Histórias cruzadas tem como principal cenário a luta pelos direitos civis dos negros nos Estados Unidos, principalmente nos estados do Sul, onde a história é ambientada. Na pequena cidade de Jackson, no Mississipi mora a jovem Eugenia Phelan, apelidada pelas amigas por Skeeter. Recém formada na universidade do Mississipi, ela quer ser escritora, e consegue um emprego no jornal local, com um baixo salário mas como forma de se manter.
Ao retornar para casa, Skeeter percebe que a sua antiga babá, e empregada doméstica de sua mãe já não está mais entre a sua família, e questiona o porquê. Afinal de contas algumas moças da região criavam laços de extrema afetividade com suas amas, uma vez que as mães, ao que consta só tinha mesmo o trabalho de parir de lançar as crias aos braços de suas domésticas.
As amas negras criavam as crianças brancas com um extremo afeto, substituindo, quase sempre o amor materno que era negado pelas jovens mães. Apesar disso, as meninas e meninos, ao crescer logo adotavamos modelos de seus pais biológicos de preconceitos e ares de superioridade em relação aos negros. Carga que herdaram dos tempos de escravatura, que se deu de forma muito mais acentuada no sul dos EUA.
Mas Skeeter não reproduziu o modelo, e a busca pelo destino de sua antiga ama não a deixa engolir respostas esfarradas de seus pais. Neste contexto, ela começa a observar, já com o olhar amadurecido, como as empregadas domésticas são tratadas em diversos lares. Mesmo deixando as suas casas para cuidar das dos brancos, elas têm um tratamento de subrraça. A liga das senhoras brancas exerce uma pressão doentia sobre todas, de forma preservar a discriminação histórica. Qualquer tentativa de conciliação é fator de repulsa severa.
Há também na cidade de Jackson a pressão em cima de todas as jovens solteiras. Arrumar um bom casamento deve prevalecer sob qualquer outro projeto de vida. Skeeter não se mosta satisfeita com esta questão, e até aceita se envolver com um certo primo de uma fulaninha, só para sair do cenário de solteiras irremediáveis, e até chega a se apaixonar pelo sujeito. Porém, desiste dele, quando percebe no parceiro a mesma sanha preconceituosa reinante no meio.
Numa tentativa de fazer algo para mudar a realidade daquela gente, e ao mesmo tempo lançar-se o mercado editorial, seu principal sonho de formação profissional, Skeeter começa a escrever sobre a vida das domésticas negras. A princípio encontra resistência por parte das negras, que temem represálias. A Ku Klux Khan existe e é forte naqueles primeiros anos da década de 60.
O filme realmente vale a pena ser visto, principalmente por nós terceiromundistas, que ainda dispomos de empregadas domésticas, e não raras vezes a tratamos como se nem humanos fossem. Essa discriminação eu mesmo pude presenciar na minha família, e tenho me esforçado para não repeti-la. Mas não sou eu quem posso julgar-me se estou no caminho certo, ou não.
Historias cruzadas também nos remete a todos outros episódios de nossa história, onde uma determinada etnia passa a sofrer a repulsa de algum outro setor majoritário, que detém a hegemonia do poder. Vide o holocausto dos judeus, na Segunda Guerra. E nem por isso a lição foi aprendida. Que o diga o palestino residente na Faixa de Gaza. Não se pode julgar todos os alemães por Hitler e seu séquito, assim como não pode se dizer que todo o Wasp (White, Anglo Saxonic, Protestant) seja ruim. A conquista pelos direitos civis foi dos negros americanos, mas há de se lembrar de que brancos que viram além dos modelos reproduzidos pelas gerações também se ombrearam nesta luta, que é de toda a humanidade. Ou pelo menos do lado sensato da humanidade.
Recomendo sem reservas.
Direção:
Tate Taylor
Roteiro:
Tate Taylor
Elenco:
Emma Stone, Viola Davis, Octavia Spencer, Bryce Dallas Howard, Jessica Chastain, Ahna O'Reilly, Allison Janney, Anna Camp, Chris Lowell, Cicely Tyson, Mike Vogel