segunda-feira, setembro 29
Por que você é assim?
Foram as acontecências do domigo. Uns litros de açaí, com direito a uma careta da Clarissa. Hoje é dia do Natan apagar velinhas, e estaremos lá, para continuar rindo das histórias mais insólitas protagonizadas por sua família. Via lista, chegaram notícias da Gabi, do além mar. Percorrendo terras espanholas enquanto vai cursando Publicidade.
sábado, setembro 27
O pesadelo vai continuar, com ou sem Barack
Alguém assistiu ao debate do Obama e do Mcain? Não tive muita paciência. O que ouvi mais irritou do que qualquer outra coisa. Quem esperava que o negão, por ser democrata, vindo de uma minoria, iria ter um discurso mais conciliador, em defesa da paz ou qualquer coisa menos beligerante do que tem sido os esteites nos últimos anos, esqueça. Não tinha muita ilusão em se tratando de uma disputa por corações e mentes do povo mais cheio de soberba que se possa imaginar.
Obama só falou em liderar o processo mundial de pacificação do mundo. A pax americana. Destruir todas as possibilidades de algum revanchismo árabe, reforçar a invasão do Afeganistão e deter a possibilidade de proliferação de arsenais nucleares no oriente, notadamente entre os adversários de Israel, parceiro de todas as horas e invasões no mundo. Falou até em apoiar ditaduras aliadas do governo americano. Com Obama ou sei ele, tudo continuará do mesmo jeito. Com esse discurso, teatral, como todos os discursos políticos, foi indicado vencedor pela pesquisa de opinião da CNN. 51 a 38%. Que bela droga para o resto do mundo. O o resultado fosse outro, a droga seria a mesma.
Outra notícia que me chamou a atenção foi mais uma chacina em escolas. Desta vez da Finlândia. A segunda em menos de um ano naquele país. Crimes dessa natureza, praticados por dementes americanos, como aconteceu em Columbine, são até previsíveis. Afinal de contas uma sociedade feita para formar psicopatas a partir de uma competição doentia entre as pessoas, em todos os níveis, gerando toda sorte de segregação, discriminação, preconceitos, formação de guetos, não se pode esperar boa coisa mesmo. Mas na Finlândia, país com o 11º IDH do mundo, com apenas 4 milhões de habitantes distribuídos em 337 mil km² e uma divisão de renda bem menos selvagem do que nos Estados Unidos, não era para estar se produzindo em sua sociedade elementos como Matti Juhani Saari, que assassinou 9 estudantes e depois se suicidou. No final passado, outro finlandês deu cabo de 7. Chacinas em profusão em solo distante.
Nos Estados Unidos já são tantos casos, que se tornaram rotina. Porém, parece até uma epidemia se espalhando pelo mundo. No Brasil já aconteceu coisa semelhante. Os meios de comunicação são o elo de ligação entre esses casos. Acontece alguma barbárie que se transforma em notícia, que é explorada a exaustão, mostrada sob todos os ângulos possíveis, que é difundida por todo o mundo, que chega até alguém desgostoso da vida incitando-o a repetir a chacina veiculada. É claro que não é com esse objetivo que Bonner e Bernardes, com aquele ar grave, falam de mais uma tragédia acontecida na gélida Escandinávia. Mas que está aí aberta a porta do mimetismo, eu não duvido.
Outra notícia que eu acho que também não deveria ser divulgada foi uma que vi ontem. A reportagem foi bem didática. Mostrava como os ladrões roubavam os carros para assaltar lojas, arrombando as portas dando ré nos veículos. Ninguém se espante se coisas desta natureza ou parecidas começarem a ser reproduzidas em todos o país.
sexta-feira, setembro 26
De quem é a pirataria?
Uma gravadora cruza a linha do Equador, vinda do norte, se aboleta em território nacional, às custas de financiamentos proporcionados pelo BNDES. Sob o pretexto de incentivar a cultura, recebe uma série de isenções fiscais. Daí passa a decidir que tipo de música toda a população nacional vai consumir. Paga jabás às emissoras de rádio, programas de TV até o ponto de saturação.
CDs vendidos passam a ser contabilizados aos milhares. É claro que os números verdadeiros sempre são ocultados para reduzir o pagamento dos direitos autorais. A numeração dos exemplares nunca foi aceita pelos empresários. Ao artista, cabe apenas 10 por cento do valor de venda no atacado da obra. 90 por cento fica com a gravadora. Ou seja, de cada CD que custa em torno de R$ 30,00, R$10,00 fica com a varejista, e cerca de R$ 1,00 com o autor da obra.
O cenário era esse até a explosão de troca de arquivos via internet. Quase ninguém paga pelas músicas, lojas fecham em todo o país e o único grito de desespero que se houve é emanado das gravadoras. O descontrole do mercado é quase total, não fora ainda alguns esforços em promover determinados cantores-intérpretes nos canais televisivos de audiência. Sucessos explodem saídos da rede mundial e a maioria deles é cooptada pelo show business de uma hora para outra.
Mas quem é mesmo que está pirateando quem? As gravadoras, que além de ludibriar artistas sob o pretexto de inseri-los na mídia, se locupletam empulhando uma série de arte de quinta linha a toda uma nação, ou os que fuçam pela net em busca de algo realmente interessante? Não sei como é que essas multinacionais ainda têm coragem em falar em pirataria. Um Bill Gates da vida, que faturou seus bilhões se apropriando de forma sorrateira das idéias dos outros, vir ao Brasil pedir auxílio de forças policiais para barrar a distribuição de cópias não autorizadas do Ruwindows é risível. Só mesmo sendo um defensor do capitalismo selvagem para concordar com essas patifarias.
Eleição de chapa única II
Se alguém quiser saber por que o cenário caminhou neste sentido, mesmo com a Luizianne saindo lá embaixo nas pesquisas, pode perguntar para mim, que eu explico de uma maneira bem clara. Como eu sempre disse, essa loura é uma mulher de sorte! Tanto na primeira eleição como agora desfrutou de cenários altamente favoráveis a ela, não deixando chances para o imponderável. Por mais que a cidade esteja uma lástima, por mais que ela tenha conseguido fazer menos do que o seu antecessor, que foi nominado de corrupto pela candidata, uma série de fatores a empurrou para a vitória, novamente. Sorte de estar no lugar certo, no momento certo. Coisa rara de se repetir na política.
