muito pouco diante do horizonte que lhe era descortinado.

A sua vida de colegial se transforma em o melhor dos mundos hedonistas, com direito a viagens, festas e hospedagem em bons hotéis. Ela ainda reluta a entregar a virgindade, e marca prazo para isso, no que é respeitada. Afinal estamos na Inglaterra do início dos anos 60. Não Havia Beatles, nem drogas. O máximo de transgressão era fumar um cigarro e beber alguma coisa alcoólica.

O Filme segue mostrando a aventura e a iniciação de Jenny no mundo adulto até que tem um desfecho não muito surpreendente. Mas vale muito pela leveza como a diretora Lone Scherfig desenvolve a trama. Sem afetações, tratando os momentos sem julgamentos. Lone é dinamarquesa e integrou o movimento Dogma, que tem em Lars Von Triers (Dogville,Monderlay, Anticristo, Os Idiotas, O Grande Chefe) seu maior expoente. Esse é o primeiro filme da diretora que assisto. O suficiente para me interessar por outros. A educação vale o preço do ingresso para os que buscam histórias além dos efeitos especiais ou tridimensionais.

sexta-feira, junho 11

Ela É Demais para Mim


As comédias românticas seguem quase sempre o mesmo formato. O cara encontra a menina , ou vice versa, se apaixonam e por algum motivo que foge o controle de ambos se separam em algum ponto médio do roteiro, em seguida temos a preparação do grande finale onde o casal volta a se encontrar, fazer juras de amor eterno. Lágrimas são enxugadas, acendem-se as luzes, fecham-se as cortinas. É assim tanto em o belíssimo Notting Hill, com Hugh Grant e Julia Roberts como em qualquer versão de Cinderela.

Ela não é Demais para Mim segue a batida fórmula. O diferencial é que o cara (kirk) não é o gostosão pega-todas da maioria desses filmes,mas um magricela mal-enjambrado, loser, de emprego de baixa qualificação e fraca remuneração que tem a sorte de cruzar com a menina 10 (Molly), possuidora de todos os predicados físicos e ainda bem colocada na vida profissional. Ela acabou de passar por uma desilusão amorosa com um bonitão, por isso fragilizada o suficiente para olhar para aquele ser nota 5, como ele mesmo se classifica. Ela não quer correr mais riscos em ser deixada para trás. A teoria que é melhor comer sardinha sozinho do que lagosta com outros comensais.

É claro que os amigos de Kirk não deixam barato e o avisam que o sonho vai acabar a qualquer momento. A argumentação é o lugar-comum de que é muita areia para o caminhazinho dele, que já foi até deixado por uma menina nota 5, que o trocou por um cara que nem é esses balaios todos. É claro que o fim da história é por demais esperado. Acho que nem merece mais que três parágrafos. Filme para ser assistido sem compromisso. Dá para se divertir se não estiver pretendendo algo mais que um passatempo.

sexta-feira, junho 4

Teatro Mágico e lúcido


Ontem fui ao Sabiaguaba para assistir aos shows dos grupos Teatro Mágico, Mutantes. Os dois muitos bons, mas me surpreendi mesmo com a clarividência do manager da troupe do Teatro Mágico. Não só pela qualidade do trabalho apresentado mas com a lucidez de Fernando Anitelli, que quer se impor no cenário artístico sem se render à lógica imposta pelo sistema de produção capitalista de bens culturais (CD e DVDs), onde vem sempre em primeiríssimo plano o lucro que tal atividade pode gerar.

Com todas as letras, Anitelli entoou que é um absurdo querer se reprimir a difusão da cultura impondo restrições aos downloads através da Internet e avisou que está criando a nova MPB - Música para Baixar. Ainda incentivou a todos aqueles que adquirirem, por qualquer meio músicas ou vídeo do grupo a produção de cópias em qualquer mídia. Lembrou que há bem pouco tempo isso acontecia através de fitas K-7 ou VHS.

Também discorreu sobre o sistema de jabás, quantias pagas pelos donos das gravadoras às emissoras de rádio e televisão, forçando a apresentar na mídia eletrônica somente aqueles autores escolhidos e apadrinhados. Quem não consegue ser tocado pela varinha de condão das grande multinacionais do show business está fadado à sargeta das pautas artísticas Brasil afora.

