Há algum tempo, vários anos para não ser tão impreciso, lembro-me de ter encontrado uma amiga, que havia passado uma temporada estudando na França, o berço da democracia, como se conhece hoje. O Brasil, na época, era noviço em termos de eleições diretas e ainda se respirava nas universidades os ares esquerdistas. O muro de Berlim, se não me falha a memória, ainda não havia caído, nem a Perestroika era papo de bar. Nos bancos da faculdade, ou se era de esquerda, burguês ou capacho dos capitalistas. Não havia meio termo. As tendências à gouche, trocavam acusações entre si, sobre quem realmente defendia os interesses do proletariado ou era um mero reformista. Quer dizer, entre os esquerdistas não se entendia. Tanto foi assim que uma determinada tendência trotskista rachou no meio por conta de uma eleição na França. Um lado apoiava o socialista François Miterrand e o outro lado afirmava de mãos postas que ele não passava de um fantoche do sistema capitalista.
Alonguei-me um pouco do primeiro parágrafo só para dar um clima do que se passava nas bandas de cá. O que conta mesmo foi a conversa com a minha supra citada. Eu perguntei a ela quais eram as idéias políticas que o velho e experiente mundo estava gerando naquelas datas. Queria saber o que os bancos universitários do além mar conspiravam sobre o futuro da humanidade. (É claro que a turma só conspira. De concreto, bem pouco). Ela me contou que a próxima revolução que se avizinha seria a da comunicação. O mundo iria se transformar pela linguagem.
Depois que ouvi isso, nem abri a boca para argumentar nada. Aquilo era o soco no estômago de alguém como eu que acreditava nos Beatles e nos Rolings Stones, que idolatrava, mesmo sem entender muito o que significava os ícones, Che Guevara, revolucionários chineses e por aí vai. Não era nada do que eu queria ouvir aquela tal revolução. Pelo contrário, me cheirou pirotecnia burquesa para atrair os simpatizantes dos pensamentos socialistas, ou os ignorantes de todas as faixas que freqüentam o chamado nível superior do ensino e se acham o supra-sumo da elite pensante do universo.
Mas o que antes eu achava a fina flor da fuleragem, hoje, anos e anos depois revisito, e passo a arranhar o entendimento do que esta suposta revolução pela comunicação possa vir a ser. Principalmente depois que saiu uma reportagem da revista Veja, sobre determinados índios da Amazônia que são altamente limitados na forma de pensar por absoluta falta de vocabulário. Não têm nomes para cores, nem noção do ontem ou o dia de amanhã porque não há no dialeto deles estas palavras. Não conhecem frases subordinadas, o que os deixam sem noção de causalidade ou conseqüência. Não possuem nenhuma lenda ou explicação para a origem da tribo. São também sem noção de qualquer divindade. Vivem em estado realmente primitivo, praticamente só instinto, inerente a qualquer animal. São tão diferentes de todas as culturas existentes, que estão até quebrando a universalidade de determinados princípios da lingüística. Os estudiosos do assunto ficaram de cabelos em pé com estas descobertas.
É aqui que entra a mencionada revolução da comunicação (ou da linguagem, não lembro bem as palavras que a minha amiga enunciou daquela data). Considero que para a verdadeira revolução da humanidade, que eu acho que não verei, é preciso que o nosso vocabulário (ou algo que esteja além disso como forma de comunicação) seja ainda muito enriquecido. Nós ainda não conseguimos arranhar o conhecimento sobre a forma sistêmica de como funciona e se porta cada individualidade e os efeitos que cada ser pensante gera no seio da comunidade. Ainda muito pouco sabemos sobre o peso de cada palavra lançada despretenciosamente ao éter causa na estrutura quântica do universo. Precisamos de mais, na minha precária avaliação. Ainda somos como estes índios amazônicos, quase só básicos instintos, diante do que ainda seremos um dia. E quando este dia chegar, todas as questões políticas serão vistas como uma briga de crianças por um capricho qualquer.
(Para quem leu até aqui. A foto acima é um comício de Sègoléne Royal na cidade de Puno).
Um comentário:
"Ainda muito pouco sabemos sobre o peso de cada palavra lançada despretenciosamente ao éter causa na estrutura quântica do universo".
Matéria de longo estudo, por sinal... sem outras palavras para o momento.
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