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Você seria capaz de rifar um amigo só para se aproximar dos seus objetivos? Parece até um contra-senso em dias onde os amigos verdadeiros são cada vez mais raros. Mas isso acontece com muita freqüência, é só abrir os olhos e perceber o mundo que lhe cerca. O individualismo na busca pelo sucesso avança sobre qualquer relação social e a despedaça, se for necessário. Às vezes um amigo é detonado de maneira tão solerte que passa até despercebido o ato. Outras vezes e de forma vil, capaz de expor à mais absurda saia-justa, somente para ganhar pontos com outra pessoa.
Pessoas manipulam pessoas, se servem dela, e transformam-nas em pontos. “Se eu sei que alguém não gosta de meu amigo, e eu quero ganhar pontos com esse alguém, então queimo e transformo o amigo em ex-amigo, por qualquer razão torpe”.
Amigo é bom a gente ter cuidado. Cuidado para preservá-lo, se for o caso, ou cuidado para não cair em suas artimanhas, se o caso for outro.
Diferenciar um tipo de amigo do outro é que é a grande arte. Essa ainda não conheço.
quarta-feira, setembro 24
Mas o detalhe mais interessante foi que enjoou do Rio e decidiu viajar de novo. Na rodoviária encontrou o Costinha, aquele famoso cômico de televisão. Aí pensou, é uma oportunidade de dar uma ferrada nele, para conseguir a comida, o cigarro ou até a passagem de ônibus. Falou: "Costinha, me arranja uma grana para eu tomar uma birita". E ele lhe deu cinco notas de um cruzeiro. Mário achou pouco de devolveu. E saiu andando. Depois de uns 10 minutos voltou e foi pedir de novo o dinheiro. "Costinha, eu aceito a grana". O comediante riu e disse: rapaz, você tá é doido.
Viajou naquele dia da rodoviária do Rio até Petrópolis, a pé. Passou dois dias andando. Conheceu por lá um poeta, com quem fez amizade e conseguiu uma passagem de Petrópolis a Fortaleza, com trânsito em Petrolina. Durante a viagem foi falando poesia e contando as peripécias para um monte de gente. E então, uma mulher, já coroa, velhota, se engraçou com o poeta, se apaixonou, sei lá... Queria sentar ao seu lado. Ele não gostou da velha, não simpatizou, achou que era macumbeira, pelo tipo de assunto que ela falava. Quando chegou a Petrolina desceu do ônibus, revoltado com a velha macumbeira que o pertubara.
Passou sete dias em Petrolina sem conseguir carona. Uma noite um negão chegou pra ele e disse: "você é o Mário Gomes?" Ele disse, sou. Aí o negão lhe deu um tapa na cara , sem-vê-nem-pra- quê, só lhe perguntou se era o Mário Gomes e lhe deu o tapa. Mário pensava que ele estava armado e correu. Na esquina chegou um fusquinha com seis soldados da PM e ele disse: "polícia um cara me deu um tapa alí, me agrediu, eu acho que ele está armado". Aí a polícia chega e agride o cara, enche o sujeito de porrada. Mário viu que a boca taca quente e correu. Viajou de Petrolina a Salgueiro a pé, passou seis dias e seis noites andando. Pedia comida naquelas casinhas de beira de estrada. Lembra que uma noite sem lua e sem estrelas, andando na escuridão, treva total, mais ou menos uma hora da madrugada, só a estrada e o matagal do lado, viu dois olhos a olhá-lo assustadoramente e fazendo: hum...hum...Ele, pensando, que diabo é aquilo? Se andava apressado, os dois olhos o acompanhavam emitindo o insólito som "hum..hum.."Se parava os olhos paravam, se andava de novo os olhos voltava a segui-lo. Com medo, apavorado, resolveu enfrentar aquela aparição. E percebeu que era um jumento!. O jumento com medo dele e ele com medo do jumento. .
Trecho do livro Palavras Singulares, do meu amigo Márcio
Fazia tempo que eu já devia ter postado isso. O lançamento deste livro foi em agosto passado. Mas queria antes ler, e fazer algum comentário. Li mas esqueci de meu acordo comigo mesmo, que agora resgato. Vale a leitura. Os textos relatam o contato com Márcio teve também com dois outros poetas. Vinícius de Morais e Cid Carvalho. São escritos ao correr da pena marcados por impressões pessoais. Márcio é digno de todas as reverências, como humano, e por seus talentos.
segunda-feira, setembro 22
Previsíveis milagres
Já ouvi dizer que nos Estados Unidos todos riem em shows de humor para não perder o dinheiro do ingresso. Essa seria a única explicação para ainda existir aquelas apresentações sem graça que volta e meia são exibidas nos canais de tv pagos.
Acho que efeito semelhante acontece no público de teatro daqui. As peças, mesmo sem nenhum brilhantismo são aplaudidas de pé. Diz a convenção das palmas que se levantar para aplaudir de pé só em caso de apresentações magnânimas. Acho que o povo aproveita que já vai ir embora, e se levanta. Só pode ser. Ou então, tem vergonha de parecer menos inteligente se não acompanhar a onda queimando as mãos de tantas palmas.
Pelo menos foi essa a impressão que tive ontem, ao assistir no José de Alencar a peça Pequenos Milagres, do Grupo Galpão, de Minas Gerais. Os atores são bons, a cenografia criativa, limpa e funcional, mas o texto muito fraquinho. E teatro sem texto eficiente não haverá como me conquistar. Por mais bem apresentada que sejam as interpretações.
Mas é só uma opinião.
Ontem teve também a despedida da Gabriela, amiga que deixa o território nacional para cursar publicidade na Espanha, por seis meses. Que tenha juízo e volte logo. =).
domingo, setembro 21
Paella de domingo e outras frases que não vão a lugar nenhum
Um domingo comum, às vésperas da instalação da primavera no hemisfério sul. Para quem mora há apenas 4º de latitude sul, não faz lá muita diferença. Mas faz. A natureza, mesmo que de forma muito pouco acentuada, se prepara, produz flores sob o sol quase equatorial. E essas transformações sazonais do cenário implicam em mudanças também nas pessoas, já que estas, mesmo com tantas atitudes procurando negar a lógica natural das coisas, ainda estão sujeitas às leis universais como todos os demais seres.