Bem Fernando, essas ideias tem em mim um aliado, conforme já publiquei nesse blog em maio do ano passado. Quem já leu, pode ter um revival e quem não leu, é só acessar: http://questao-fundamental.blogspot.com/2009/05/nao-sou-o-jack-sparrow-mas.html



quinta-feira, junho 3

Um homem sério(?)


Gosto é uma coisa complicada, cada um tem o seu. Não passa disso, só uma questão de escolha pessoal. Por isso, fico bem a vontade de dizer que não consigo enxergar nos irmãos Ethan e Joel Coen motivos suficientes para tantos incensos por parte da crítica. Definitivamente, não gosto do que eles fazem. Quer dizer, até assisto os filmes de suas lavras sem maiores sofrimentos, mas nada que me sobressalte aos olhos.

O último trabalho da dupla foi Um Homem Sério, que foi indicado no ano passado para Oscar de melhor filme este ano. Em Oscar que Guerra ao Terror venceu, qualquer um poderia sair com a estatueta na mão. O filme é tão fraco que somente após a indicação foi levado aos cinemas brasileiros. Os distribuidores pressentiram o fracasso de bilheteria, assim como também lançaram somente em DVD o vencedor do Oscar. Isso já é indicativo de que eu não sou tão fora juízo assim.

Mas os entendedores de cinema, ou os que se propõem a isso, vão falar que arte não tem nada a ver com comércio. Só isso daria uma discussão sem fim. Cinema é arte ou entretenimento? Ou melhor, meio de comunicação de massa? Existem árduos defensores das três possibilidades. Por enquanto não vou dizer de que lado estou.

Para situar os que pegaram o bonde andando, são também dos irmãos Coen "Onde Os Fracos Não Têm Vez", vencedor do Oscar de 2008 e "Apague Depois de Ler", que foi lançado no ano passado, no Brasil. Na minha (mais uma vez) opinião, nenhum dos dois há nenhum indicativo de genialidade. Mas voltando ao Um Homem Sério, este filme conta a história de um professor judeu que está prestes a ser abandonado pela mulher, que alega como motivo a convivência forçada sob o mesmo teto com o irmão do seu marido, um desocupado que ocupa muito espaço na sala.

Um drama familiar dos mais batidos pela indústria cinematográfica americana. A história do lar desfeito ou em vias de se desfazer. Só que a abordagem tem alguma originalidade quando retrata a esposa de Larry Gopnik, Judith, como uma dominadora, interessada em abocanhar todo o patrimônio do cônjuge judeu e ainda ter as bênçãos da religião judaica para o ato. Mas para acontecer essa celebração, ela precisa da total aquiêscencia do esposo.

Larry, coitado, diante de situação tão inusitada como vexatória admite concordar com a separação ainda sem saber que a sua quase ex-esposa tem planos de ficar com um amigo seu. É dentro desse clima que se desenvolve a trama sem que nada surpreendente aconteça, nem que haja qualquer desfecho epifânico. Sinceramente, acho que o mais entusiasmado cinéfilo pode passar perfeitamente bem sem dedicar atenção a essa produção. Mas se os irmãos Coen fizerem outro filme, talvez eu confira novamente. Tipo como eu faço com os filmes 3D, e até agora não vi nada que merecesse o preço do ingresso.

terça-feira, maio 25

A Troca


Tenho uma certa resistência a filmes baseados em fatos reais. Primeiro porque a gente é forçado a pensar de que se trata de um documentário encenado, e muitas vezes não o é. Comum haver encenações que levam a história para além real. Segundo porque a inexistência de compromisso com as técnicas dramáticas, em nome da fidelidade aos fatos, pode transformar a diversão em uma maçante sessão de cinema.

Mas como fugir da tentação de assistir um filme protagonizado por Angelina Jolie e John Malkovich como coadjuvante? Complicado. Mas A Troca, mesmo baseado em fatos reais, não perde os elementos básicos que nos despertam o interesse na trama. Uma mãe solteira, Christine Walters tem o seu filho único, Walter, desaparecido. Após alguns meses, ela recebe outra criança. Percebe a diferença, mas a polícia, em busca de popularidade, tenta convence-la de que se trata do mesmo menino.

