Um texto genial de minha amiga Cibele
Mundo surreal: um sujeito escreve que o acidente com o petróleo no Golfo do México será positivo para o Brasil. Me pergunto de que maneira destruir estupidamente milhares de formas de vida marinha pode ser positivo para alguém em qualquer parte do universo. O sabidão explica que pode. O Brasil vai ganhar investidores e muita grana com toda essa tragédia. Agora me explique, caro economista: quanto vale uma vida? Quanto você pagaria pela sua? Aquele irmãozinho pelicano merece morrer para que a Petrobrás fature um pouquinho? Bom, não me explique, eu, sinceramente, não tenho o menor interesse em entender.
O jornal de domingo nunca tem nada que preste. O jornal nunca tem nada que preste. Eles não podem contrariar os interesses de todas aquelas nobres instituições que pagaram o espaço publicitário e escrever a verdade. Bem, quem se importa com a verdade? Como diria aquela musiquinha breeega do George Michael, "there´s no comfort in the truth, pain is all you´ll find" e a classe média, leitora de jornais, precisa de conforto. O tempo todo, muito conforto. Eles precisam de pessoas que limpem suas privadas, que lavem suas roupas, que lhes abram as portas do prédio, que sejam jogadas do barraco na Berrini para as profundezas da Vila Gilda porque, meu Deus, eles pagam tão caro pelo conforto. E pagam mesmo. Disso não há a menor dúvida. Pagam com o tempo, com o corpo, com a mente, com a alma, com dinheiro, com impostos. É justo, sim, que tenham o conforto, já que pagam tanto, o tempo inteiro.
O andar de baixo está pegando fogo, como diria Amma, eles estão no andar de cima e acreditam que o fogo jamais chegará até eles se continuarem pagando. Fogo! Fogo! Embaixo está tudo queimado, mas enquanto nossa fumacinha vier do cigarro, do cigarro de maconha e do churrasco, que o povo do andar de baixo queime, queime quieto, queime sem reclamar e longe de nossas vistas porque nós, a classe média, com certeza pagamos pelo fósforo que eles conseguiram comprar porque receberam o Bolsa-Família.
Todos estão queimando. Não tem jeito. É mais confortável imaginar que não, mas, olha isso: sua alma também queima, desesperada, ela implora para ir ao andar de baixo e retirar de lá, dos escombros, aquela irmãzinha que ficou pra trás. Ela também sofre com a imagem do irmão pelicano morrendo dentro daquela mancha de petróleo. No fundo você sabe que só haverá paz dentro de você quando o andar de baixo parar de queimar, quando o andar de baixo parar de existir, quando você e os do andar de baixo viverem no mesmo lugar. Mas, até lá, nos contentemos com todo este conforto e com as loucuras publicadas no jornal.
O jornal de domingo nunca tem nada que preste. O jornal nunca tem nada que preste. Eles não podem contrariar os interesses de todas aquelas nobres instituições que pagaram o espaço publicitário e escrever a verdade. Bem, quem se importa com a verdade? Como diria aquela musiquinha breeega do George Michael, "there´s no comfort in the truth, pain is all you´ll find" e a classe média, leitora de jornais, precisa de conforto. O tempo todo, muito conforto. Eles precisam de pessoas que limpem suas privadas, que lavem suas roupas, que lhes abram as portas do prédio, que sejam jogadas do barraco na Berrini para as profundezas da Vila Gilda porque, meu Deus, eles pagam tão caro pelo conforto. E pagam mesmo. Disso não há a menor dúvida. Pagam com o tempo, com o corpo, com a mente, com a alma, com dinheiro, com impostos. É justo, sim, que tenham o conforto, já que pagam tanto, o tempo inteiro.
O andar de baixo está pegando fogo, como diria Amma, eles estão no andar de cima e acreditam que o fogo jamais chegará até eles se continuarem pagando. Fogo! Fogo! Embaixo está tudo queimado, mas enquanto nossa fumacinha vier do cigarro, do cigarro de maconha e do churrasco, que o povo do andar de baixo queime, queime quieto, queime sem reclamar e longe de nossas vistas porque nós, a classe média, com certeza pagamos pelo fósforo que eles conseguiram comprar porque receberam o Bolsa-Família.
Todos estão queimando. Não tem jeito. É mais confortável imaginar que não, mas, olha isso: sua alma também queima, desesperada, ela implora para ir ao andar de baixo e retirar de lá, dos escombros, aquela irmãzinha que ficou pra trás. Ela também sofre com a imagem do irmão pelicano morrendo dentro daquela mancha de petróleo. No fundo você sabe que só haverá paz dentro de você quando o andar de baixo parar de queimar, quando o andar de baixo parar de existir, quando você e os do andar de baixo viverem no mesmo lugar. Mas, até lá, nos contentemos com todo este conforto e com as loucuras publicadas no jornal.
Um comentário:
Sensacional o texto. A mais pura verdade. O ser humano tende a se isolar em sua vidinha mais ou menos e fazer que não viu tudo o mais q está errado ao seu redor.
pobre alma desse quem falou isso, e dos que leram e concordaram.
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