quarta-feira, setembro 24
Mas o detalhe mais interessante foi que enjoou do Rio e decidiu viajar de novo. Na rodoviária encontrou o Costinha, aquele famoso cômico de televisão. Aí pensou, é uma oportunidade de dar uma ferrada nele, para conseguir a comida, o cigarro ou até a passagem de ônibus. Falou: "Costinha, me arranja uma grana para eu tomar uma birita". E ele lhe deu cinco notas de um cruzeiro. Mário achou pouco de devolveu. E saiu andando. Depois de uns 10 minutos voltou e foi pedir de novo o dinheiro. "Costinha, eu aceito a grana". O comediante riu e disse: rapaz, você tá é doido.
Viajou naquele dia da rodoviária do Rio até Petrópolis, a pé. Passou dois dias andando. Conheceu por lá um poeta, com quem fez amizade e conseguiu uma passagem de Petrópolis a Fortaleza, com trânsito em Petrolina. Durante a viagem foi falando poesia e contando as peripécias para um monte de gente. E então, uma mulher, já coroa, velhota, se engraçou com o poeta, se apaixonou, sei lá... Queria sentar ao seu lado. Ele não gostou da velha, não simpatizou, achou que era macumbeira, pelo tipo de assunto que ela falava. Quando chegou a Petrolina desceu do ônibus, revoltado com a velha macumbeira que o pertubara.
Passou sete dias em Petrolina sem conseguir carona. Uma noite um negão chegou pra ele e disse: "você é o Mário Gomes?" Ele disse, sou. Aí o negão lhe deu um tapa na cara , sem-vê-nem-pra- quê, só lhe perguntou se era o Mário Gomes e lhe deu o tapa. Mário pensava que ele estava armado e correu. Na esquina chegou um fusquinha com seis soldados da PM e ele disse: "polícia um cara me deu um tapa alí, me agrediu, eu acho que ele está armado". Aí a polícia chega e agride o cara, enche o sujeito de porrada. Mário viu que a boca taca quente e correu. Viajou de Petrolina a Salgueiro a pé, passou seis dias e seis noites andando. Pedia comida naquelas casinhas de beira de estrada. Lembra que uma noite sem lua e sem estrelas, andando na escuridão, treva total, mais ou menos uma hora da madrugada, só a estrada e o matagal do lado, viu dois olhos a olhá-lo assustadoramente e fazendo: hum...hum...Ele, pensando, que diabo é aquilo? Se andava apressado, os dois olhos o acompanhavam emitindo o insólito som "hum..hum.."Se parava os olhos paravam, se andava de novo os olhos voltava a segui-lo. Com medo, apavorado, resolveu enfrentar aquela aparição. E percebeu que era um jumento!. O jumento com medo dele e ele com medo do jumento. .
Trecho do livro Palavras Singulares, do meu amigo Márcio
Fazia tempo que eu já devia ter postado isso. O lançamento deste livro foi em agosto passado. Mas queria antes ler, e fazer algum comentário. Li mas esqueci de meu acordo comigo mesmo, que agora resgato. Vale a leitura. Os textos relatam o contato com Márcio teve também com dois outros poetas. Vinícius de Morais e Cid Carvalho. São escritos ao correr da pena marcados por impressões pessoais. Márcio é digno de todas as reverências, como humano, e por seus talentos.
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2 comentários:
nossa... muito bacana! será o próximo livro a procurar na livraria. :)
bjs
vou procurar aqui. já até anotei. dai, se não chegar, te peço um email pra combinarmos. :)
beijos, e obrigadinha! =*
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