domingo, janeiro 8

Precisamos falar sobre Kevin


We need talk about Kevin

Precisamos falar sobre Kevin é tenso. Desde as cenas iniciais. No princípio, nós somos levados ao desconforto e a desestabilidade a partir de ruídos diegéticos (contextualizados), como perfuratrizes, cortadeiras de grama, aspiradores de pó e outros equipamentos e ferramentas ruidosas. A partir daí, a relação conflituosa entre o filho Kevin e sua mãe Eva se encarrega de nos incomodar por toda a película, em uma narrativa não linear que não se preocupa em esclarecer os fatos que sugere ou exibe.

O filme, baseado no livro de mesmo nome, de Lionel Shriver, tem Eva Katchadourian (Tilda Swinton) como protagonista. Vivendo um casamento estável, tem a sua vida desequilibrada quando nasce o seu filho Kevin (Ezra Miller e Jasper Newell). Ela procura ser uma mãe normal, dando atenção e afeto à cria, mas o menino, desde a mais tenra idade, já demonstra todo o seu desapreço à mãe, ao mesmo tempo que demonstra um comportamento normal em relação ao pai, Franklim. Eva se preocupa com essa situação e chega a levar o filho a uma médico, temendo um autismo, que não é confirmado pelo diagnóstico.

Como a narrativa não segue a linha do tempo, as constantes idas e vindas do roteiro nos forçam a compor um quebra-cabeça para montarmos a história. Em todos os trechos há tensões e cenas expondo situações desagradáveis entre mãe e filho. Ele faz questão de demonstrar o desamor em vários momentos, quer quebrando lápis de ceras que lhe foram dados, quer pichando o quarto recém decorado dela. A situação é incômoda, mas Eva não desiste, e sempre procura contornar os conflitos.

A cada tentativa, uma nova frustração. Não adianta querer puxar conversa sobre trivialidades, jogar partidas de mini-golfe ou um jantar em um restaurante. Kevin só dá trégua uma única vez, quando adoece e aceita os afagos da mãe, ao mesmo tempo em que rejeita momentaneamente o pai, companheiro de todas as horas. Mas é coisa rápida, logo o mau humor com a mãe retorna.

Eva tem uma nova gravidez e uma filha, que logo passa a ser objeto de judiação de Kevin. As coisas não mudam até a adolescência, quando incidentes domésticos levam a perda de um olho da menina. Nada é muito esclarecido, suspeitas são quase evidenciadas, mas sempre paira dúvidas sobre responsabilidades. Eva continua se esforçando para ter uma relação normal com o filho mas a cada nova tentativa vem outra frustração.

E como tantos outros meninos desajustados, Kevin transforma-se em um serial killer em sua escola. E parece que ele foi o único responsável por isso. Tinha um lar ajustado, pais normais, mesmo assim, desenvolveu uma personalidade doentia, implacável, que o levou a premeditar assassinatos em série, usando um arco e flechas, que foram presentes do pai. Nem assim, a mãe foi capaz de abandoná-lo. A pergunta que fica: será que precisava ser assim e nada pode ser feito para se evitar uma tragédia? O filme é interessante, mas não aborda, nem se aprofunda nessas questões, como se houvesse uma certa inevitabilidade nos comportamentos de psicopatas. Eu não sei se é assim mesmo.

Mesmo evitando mostrar as cenas mais pesadas que acontecem ao longo da trama, Precisamos falar sobre Kevin não dá vida fácil ao público, que se vê em meio a situações de desconforto pela tensão que cada cena gera. É uma conversa que não acontece, apesar de sua urgência. Se estiver procurando diversão leve, não irá encontrar nesse filme, mas é uma trama bem interessante, apesar de deixar mais perguntas do que respostas ao final.

Agradeço a Aline, pela dica. =)


Um comentário:

Anna disse...

vou assistir. é bom mesmo?

beijos