É mais ou menos como eu vejo essas para-olimpíadas. Um grande circo de horrores. Pessoas amputadas jogando voleibol em mini-quadras com redes coladas no chão, cegos se chutando em imaginárias partidas de futebol, aleijados levando quedas de suas cadeiras de rodas simulando partidas de basquete, e por aí vai. O espetáculo é ao meus olhos um quadro dantesco.
Sei que há os árduos defensores dessas atividades para-esportivas, que alegam ser este um meio de reintegração social, uma esperança de uma vida normal na para os deficientes. E até acho que possa ser. Mas na minha precária avaliação, não é assim que se resolve um problema tão delicado. Basta lembrar que uma olimpíada reúne apenas uns 15 mil atletas de alta performance quando a população mundial é de 6 bilhões. Ou seja, a grande maioria continua só na torcida.
Em vez de se criar essa falsa integração de aleijados, cegos, retardados mentais através de pseudos esportes, mais honesto seria integrá-los efetivamente ao meio social como qualquer cidadão comum. Dar a eles o direito de trabalhar, estudar, se deslocar em suas cidades, ingressar em locais públicos, enfim, ser um igual a todos nós, mesmo tendo de superar alguns desafios.
Enquanto se fala de um Brasil sendo uma potência para-olímpica, conquistando a 15ª posição no ranking de medalhas, posto bem mais acima do que os nossos atletas olímpicos, um cadeirante é incapaz de atravessar uma rua da maioria das cidades do Brasil simplesmente porque as calçadas não são rebaixadas. E quando são, há sempre um carro estacionado junto ao rebaixamento impedindo o acesso. Os deficientes auditivos só têm direito a duas horas de programação de televisão usando a tecla sap, e a literatura disponível em áudio ou braille é mínima. Em Fortaleza, cidade com mais de 2,5 milhões de habitantes, há apenas uma escola para surdos-mudos e uma escola para cegos. Na maioria das praças esportivas, cinemas, teatros, bibliotecas não há sequer meios de acesso. Na própria Assembléia Legislativa, batizada pomposamente de casa do povo, o elevador dedicado aos deficientes fica constantemente desligado, e para acioná-lo é necessário descobrir aonde e com quem está a chave.
Enquanto a situação não muda no país, continuamos torcendo no circo de horrores, transmitido especialmente através das TVs por assinatura.
PS. Não sou politicamente correto e acho que esse politicamente correto tão defendido em verso e em prosa é uma farsa.
Um comentário:
assino embaixo!
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