Mas que leis são essas? Não sei bem ao certo, mas faço alguma idéia. Sei que as leis sociais, também subordinadas ao ciclo do poder universal, também se transformam. O que era ideologia dominante, com a organização de grupos antagônicos, passa a ser substituída por novas idéias. Assim caiu o absolutismo, quando o pensamento de um único homem se sobrepunha a vontade coletiva, trocado pela democracia burguesa. Esta cedeu espaço para outros tipos de estados, em momentos houve espaço para a ditadura, economia de mercado, sistemas socialistas, comunistas, fundamentalistas.
É a eterna luta pelo pensamento hegemônico. Hoje, a velocidade das transformações acelerou ao ritmo da difusão das informações. Toma-se conhecimento dos fatos à velocidade da luz, sem espaço para reflexão sobre a finalidade dessa explosão de dados, fatos, fenômenos, à nossa porta. Se há bem pouco tempo o mundo era avesso a determinados comportamentos, escondia seus feios sob o tapete, a moda agora é exibi-los a exaustão, mostrando que se busca a pseudo igualdade entre os desiguais. Se antigamente as mulheres não podiam sequer votar, hoje não só o voto é estimulado, como existem leis para assegurar candidaturas femininas.
E não fica só nisso. Passeatas gays (até bem pouco tempo considerados excrescência da sociedade) se transformam em eventos sociais e turísticos à luz do politicamente correto. Mulheres strippers, atrizes de shows de sexo, donas de clubes de swing são candidatas com as propagandas distribuídas enfatizando as habilidades pessoais e profissionais de cada uma. Como na eleição passada uma desse grupo foi eleita com votação bem expressiva, crêem que o sucesso nas urnas será conhecido.
Mas eu, como bom cidadão de costas para o que eu não quero nem posso transformar, prefiro investir o meu tempo em contato com os meus bons amigos que me aceitam como tal. Vou correr para o fogão e preparar mais uma paella dominiqual, enquanto filosofo sobre a vida, o universo e tudo mais. Sejam felizes sobreviventes da máquina de aceleração de partículas.
* A paella da foto é meramente ilustrativa, apesar de ter sido preparada sob a minha regência em outro domingo...
quinta-feira, setembro 18
Eleição de chapa única
Desde julho que considero esta disputa de chapa única. Não que a prefeita tenha feito alguma coisa que seja digno de nota ou de um bom desempenho nas pesquisas. Mas é que os adversários são muito aquém do que a cidade merece. Esta Luizianne é mesmo uma mulher de muita sorte. Em duas campanhas todos os ventos sopraram a seu favor. Essas pesquisas correm pelos bastidores, mas como nas consultas anteriores os bastidores estavam certo, vou aqui divulgando, arriscando quebrar a cara. Até a próxima semana a gente sabe.
quarta-feira, setembro 17
Terror em tempo real - Isso você só vê aqui
Mas os gerentes de lojas já sabem que o buraco é mais embaixo e cerram as portas. Como nenhum veículo de comunicação da cidade noticia a onda de assaltos, fica parecendo que a coisa não está acontecendo e os boatos que percorrem a cidade dão traços de lenda urbana, aquelas estorinhas que percorrem também a internet como o caso do cara que teve os rins tirados em um hotel de Buenos Aires.
Resumindo: Um local que se julgava e ainda uma grande parcela da população julga seguro está sendo palco de cenas de assaltos e violência. Os meios de comunicação que deviam alertar a comunidade usuária, simplesmente se fingem de desentendidos e fazem de conta que a história não existe com o fito de preservar os seus anunciantes, ou temendo o poder político real, que controla também o shopping. A população não tem mais nem aonde assistir um filme sem susto e não temos para quem reclamar, já que os fatos são como que não existissem no mundo real.
PS. A informação sobre assaltos veio de uma pessoa que foi assaltada.
terça-feira, setembro 16
Para ninguém ler
IMAGEM E POLÍTICA
PROFISSIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA E MODELOS DE JORNALISMO
A atividade política está vinculada de forma muito vigorosa com a produção e difusão de informação através dos meios de comunicação de massa. É evidente que o desempenho de cada político na mídia tem ligação direta com os seus desempenhos eleitorais. Quem possui uma melhor imagem, certamente amplia as suas possibilidades de êxito em cada empreitada. Trabalhar essa imagem está deixando de ser um gesto intuito e se transformando em um trabalho que se apóia em estudos científicos, pesquisas de opinião, e interpretações de cada cenário. A política passou a ser uma atividade profissionalizada, sem muito espaços para amadorismos. Comunicar-se com eficiência é fundamental para quem pretende alçar vôos políticos. É sobre o que iremos discorrer, baseados no livro “Transformações da política na era da comunicação de Massa”, do Professor Doutor Wilson Gomes .
Imagem e política
A associação destes dois termos é intrínseca. No campo político, todos os atores necessariamente possuem uma imagem pública. Essa imagem pública não possui nenhuma vinculação com a imagem visual. De acordo com Wilson Gomes (Transformações da política na Era da Comunicação de massa , 2004 – p.258) nas “imagens públicas não lidamos com pessoas mas com personae, ou máscaras teatrais... não lidamos com a formação de uma idéia sobre alguém originada pelos anos de convivência mas com o processo psicológico e social de caracterização”.
A imagem pública de alguém, conforme explica o autor, está dissociada de representações físicas. O topete de Itamar Franco, o bigode de Sarney, o cavalinho da Ferrari são apenas ícones. A imagem pública “não é uma entidade física, definitiva, sempre igual a se mesma e assegurada para todos os seres reais”. Somente as pessoas que têm presença na esfera pública possuem essa imagem pública, que pode até não ser a representação do real. Como exemplo, podemos citar que um determinado político que tem fama de desonesto, ou de boêmio pode ser na realidade honesto ou de vida espartana, negando a idéia que a comunidade tenha desses entes.
Se as imagens públicas prescindem de uma convivência, ela vem a ser formada, obviamente, não a partir de um contato direto. Podemos deduzir que este processo ocorre através dos meios de comunicação de massa que veiculam informações, idéias, avaliações e julgamentos sobre os atores políticos. O autor, inclusive, suscita a dúvida sobre a participação do jornalismo na construção da imagem pública, ao argüir se este campo (jornalismo) reflete ou constrói a imagem pública.