Inconformada, porque as diferenças são muito evidentes, inclusive o novo "filho" é cerca de 8 cm mais baixo, a protagonista passa a desafiar a polícia, em busca do seu verdadeiro filho. Tão afronta não é bem vista e o delegado, que já havia encerrado o caso, a leva sob custódia para interná-la em uma clínica psiquiátrica, com a total conivência do sistema médico da época.

Crhistine além de lutar para encontrar o seu verdadeiro filho, passa a ter de enfrentar toda uma estrutura que prefere lhe ter como louca a reconhecer os seus próprios erros. E só consegue o seu intento com o auxílio de um pastor, vivido por Malkovitch.

Este filme foi lançado no Brasil há um ano. Na época, não tive a oportunidade de assistir. A experiência também vale por se tratar de um filme de época, ambientado no final dos anos 20, com caracterização muito bem elaborada. O fato de ser baseado em história real não reduz o impacto dramático e nos confirma que um bom roteiro é sempre mais eficiente do que a fidelidade ao pé da letra ou dos fatos.

sábado, maio 22

Apenas o Fim


Há muito tempo (mais de um ano) procurava para download Apenas o Fim. Esse filme ganhou o prêmio do público do Festival do Rio de 2008 e menção honrosa do público. Duas vitórias absolutamente inúteis quando se trata de colocar uma produção local em circuito nacional. Não chegou nem perto de ser apresentado pelas bandas de cá do país, mesmo a gente tendo alguns points alternativos na cidade. E três vivas a Internet que mais uma vez me proporciona a possibilidade de compartilhar os bens culturais digitais. E deixar de ser um pouco menos tão periferia da humanidade.

Essa semana, finalmente, localizei uns links do filme. O primeiro, inútil. Depois de algumas horas descobri que o filme linkado era outro. Frustração. Mas a segunda tentativa foi ainda mais cruel. Um site meio mambembe disponibilizou numa velocidade de matar tartaruga de tédio. Entre 6 e 14 kbs. Ou seja, mais de 24 horas para por Apenas o Fim no HD, e ainda com a possibilidade de ser novamente ludibriado. Mas nem fui, com a graça de todos os santos protetores das conexões da net.

Geralmente grandes expectativas são as antecessoras de frustrações da mesma monta. Ou embotam tanto com os sentidos que não raras vezes o que vier é considerado o supra sumo da criação de Deus. Algo um show dos Back Street Boys. Ótimo para mentes mexidas pela a adrenalina da insensatez e falta de bom senso ad infinitum.

Não é o caso com Apenas o Fim. Toda a espera foi recompensada, com créditos. Um roteiro sem grandes pretensões mas que por causa disso mesmo mostra a genialidade do simples. Traz a história de uma menina que quer traçar o seu próprio rumo, mudar de vida, ser alguém que consiga se liberar do padrão socialmente posto a todos nós. Mas, para isso, tem de romper não só com o seu passado mas com um namoro. Do nada, precisa explicar ao seu namorado que já deu, que a sua necessidade de transformação precisa de fato acontecer, ou ela explodirá em plena luz do dia. Não literalmente, é claro.

Dá a ele o prazo de uma hora, que é quase a duração do filme, e oferece duas alternativas: ou transar pela última vez ou passar o tempo em seu último diálogo. A princípio, ele pede os dois, mas diante da situação que se apresenta, um desfecho de um relacionamento, fica com a segunda possibilidade. E na hora que se segue procuram ser o mais sincero um com o outro, ao mesmo tempo que absorvem com a calma necessária tudo o que o outro tem a lhe dizer. A vida a dois em revista, sobriamente.

Dificil não se identificar com algum ponto da trajetória, de não achar que já viveu alguma coisa semelhante ao longo de nossos próprios relacionamentos. O filme, em nenhum momento, resvala para o dramalhão ou na busca de arrancar lágrimas da platéia. É divertido, consequente. Um bom momento para a gente passar em revista nossos próprios sentimentos. E também aprender que determinadas decisões em nossas vidas devem ser tomadas enquanto a gente é novo. Enquanto há tempo para se recompor. Mais sobre o filme pode ser lido no site omelete. http://omelete.com.br/cinema/critica-apenas-o-fim/, que é citado em Apenas o Fim. Como é triste saber que obras como essa demandam tanto esforço e paciência de minha parte para que a gestalt seja fechada.

quarta-feira, maio 12

O Mundo Imaginário do Dr. Parnassus


Definitivamente, O Mundo Imaginário do Dr. Parnassus tem problemas. O filme conta a história de um homem, que alega ter mais de mil anos, dono de um circo mambembe procurando atrair escassos clientes pelas ruas de Londres. Ele oferece uma viagem ao inconsciente que existe dentro de cada um. Ao mesmo tempo, enfrenta o peso de uma dívida com o diabo. Terá de entregar, em poucos dias, a sua filha de 16 anos, o preço de ter recebido do capeta a mortalidade e a de conquista da mãe de sua filha.

