A paisagem é o principal personagem. Histórias colhidas, retratadas contadas nas madrugadas dentro dos terminais de ônibus urbanos preenchem as páginas da revista-opúsculo do grupo trema formado por jornalistas e foto-jornalistas (?) (de dúvida e não de suspeita da qualidade). Traz para o leitor o recorte de uma cidade que passa amassada, enclausurada, espremida pelas janelas da classe média bem-favorecida , mas que estão ao largo dos pensamentos consumistas último-modelo dos endinheirados.
Quem depende de transportes coletivos ao longo da madrugada certamente irá se identificar com tantas histórias colhidas. Mas quem não é obrigado a cruzar roletas ao se deslocar pela cidade, certamente irá achar o cenário um tanto quanto incompreensível, distante, exótico. Não sei quais exatamente são as intenções dos autores, nem percebi qualquer preconceito ou ar de superioredade, tão próprios de quem aborda um mundo estranho ao seu berço.
O projeto gráfico deve combinar com a proposta. Em tons de cinza, volta e meia incomoda o leitor ampliando ou encolhendo o tamanho das colunas e com ilustrações em grissé cruzando por cima das palavras. Um previsível ruído, talvez uma alegoria aos imprevistos que a vida em terminais rodoviários podem causar em quem tem a madrugada cronometrada. Há também frases inacabadas, títulos em meio a textos e até colunas na diagonal, criando um intencional desconforto. Um proposta nova, sem ser boçal, sem modernismos gratuitos ou incongruentes. Vale a pena esperar por um novo projeto do Trema e presenciar o qual longe ele ainda pode ir.
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