A imagem se forma também a partir de determinados fatos políticos. Gomes observa, na mesma obra, que Itamar Franco, quando governador de Minas Gerais, apesar de ser possuidor de grande popularidade junto ao povo mineiro, foi citado pela jornalista Eliane Catanhêde, em sua coluna na Folha de São Paulo, como imprevisível, suscetível, ressentido e vingativo, no episódio da declaração de moratória das dívidas públicas mineiras. Ao mesmo tempo o seu antagonista, o presidente Fernando Henrique Cardoso,que sucedeu Franco na presidência do país, é, nas palavras da mesma jornalista, um conciliador que jamais diz não e que prefere dar tempo ao tempo. A jornalista Patrícia Andrade, também da Folha, diz que o ex-presidente Itamar Franco, “além do carimbo de rancoroso recebeu o rótulo de impetuoso...”. As duas citações foram publicadas pelo jornal em janeiro de 1999.
Wilson Gomes (pag. 246) observa que a imagem pública possui um significado metafórico, em relação à imagem real. “O termo imagem para falar de algo que não é propriamente imagem, mas que partilha de pelo menos uma propriedade importante do seu significado, a capacidade de representar algo, de fazer algo presente (aos olhos, em um caso e a mente em outro)”. Ou seja, a imagem é apenas a representação. É como o público imagina que seja determinado ente. E pode ser tão diversa quanto à quantidade de pessoas que tem a percepção de determinada imagem. Se Paulo Maluf é para um determinado grupo de pessoas um político desonesto, e, portanto deveria ser execrado até as últimas conseqüências e condenado a prisão, para outro grupo ele é visto como um político competente, empreendedor e sempre disposto a atender aos anseios populares. Prova disso são os seguidos sucessos eleitorais que o político paulista obteve ao longo de sua carreira. Atualmente, disputa mais uma vez a Prefeitura de São Paulo e de acordo com a última pesquisa do instituto Datafolha (divulgada em 30/08/08) 7% dos eleitores paulistanos revelam a intenção de votar no candidato. Para esse público, todas as denúncias formuladas pela mídia ao longo dos anos não foram suficientes para destruir a imagem pública positiva de Maluf.
Se a imagem pública é abstrata, sem uma representação no universo físico, a construção dessa imagem não se dar através de um processo de engenharia, não é plástica ou visual (p.250) . “A imagem em sentido visual nem sequer pode considerada um ingrediente essencial para a construção de imagens públicas. Imagem se fazem com ações e com discursos, e, com configurações expressivas que incluem, claro, elementos visuais mas ao lado de outros tantos elementos”.
A imagem pública é entendida, conforme expressa Wilson Gomes (p.253) como a opinião pública. O que o público comumente entende sobre determinado ator é o que compõe a sua imagem. A imagem, portanto não pertence ao representado, ou seja, independe de como ele queira parecer para o público. O conceito que se forma depende totalmente da construção que cada pessoa faz daquele personagem, a partir das idéias que são transmitidas através dos meios de comunicação de massa.
“A imagem pública de um sujeito qualquer é, pois, um complexo de informações, noções, conceitos, partilhado por uma coletividade qualquer...” (GOMES 2007 p. 254). O autor observa ainda que estas variáveis são obtidas da representação , no sentido teatral do termo e “não constituem apenas a identidade moral do sujeito, mas ao mesmo tempo a identidade psicológica da personalidade”.
Wilson Gomes observa ainda que a imagem pública bem como a opinião pública são um complexo de “posições teóricas acerca de um determinado objeto. Tanto pode se referir a uma personalidade como uma entidade como um determinado país, ou um movimento, como o MST. A partir do que se vê, lê ouve na mídia, podemos ter o senso comum de que determinada nação é beligerante ou má pagadora, ou que o Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra é formado por pessoas que não respeitam a lei e que pretendem criar condições de uma revolução comunista no Brasil, a exemplo da China de Mao Tsé Tung. Formar imagem é reconhecer um conjunto de propriedades com características de determinadas instituições e atores políticos” (GOMES 2007.p255).
Conforme explica o autor, a imagem pública política não é um ente cristalizado, podendo sofrer alterações através do tempo, ou até mesmo deixar de existir de acordo com a conjuntura midiática. Ou seja, determinada figura política que possui enorme repercussão nos meios de comunicação pelo papel que desempenha em determinado momento, praticamente deixa de existir quando abandona um certo posto. É o que se denota de líderes partidários ou de presidentes de determinadas Comissões Parlamentares de Inquérito do Congresso. Se o senador Tasso Jereissati (PSDB/CE) foi figura bastante entrevistada por jornais e canais de televisão quando estava à frente da presidência do partido tucano, sua imagem some para o mais completo ostracismo quando ele é substituído no posto. Mesmo continuando desempenhando o mandato de senador e sendo notícia nos jornais provincianos do Ceará, para a mídia nacional ele some, pois a sua dimensão no cenário político é insuficiente para conquistar qualquer espaço no cenário nacional. O que faz, o que pensa, o que produz não mais interessa aos meios voltados para a cobertura das grandes questões nacionais.
Posto isso, é fácil entender porque que figuras que se propõem a ocupar funções políticas de expressão nacional, como a presidência da República, brigam por espaços políticos que dêem visibilidade na mídia nacional. A presidência nacional de um partido, a liderança de uma bancada, um posto de ministro ou até mesmo o governo de um Estado influente no campo político se prestam a este papel. Não é por acaso que nomes como Aécio Neves, José Serra e Dilma Roussef são lembrados, atualmente, para suceder o presidente Lula. Outro pretendente ao posto deverá em um curto espaço de tempo, em face da proximidade da sucessão presidencial, buscar uma inserção na mídia nacional, para fomentar uma formação de imagem junto ao público brasileiro e merecer alguma citação em futuras pesquisas de opinião realizadas pelos institutos como Datafolha, Ibope, Vox Populi ou outro que vier a divulgar as suas prévias na mídia.