Mas como o diabo não se furta a uma boa aposta, Parnassus e Coisa-Ruim resolvem disputar cinco almas. Se vencer, o protagonista não precisará mais entregar a sua filha, que sonha com um futuro bem diferente na vida que leva. Ela quer marido, casa, filhos e outras comodidades próprias do mundo moderno. Até aí a história tem um desenvolvimento interessante. alguma coisa entre o Sétimo Selo de Bergman e Fausto, de F.W. Morneau, baseado na obra de Goethe.

Mas a coisa começa a degringolar, na minha visão com a entrada do personagem vivido pelo precocemente falecido Heath Ledger. A princípio ele surge para auxiliar Parnassus contra o diabo, depois passa a ser vilão, ou não, e o filme vai perdendo o protagonismo para ficar a reboque do embaraço do roteiro. Não se consegue criar empatia com ninguém e o anaozinho que acompanha a troupe passa a ser um personagem bem mais interessante, apesar de ter como única função se apresentar como alter ego de Parnassus. As cenas mais dramáticas não comovem exatamente porque você não sabe de que lado está o protagonismo ou o antagonismo.

Mas nem tudo está perdido. a direçao do ex-monty Python Terry Gillian encontra um pouco de lucidez ao mostrar o imaginário de Parnassus, um homem que nunca completa as histórias que conta. Ao cruzar um falso espelho, os personagens encontram o que se passa dentro de si. Um mundo multicolorido além do 3D, graças a Deus, que nos dá o que ver e o que pensar. Esse filme, sem dúvida, está longe de ser imperdível, mas também não é total perda de tempo.

sexta-feira, maio 7

Alice no país das trevas


O mundo do cinema definitivamente não é mais o mesmo. Os filmes agora se transformam em sucesso não pela qualidade que levam às telas, mas pelo poder de mobilização a partir de suntuosas estratégias de marketing. De há muito que não são só as bilheterias o único componente do borderô das arrecadações cinematográficas. Antes mesmo do lançamento, se multiplicam as franquias e licenciamentos, tornando o show mais business do que arte. Não dá pra ser contra isso, é o rumo inexorável do sistema de produção e de consumo.

Essas novas velhas estratégias se notabilizaram ainda mais, creio eu, com as ultimas grande produções 3D de Avatar e Alice. Se o primeiro é uma velha estória recontada (ver o post sobre), o segundo é uma nova versão de uma velha história contada de forma precaríssima. E me assusto quando vejo críticos considerarem mediano um filme que é absolutamente medíocre.

O novo filme do Tim Burton nem deveria se chamar Alice no País das Maravilhas. Primeiro porque não é a mesma história do livro. Só isso enganou muita gente que entrou na sala de projeção, e saiu dela, pensando que teria assistido uma refilmagem. Não meus prezados, não foi isso que aconteceu. Vocês assistiram uma história original. Dá pra acreditar? É o roteiro original mais chupado que já vi.

Segundo, que país das maravilhas é esse? Deveria ser país das trevas. O mundo é sombrio, assustador, sem qualquer indicativo de que há algum vestígio, por menor que seja, de alguma coisa alegre. Todo o cenário é deprimente.

Terceiro, a questão dramática, Alice vai ou não salvar o país das maravilhas das garras da rainha vermelha (Não, ela não é mais a rainha de copas) é ridiculamente infantil. Nós já sabemos a resposta e a luta da protagonista com o monstro, no final não causa nenhuma emoção, até para o assistente de primeira viagem. O desfecho nos é praticamente apresentado no início do filme. A dúvida sobre se ela é ou não a Alice esperada também é no mínimo idiota. Claro que é, né bobão?

E, por fim, que casamento é aquele? Claro que ela não vai aceitar casar com um panaca. Ou alguém em algum momento pensou no contrário? Se alguém não se perturbou com tamanha previsibilidade, acho que o problema está em mim. Ou então, assistimos filmes diferentes. Mais uma coisa, esse 3D é uma tapeação.

