São tantos engenhos, engenhocas, descobertas científicas, biológicas, astronômicas, eletrônicas, sociológicas que a memória iconográfica não acompanha. Semana passada deixou este mundo Pierre-Gilles de Gennes, cidadão francês, descobridor do cristal líquido e vencedor do Nobel de física em 1991. A sua partida não mereceu nenhum registro ou destaque, mesmo com a sua descoberta estando presente no cotidiano de qualquer ser minimamente civilizado.
Está cada vez mais difícil se tornar notável. Ou melhor, se notabilizar por construir algo de útil. Mais fama ganha funkeiros e rappers do mundo todo, produzindo letras infames que retratam a degradação da sociedade, da ética, da honradez e outros itens tão comuns no cotidiano de tempos idos.
Mas como tem gente querendo aparecer às custas de atos totalmente inúteis! Certa vez descobri que tramita no Congresso Nacional projeto de lei que quer expulsar do vocabulário cotidiano do brasileiro palavras originárias de outro idioma, que não do português invasor. Como se nós tivéssemos algum compromisso de fidelidade cultural com o europeu que anos a fio nos espezinhou, depauperou parte das nossas riquezas, introduziu a escravidão dos negros e até hoje fecha as portas do velho continente para os brasileiros que buscam melhores dias naquelas paragens.
Não consigo esquecer de uma certa professora de sociologia que abriu a boca para criticar a recém introduzida comemoração do dias das bruxas por ser uma tradição anglo-saxônica. Como se todas as outras não fossem também originárias de outras plagas. O que há de brasileiro nas festas de Natal, são João, Páscoa, Reis, Carnaval ? Todas tradições importadas.
Eu, sinceramente, não me sinto confortável em chamar mouse de rato. Ou head phone de fone de cabeça. Se querem trazer ao país uma cultura genuinamente nacional, que antes façam uma sopa cultural minimamente palatável ao nosso jeito de ser. Enquanto isso não acontece, deixem-nos ser o que podemos ser.
2 comentários:
Bem colocado, mas acho que a invasão de palavras estrangeiras está passando dos limites. É só andar nas ruas de Fortaleza mesmo e perceber que os salões de beleza, restaurantes, lojas etc e tal, têm em suas faixadas nomes estrangeiros (especialmente em inglês). Pode ser que a sociedade já tenha se acostumado há tempos com isso, mas eu me sinto profundamente incomodada...
Renata,
Para mim, o português também é estrangeiro. Eu não me sinto confortável ouvindo os patrícios falando... :)
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