Ainda segundo o autor, a imagem é construída não a partir do que desejam os seus autores, mas da subjetividade humana(GOMES 2007 p.267). Ou seja, é na recepção de determinado conteúdo que ela se forma e pode até refletir o real. Mas o emissor desta imagem não tem nenhuma garantia de que isso vai acontecer. Como exemplo, podemos citar o episódio que resultou na queda do presidente Fernando Collor. Ele, sentindo o desgaste provocado por uma série de denúncias veiculadas na mídia, a certo momento lançou um apelo ao povo brasileiro, no sentido de que a nação expusesse símbolos nacionais em suas casas, em sinal de solidariedade ao presidente. O que se viu em seguida a isto foi exatamente o contrário, o apelo aparentemente emocionado foi acompanhado de manifestações contrárias ao presidente, tendo como a cor o preto do luto do povo brasileiro. Estava aí ferida de morte a instituição presidência da República que sofreria o impeachment, como é de conhecimento de todos. Seria ingênuo afirmar que a queda de Collor foi apenas um reflexo da vontade popular manifestada através dos movimentos desencadeados em defesa do impeachment. Mas, certamente, as forças que já desejavam tal coisa viram na velocidade do tempo e na espontaneidade das manifestações contrárias ao presidente um sinal verde para o desencadeamento do processo. Para efeito de imagem, todos aqueles políticos que votaram a favor da queda de Collor estariam na verdade a favor do povo brasileiro enquanto que os outros estariam traindo a vontade popular. Essas características, certamente, foram utilizadas como propaganda nas campanhas eleitorais que se sucederam.
Wilson Gomes cita que fatos e discursos existem em primeiro lugar para provocar efeitos diretos e que esses fatos e discursos funcionam como meio para a construção da imagem (GOMES 2007 p.268). Portanto, apesar de fatos desastrados (para o emissor) acontecerem, não seria honesto dizer que isto é a regra. É visível que a visita do presidente Lula à plataforma da Petrobrás, no Espírito Santo, colhendo uma amostra de petróleo extraída da camada do pré-sal atingiu um objetivo positivo, conforme foi planejado. O povo brasileiro, a julgar pelas repercussões do episódio, está certo que é proprietário de uma jazida petrolífera de dimensões nunca vistas na história desse país. A onda de otimismo gerada a partir desse fato certamente trouxe resultados desejados para a imagem do presidente, que se confirmou no grande cabo eleitoral nas eleições municipais deste ano, conforme atestou o Instituto Datafolha no jornal Folha de São Paulo, edição de 31 de agosto de 2008.
Profissionalização da política e modelos de jornalismo
De acordo com o autor Wilson Gomes (GOMES 2007 p. 45) podemos dividir o jornalismo em três modelos, que não necessariamente recebem uma divisão histórica e, por conseqüência, podem conviver simultaneamente em determinado lapso de tempo. O primeiro modelo remonta o século XVII e é formado somente pela imprensa. Surgiu, principalmente, dentro dos Estados absolutistas, tendo como exemplo o reinado de Luís XIV. Era a imprensa de opinião a serviço da esfera pública. A Imprensa é considerada um dos elementos da esfera pública. Naquela época, todas as publicações se voltavam apenas para elogiar e glorificar o rei e o seu reinado. “A imprensa burguesa de opinião, ao contrário, situava-se fora da esfera reservada da política do Estado absoluto...”( GOMES 2007 p. 46).
Segundo o autor, da imprensa de opinião surge na esfera civil para defender os interesses da burguesia, e é contrária ao Estado aristocrático, detentor das decisões políticas que afetavam toda a nação. Esta imprensa vem dar vazão às necessidades de se construir um meio de publicidade civil. É preciso dar-se conhecimento ao que se passa fora dos meios aristocráticos. Depois, com o surgimento do Estado burguês com a queda da aristocracia, a imprensa, até então de opinião assume o caráter de imprensa de partido.
Este modelo de imprensa entende a si próprio como órgão de partido. Ou seja, estava disposta a defender as idéias, opiniões e interesses de determinados grupos partidários. A existência de uma imprensa de partido exigência do estado a liberdade de expressão, sob pena de alijar do cenário social determinados agrupamentos partidários. “Uma imprensa livre era a garantia da existência da liberdade partidária” (GOMES 2007 pag.47).
O segundo modelo citado pelo autor surge com a modernização dos meios de comunicação. Deixa de ser somente impressa, e passa a também se instrumentalizar com o rádio, o cinema e a televisão, posteriormente. Este modelo continua trabalhando a serviço dos governos e partidos políticos. Neste período surgem os primeiros estudos sobre os efeitos dos meios de comunicação no mundo político. Buscava-se entender como o uso dos meios de comunicação poderia produzir efeitos que interessassem ao Estado.
Neste modelo são observados a massivas propagandas beligerantes na época da1ª e 2ª Guerras Mundiais, estabelecendo os primeiros parâmetros para o surgimento das sociedades de massa. Ou seja, todo um conjunto de pessoas, das mais diversas classes sociais, padrões culturais e étnicos submetido às mesmas mensagens e propagandas transmitidas através dos meios de comunicação de massa.
“Não se pode mais pensar, então, em cidadãos privados, reunidos em público, nos cafés e salões da sociedade, por exemplo, para instruídos pelo jornalismo político, discutir as coisas de interesse comum e as decisões que lhes concernem” (GOMES 2007 p. 49).
Os meios de comunicação prescindem desta convivência social, podendo alcançar a todos, até os não alfabetizados. Pessoas formam o alvo da mídia sem a necessidade de um espaço físico definido.
O terceiro modelo, segundo Wilson Gomes, começa a ser implantado no século XX, com o advento da industrialização dos meios de comunicação. Se antes, a imprensa de partido não podia ser considerada como uma atividade capitalista, porque não previa captar lucros a partir da venda dos conteúdos impressos ou veiculados, a partir da industrialização, o quadro começa a se transformar.
A informação passa a ser um produto capaz de atrair consumidores, ao mesmo tempo surgem os anunciantes dispostos a pagar para terem as suas marcas e produtos difundidas por toda a sociedade. Este modelo disponta porque há uma gama de consumidores de informação que não mais aceita a interpretação dos fatos gerada a partir da imprensa de partido. Aquele conteúdo partidarizado era insuficiente para dar a sensação de bem informado no cidadão, que agora exige saber dos fatos para pessoalmente formar o seu juízo de valor, sem intermediários.