A história poderia ser muito mais interessante. O noivo de Alice poderia ter caído dentro do buraco junto com ela, e não ser o panaca que se apresenta no ínicio, mas uma personalidade que iria se revelando dentro do país das maravilhas, que afinal, em última análise, seria o inconsciente de Alice. O chapeleiro maluco, coitado, tem mais cara de um viciado em crack do que um personagem que transcenderia o senso comum. E a história que a Alice é também uma maluca, como seu pai a nomeia no começo da trama, termina não surtindo o efeito que eu esperava.

Melhor sorte da próxima vez, Tim.

quarta-feira, maio 5

A vida íntima de Pippa Lee


O que aconteceu com a geração do sexo, drogas e rock and roll? Muitos morreram pelos excessos, mas a grande maioria está por aí por perto, levando uma vidinha absolutamente enquadrada dentro do sistema. Quer dizer, aparentemente enquadrada, porque, de perto ninguém é normal, como diria Caetano Veloso. É esta a abordagem da diretora Rebecca Miller, em seu filme A vida Íntima de Pippa Lee, que tem coadjuvantes de luxo como Keanu Reaves, Winona Rider, Monica Belluci e Juliana Moore.

Pippa, vivida por Robin Wright Penn é uma senhora de meia idade, casada com um bem sucedido homem já veterano na terceira idade, Herb Lee, interpretado por Alan Arkin, com saúde que inspira cuidados após ter sofrido três enfartes. Com o desenvolvimento da história, vamos descobrindo um passado fora do comum de Pippa. Sua relação conturbada com a mãe, viciada em anfetaminas, que a leva a sair de casa, e decobrir padrões fora do habitual, ao residir com a sua tia lésbica.

A protagonista leva uma vida meio hippie até encontrar com o seu marido, bem mais velho, casado e desgostoso com a vida que leva. Troca a esposa por Pippa, e com ela tem dois filhos. Os conflitos que Pippa tinha com a mãe se repetem com a filha, uma fotógrafa de guerra.

Os aparentes traços de normalidade estão camuflados em uma sonâmbula que assalta a geladeira na madrugada e fuma eventualmente. Resquícios de uma vida desregrada que teve na juventude. A direção de Rebecca é cuidadosa, e não emite juízos de valor sobre os mais variados comportamentos que desfilam ao longo do filme, Como o suicídio da esposa anterior de Herb, Gigi Lee, representada por Monica Belluci, que, apesar de trágico, não traz nenhum apelo ao dramático ou sentimental.

A reflexão que Pippa Lee nos traz é sobre o quanto nós (des)conhecemos as pessoas que estão a nossa volta. O que cada um é capaz de fazer, ou arriscar em busca de algum resquício de felicidade. A protagonista, ao final, parece que entendeu que é capaz de percorrer os mesmos caminhos de sua tresloucada mãe, mas ao mesmo tempo fazer correções de rota. Recomendo.

sexta-feira, abril 23

Peacock


Em uma pequena cidade de Nebraska, um homem leva uma vida simplória, dedicando-se de forma integral ao trabalho, sem demonstrar nenhum interesse pelo que existe além de sua rotina, até que um dia um vagão de trem descarrila e vai parar no seu quintal. Este fato desencadeia uma série de acontecimentos que expõe os conflitos de uma pessoa de vida dupla, ora homem ora mulher, que não entende e, de certa forma, não aceita um ao outro. A apresentação do protagonista é rápida e objetiva. Com poucos minutos de filme, a gente já sabe de que se trata de um personagem com dupla personalidade. Bem ao estilo Hitchcock. Até imagino que o título do filme venha a ser uma homenagem ao mestre do cinema suspense.

A história recebe vários elementos que aumentam o conflito entre os dois lados do John Skillpa/Maggie Skillpa, que aparecem aos olhos da pequena cidade, com pouco mais de 800 habitantes, como um casal. A caracterização do ator Cillian Murphy como o personagem que se traveste é muito feliz, e engana o espectador no início do filme. Quem assiste é levado a crer que a qualquer momento a farsa poderá ser descoberta. Uma farsa, diga-se, que não tem como principal objetivo ludibriar mas dar vazão a um trauma psicológico muito intenso.