Para que esta informação chegue ao público com o máximo de credibilidade é preciso que a indústria da informação adote algumas posturas e se profissionalize. Afinal de contas, somente com a credibilidade conquistada no mercado é assegurada uma boa audiência, que interessa fortemente aos anunciantes. O que a indústria vende, na realidade, (como diria Wilson Gomes) é audiência e não informação. “A indústria da informação além de vender o seu produto diretamente ao consumidor final, também estabelece no ramo dos serviços que vende atenção pública, que cativa, ao anunciante dos setores produtivos” (GOMES 2007 p. 51).
A profissionalização da política
É inegável, segundo o autor, que as relações entre o público e a esfera política se transformaram partir da das inovações tecnológicas dos meios de comunicação. Hoje existe uma política midiática, que se faz a partir da veiculação dos discursos políticos. O ator tem mais poder de influir no imaginário popular quanto mais exposição obtiver na televisão, no rádio e demais meios. “Em tempos de política midiática, a comunicação de massa é decisiva para o ingresso no círculo da representação política e muito importante para continuar nele”.
De acordo com Wilson Gomes, “a esfera da comunicação controla praticamente todo o provimento de informação e comunicação de interesse político e praticamente todo o fluxo de mensagens da esfera política em direção à esfera civil”. Ou seja, é esta a única forma de percepção da realidade política, para a grande maioria da população.
Desta forma, os partidos e atores políticos precisam ter uma compreensão de como se dá esta formação de imagem pública, sua composição e estratégias para influir na composição do imaginário da população para obter o sucesso na disputa pelo poder. Quem dispõe da melhor imagem pública certamente irá se sobrepor sobre os adversários políticos, princípio básico dos regimes democráticos.
Se antigamente, a abrangência de determinado ator político se voltava a pequenas comunidades, hoje o seu público abrange centenas de milhares ou milhões de pessoas, quando se trata de políticos que buscam a expressão nacional, a conquista do poder central. É claro que se a aspiração não vai além da conquista de uma prefeitura de uma pequena cidade, ou um mandato de vereador, ainda é possível se prescindir dos meios de comunicação de massa para os seus objetivos. Mas quando o cargo cresce em importância cresce também a necessidade de se alcançar um público maior. Um governador de estado certamente não poderá prescindir de uma formação de imagem através dos meios de comunicação.
“A política, portanto, funciona como base em vários sistemas de práticas e a política midiática é simplesmente um dos sistemas de práticas da política contemporânea, isto é, um conjunto sistemático de habilitações, de atores e de representações pelas quais se realiza a atividade política econômica” (GOMES 2007 p.424).
No momento em que a interface entre o político e o público (eleitores) fica impossível de ser interpessoal, em decorrência do grande universo eleitoral, torna-se imprescindível a utilização dos meios de comunicação de massa para intermediar esta relação. E esse processo exige uma série de profissionais capacitados tecnicamente para lidar com as mídias utilizadas e os conteúdos que devem ser produzidos.
“As competências solicitadas incluem organizações de equipes, levantamento de dados, pesquisas de opinião, administração do dia-a-dia da campanha, estratégias, criação e disseminação de mensagens, escritura de discursos, contato por telefone com eleitores. Coordenação de voluntários, correspondência, corpo-a-corpo e criação e manutenção de websites, produção para comunicação de massa” (GOMES 2007 p.74).
A partir desta profissionalização, gerada pela modernização das campanhas, passaram a acontecer também conflitos entre os chamados marketeiros (profissionais voltados para a elaboração da propaganda político-eleitoral) e os integrantes e dirigentes dos partidos políticos. “Numa divisão óbvia do trabalho, consultores ocupar-se-iam com a parte técnica do processo... enquanto que os partidos lidariam com as estratégias, as mensagens e o levantamento de fundos de campanha”, (GOMES 2007 p.75)
Este divisão teórica de funções não ocorre na prática, de acordo com o autor. São comuns as reclamações por parte dos militantes partidários sobre a interferência dos chamados profissionais nas áreas que deveriam ser restritas aos militantes. “Os consultores, por sua vez, reclamam em campanha da interferência e do controle dos políticos” (GOMES 2007p.75)
O autor cita Lilleker e Negrine (Apud Lilleker e Negrine 2002), que perguntam se a profissionalização da política não seria tão somente um processo destinado a produzir uma comunicação mais efetiva que poderia ser realizada por políticos profissionais ou se trataria do emprego de comunicadores profissionais voltados para a gerência de campanhas e governos.
Para Gomes, a política profissional está ligada ao surgimento dos novos meios de comunicação e a especialização de atividades existente na sociedade contemporânea. A autor destaca que em países como os Estados Unidos ainda há uma certa identidade ideológica entre os candidatos e os profissionais de comunicação, ao passo que no Brasil, os marketeiros não sentem qualquer constrangimento em mudar de partido. “Proclamam vender candidatos como se vendem sabonetes, como quer o folclore da área”. (GOMES 2007 Pag. 78).
O autor revela que o marketing político obedece o mesmo modelo nas democracias. Os conteúdos veiculados são elaborados a partir de pesquisas de opinião junto ao público alvo. “ O marketing político é uma combinação de competência gramatical para a produção de materiais segundo a lógica do ambiente de comunicação..”( GOMES 2007 p.78).
Wilson Gomes faz uma divisão histórica da evolução da consultoria política, nos Estados Unidos, onde pesquisas de opinião são vastamente utilizadas pelo campo político, antes de 1960. Eram os pesquisadores de opinião que ofereciam informações sobre as percepções do público sobre os conteúdos políticos. A partir dos anos 70 e 80, a televisão é o veículo central e os consultores passam a ser do campo político. Nos anos 90, começaria a era dos consultores estratégicos.
“A crescente profissionalização das campanhas e das consultorias políticas está diretamente associada à crescente indisponibilidade do jornalismo funcionar como meio passivo e eficiente para a política que provêm do interior da esfera propriamente política”. (GOMES 2007 p.80).
quarta-feira, setembro 10
Eu e a grampolândia
Mas ninguém se deteve a avaliar a proveniência do grande susto que alguns figurões estão tomando com a possibilidade iminente de ser alvo da arapongagem. Ou já terem sido. É claro que ninguém se apavora por ter sido apanhado combinando uma praia no final de semana, ou uma ida ao shopping, ao telefone. Muitos figurões devem estar com conversas bem cabeludas, e temem que ao serem flagrados passem a ser alvos de chantagens, ou coisa parecida. Daniel Dantas não liga para Gilmar Mendes para comentar o resultado do último jogo do Corinthians, certamente. Saindo da vala comum, Marcelo Coelho faz uma avaliação do surgimento da grampolândia no país, na folha de São Paulo de Hoje, Caderno de Cultura, que aqui eu reproduzo, e assino em baixo:
Com todos os abusos que possam ocorrer, uma autoridade grampeada é uma autoridade mais transparente
Assunto delicado, esse dos grampos. Prometo ser cuidadoso no que vou falar aqui, mas eu tendo a discordar do espírito geral dos comentários feitos sobre o tema.Estado policial, retorno aos tempos da ditadura, da Gestapo, da KGB? Comparações desse gênero viraram moda.Preocupa bastante, é claro, a disseminação das escutas ilegais. Mas acho que estamos diante de um fenômeno novo, que não se confunde com a antiga realidade dos regimes totalitários.Tome-se o exemplo da Alemanha Oriental, pátria da famosa Stasi; quem viu o filme "A Vida dos Outros" sabe o pesadelo que era aquilo.
Qualquer suspeito de ser opositor do regime tinha as suas conversas monitoradas.
Numa cena impressionante, uma velhota, vizinha de um cidadão suspeito, abre por acaso a porta do seu apartamento e percebe que um grupo de agentes policiais está no corredor, pronto para instalar os aparelhos de escuta.
O chefe dos arapongas se aproxima da velhota e avisa: se ela contar a alguém o que acabou de ver, sua neta perderá a vaga na faculdade. A velhota fica evidentemente quieta, não revela ao vizinho que ele está sob vigilância e se torna, na prática, cúmplice do regime.
Não é preciso dizer que toda conversa vagamente incriminadora, captada pelos agentes secretos, significa a prisão imediata do suspeito, que, com tortura ou sem tortura, assina uma confissão, é condenado ou provavelmente termina fazendo parte dos informantes do regime.
Para que esse modelo de Estado policial funcione, alguns pressupostos são necessários. O primeiro é que só a polícia detenha os equipamentos de espionagem. O segundo é que a informação passe a ser imediatamente utilizada pelo sistema repressivo. O terceiro é que esse sistema repressivo seja mais ou menos clandestino, ocorrendo à margem da Justiça oficial: cada prisão se assemelha a um seqüestro. O quarto é que, para ter qualquer coisa, emprego, moradia, estudo, o cidadão dependa do Estado.
O funcionamento da "grampolândia" hoje em dia é bastante diferente, e desconhece esses pressupostos.Se as famosas maletas da Abin podem ser compradas com facilidade por qualquer pessoa, a conseqüência prática não há de ser uma hipertrofia do poder do Estado. A chantagem e a intimidação se tornam via de mão dupla. Os ocupantes do poder têm sido, aliás, mais vítimas do que algozes no processo.Além disso, as práticas da "grampolândia" costumam ter como destino mais provável não o encarceramento do escutado, mas sim, por meio de vazamentos, as páginas dos jornais.
Tudo, nos tempos da Stasi e da KGB, terminava num porão. Agora, tudo se divulga à luz do dia. Crescem imensamente as ameaças à privacidade, mas a novidade está em que não parecem crescer, ao mesmo tempo, as condições para o surgimento de um Estado totalitário.
Na verdade, com todos os abusos que possam ser cometidos, uma autoridade grampeada é uma autoridade mais transparente, mais submetida ao controle da sociedade.A escuta telefônica pode ser manipulada para destruir reputações; mas o perigo, aqui, vem antes das possíveis irresponsabilidades da imprensa do que de qualquer tentação totalitária do Estado.
Não é por acaso que tantos protestos contra o "terror policialesco" dos dias atuais provenham das altas esferas do poder. Se escândalos sexuais tomassem o centro das atenções -como acontece no caso dos tablóides britânicos-, a revolta teria razão de ser. Mas o que se noticia são, acima de tudo, negociatas suspeitíssimas com o dinheiro dos contribuintes.
O poder descontrolado da polícia, levando para trás das grades pessoas somente pela suspeita de irregularidades, deve ser coibido, é claro. Atentados aos direitos individuais não têm desculpa. Em que medida, entretanto, o respeito à esfera privada está ligado ao respeito à liberdade individual?
Câmeras de monitoramento se espalham por toda parte. Aumentar seu número é até promessa de campanha dos candidatos a prefeito.
E como esperar que forças policiais, diante de ameaças como o terrorismo ou o narcotráfico, deixem de usar a parafernália técnica que criminosos organizados podem comprar com facilidade?
Não gostaria de saber, é claro, que minhas conversas telefônicas são grampeadas. Costuma ser terrorismo a idéia do "quem não deve não teme". Tenho meus temores, como todo mundo. Mas acho que muita gente está atemorizada demais.
terça-feira, setembro 9
"Os indiferentes"
A indiferença é o peso morto da história. É a bala de chumbo para o inovador, é a matéria inerte em que se afogam freqüentemente os entusiasmos mais esplendorosos, é o fosso que circunda a velha cidade e a defende melhor do que as mais sólidas muralhas, melhor do que o peito dos seus guerreiros, porque engole nos seus sorvedouros de lama os assaltantes, os dizima e desencoraja e às vezes, os leva a desistir de gesta heróica.