A fotografia do filme é muito bem construída. Nas cenas iniciais temos a clara noção de um local ermo onde se desenrola a trama. Uma casa de passarinho já em posição desequilibrada posta em uma árvore nos remete ao desequilíbrio do protagonista. Não há nenhuma apelação a imagens desfocadas ou tremidas, clichês que além de causar o efeito de instabilidade nos dar alguma desconforto ao assistir. Cada enquadramento nos revela a densidade do personagem principal.

O filme avança na busca de superar o conflito de personalidade e outros que surgem ao longo do enredo. O protagonista tem um filho ilegítimo que causa sentimentos de rejeição de John e a de ternura em Emma. Ela quer ajudar a mãe, Maggie, vivida por Ellen Page, uma pobre coitada que vive em um trailler e tem um emprego chinfrim em uma lanchonete de beira de estrada. Ele, no entanto a quer bem longe dalí, junto com o filho.

Tudo isso tem um desfecho bem construído e original. Que vale a pena ser conferido. Esse filme tem tudo para ficar entre os melhores do ano. Todas as sinopses do filme que encontrei, que será lançado na próxima semana no Brasil, são absolutamente infieis ao que vi na tela. Soberba direção de Michael Lander. Gostei.

terça-feira, abril 13

Polícia para quem precisa


Enquanto toda a cidade está em situação de desespero, por causa da violência que pulula em profusão, não sabendo a quem mais pedir socorro, duas viaturas hilux, pagas a R$ 150 mil cada uma, com o dinheiro do contribuinte, do Ronda do Quarteirão, foram mobilizadas para fazer uma maldade sem tamanho. Por toda a manhã de ontem, os policiais serviram como leões de chácaras de dois desqualificados que se arvoram em ser dono de uma casa abandonada há mais de 20 anos.

O imóvel faz parte da massa falida da antiga indústria de processamento de cera de carnaúba, e, portanto, pertence aos credores. Só que no Brasil as coisas não funcionam do mesmo jeito para todo mundo. Quem tem bala na agulha manda. Justiça é bem de luxo. Só tem quem pode. E foi o que aconteceu. Um grupo de artistas de ruas, que ocupavam a casa há vários meses, viu a sanha desses que se arvoram de proprietários seguir o seu curso. Trouxeram uns peões que armados de picaretas e marretas fizeram muitos estragos na velha construção, num esforço de impedir a ocupação. Tudo isso, é claro, com o apoio dos policiais, que provavelmente recebeu o "por fora".

A população que mora aqui perto, acorreu ao local, tentando sensibilizar de alguma forma os verdugos. Mas a conclusão da demolição só foi impedida com a chegada de representantes do escritório de direitos humanos da Assembleia.

A casa estava abandonada há 20 anos, e por muito tempo serviu de covil de marginais. Poucos foram os moradores das cercanias que não soferam a ação dos bandidos, entregando celulares, carteiras e relógios. Até uma morte já aconteceu no local, sem quem nunca, a qualquer tempo, nenhum dos atuais usurpadores apareceu. Também nunca ninguém se responsabilizou pela imundície que reinava no local, antes dos novos e legítimos ocupantes chegarem, trazendo a limpeza, arte e um pouco mais de tranquilidade. No momento, eles voltaram a habitar o imóvel. Mas até quando?

A matéria no jornal o povo pode ser lido neste link.

segunda-feira, abril 12

Não é sério

Tem certas coisas que não entendo. De um lado há uns puristas ingênuos que querem preservar a língua portuguesa engessada no Brasil Não aceitam um único estrangeirismo e querem até aprovar lei nesse sentido. Realmente, não sei porque tanta defesa da língua do invasor. Se pelo menos defendessem o tupi guarani ou outro dialeto nativo, tudo bem. Mas preservar a cultura do conquistador? Pra que isso?

Dou outro lado, também não acho normal a excessiva xenomania instalada em terras brasilis. De repente, é chic falar o português de forma errada, até mesmo derespeitosa a nossa língua para forçar um sotaque idiota qualquer. Francês escapando por aqui há mais de 30 anos, ainda não fala português que preste? jo no creo. Mas para realçar esse verniz de arrogância, a GNT, canal da Globo, criou um programa com título com sotaque francês. É o Marravilha. Isso mesmo, com dois erres. Alguém vê charme nisso? Eu acho de um provincianismo sem monta.