A indiferença atua poderosamente na história. Atua passivamente, mas atua. É a fatalidade; e aquilo com que não se pode contar; é aquilo que confunde os programas, que destrói os planos mesmo os mais bem construídos; é a matéria bruta que se revolta contra a inteligência e a sufoca. O que acontece, o mal que se abate sobre todos, o possível bem que um ato heróico (de valor universal) pode gerar, não se fica a dever tanto à iniciativa dos poucos que atuam quanto à indiferença, ao absentismo dos outros que são muitos. O que acontece, não acontece tanto porque alguns querem que aconteça quanto porque a massa dos homens abdica da sua vontade, deixa fazer, deixa enrolar os nós que, depois, só a espada pode desfazer, deixa promulgar leis que depois só a revolta fará anular, deixa subir ao poder homens que, depois, só uma sublevação poderá derrubar. A fatalidade, que parece dominar a história, não é mais do que a aparência ilusória desta indiferença, deste absentismo. Há fatos que amadurecem na sombra, porque poucas mãos, sem qualquer controle a vigiá-las, tecem a teia da vida coletiva, e a massa não sabe, porque não se preocupa com isso. Os destinos de uma época são manipulados de acordo com visões limitadas e com fins imediatos, de acordo com ambições e paixões pessoais de pequenos grupos ativos, e a massa dos homens não se preocupa com isso. Mas os fatos que amadureceram vêm à superfície; o tecido feito na sombra chega ao seu fim, e então parece ser a fatalidade a arrastar tudo e todos, parece que a história não é mais do que um gigantesco fenômeno natural, uma erupção, um terremoto, de que são todos vítimas, o que quis e o que não quis, quem sabia e quem não sabia, quem se mostrou ativo e quem foi indiferente. Estes então zangam-se, queriam eximir-se às conseqüências, quereriam que se visse que não deram o seu aval, que não são responsáveis. Alguns choramingam piedosamente, outros blasfemam obscenamente, mas nenhum ou poucos põem esta questão: se eu tivesse também cumprido o meu dever, se tivesse procurado fazer valer a minha vontade, o meu parecer, teria sucedido o que sucedeu? Mas nenhum ou poucos atribuem à sua indiferença, ao seu cepticismo, ao fato de não ter dado o seu braço e a sua atividade àqueles grupos de cidadãos que, precisamente para evitarem esse mal combatiam (com o propósito) de procurar o tal bem (que) pretendiam.
A maior parte deles, porém, perante fatos consumados prefere falar de insucessos ideais, de programas definitivamente desmoronados e de outras brincadeiras semelhantes. Recomeçam assim a falta de qualquer responsabilidade. E não por não verem claramente as coisas, e, por vezes, não serem capazes de perspectivar excelentes soluções para os problemas mais urgentes, ou para aqueles que, embora requerendo uma ampla preparação e tempo, são todavia igualmente urgentes. Mas essas soluções são belissimamente infecundas; mas esse contributo para a vida coletiva não é animado por qualquer luz moral; é produto da curiosidade intelectual, não do pungente sentido de uma responsabilidade histórica que quer que todos sejam ativos na vida, que não admite agnosticismos e indiferenças de nenhum gênero.
Odeio os indiferentes também, porque me provocam tédio as suas lamúrias de eternos inocentes. Peço contas a todos eles pela maneira como cumpriram a tarefa que a vida lhes impôs e impõe quotidianamente, do que fizeram e sobretudo do que não fizeram. E sinto que posso ser inexorável, que não devo desperdiçar a minha compaixão, que não posso repartir com eles as minhas lágrimas. Sou militante, estou vivo, sinto nas consciências viris dos que estão comigo pulsar a atividade da cidade futura que estamos a construir. Nessa cidade, a cadeia social não pesará sobre um número reduzido, qualquer coisa que aconteça nela não será devido ao acaso, à fatalidade, mas sim à inteligência dos cidadãos. Ninguém estará à janela a olhar enquanto um pequeno grupo se sacrifica, se imola no sacrifício. E não haverá quem esteja à janela emboscado, e que pretenda usufruir do pouco bem que a atividade de um pequeno grupo tenta realizar e afogue a sua desilusão vituperando o sacrificado, porque não conseguiu o seu intento.
Vivo, sou militante. Por isso odeio quem não toma partido, odeio os indiferentes.segunda-feira, setembro 8
Circo de horrores II - O retorno
sábado, setembro 6
Circo de horrores
É mais ou menos como eu vejo essas para-olimpíadas. Um grande circo de horrores. Pessoas amputadas jogando voleibol em mini-quadras com redes coladas no chão, cegos se chutando em imaginárias partidas de futebol, aleijados levando quedas de suas cadeiras de rodas simulando partidas de basquete, e por aí vai. O espetáculo é ao meus olhos um quadro dantesco.
Sei que há os árduos defensores dessas atividades para-esportivas, que alegam ser este um meio de reintegração social, uma esperança de uma vida normal na para os deficientes. E até acho que possa ser. Mas na minha precária avaliação, não é assim que se resolve um problema tão delicado. Basta lembrar que uma olimpíada reúne apenas uns 15 mil atletas de alta performance quando a população mundial é de 6 bilhões. Ou seja, a grande maioria continua só na torcida.
Em vez de se criar essa falsa integração de aleijados, cegos, retardados mentais através de pseudos esportes, mais honesto seria integrá-los efetivamente ao meio social como qualquer cidadão comum. Dar a eles o direito de trabalhar, estudar, se deslocar em suas cidades, ingressar em locais públicos, enfim, ser um igual a todos nós, mesmo tendo de superar alguns desafios.
Enquanto se fala de um Brasil sendo uma potência para-olímpica, conquistando a 15ª posição no ranking de medalhas, posto bem mais acima do que os nossos atletas olímpicos, um cadeirante é incapaz de atravessar uma rua da maioria das cidades do Brasil simplesmente porque as calçadas não são rebaixadas. E quando são, há sempre um carro estacionado junto ao rebaixamento impedindo o acesso. Os deficientes auditivos só têm direito a duas horas de programação de televisão usando a tecla sap, e a literatura disponível em áudio ou braille é mínima. Em Fortaleza, cidade com mais de 2,5 milhões de habitantes, há apenas uma escola para surdos-mudos e uma escola para cegos. Na maioria das praças esportivas, cinemas, teatros, bibliotecas não há sequer meios de acesso. Na própria Assembléia Legislativa, batizada pomposamente de casa do povo, o elevador dedicado aos deficientes fica constantemente desligado, e para acioná-lo é necessário descobrir aonde e com quem está a chave.
Enquanto a situação não muda no país, continuamos torcendo no circo de horrores, transmitido especialmente através das TVs por assinatura.
PS. Não sou politicamente correto e acho que esse politicamente correto tão defendido em verso e em prosa é uma farsa.
quinta-feira, setembro 4
De Caros Amigos
Desde o 11 de setembro, o governo Bush autorizou o seqüestro e a aplicação de torturas em suspeitos de terrorismo, transportados em vôos clandestinos da Europa à base naval de Guantánamo, em Cuba, onde são mantidos presos.
terça-feira, setembro 2
1º lugar em psicologia na Universidade Federal do Ceará
"Fiz inscrição em três vestibulares. Funcionou para diminuir o peso das provas"