"Quando porém conseguem, são venerados e,depois de suprimir os que tinham inveja de suas qualidades, se tornam poderosos, seguros, honrados e felizes".
Maquiavel.
O russo Isaac Asimov é considerado por quem está podendo ver como o mais talentoso escritor de ficção científica. Escreveu em 1951, se não me falha a memória, a trilogia Fundação, posta em um só volume, mostrando a evolução da humanidade alguns milhões de anos, a frente. Após a conquista do espaço, a terra é esquecida e a própria origem da raça volta a ser desconhecida. Na evolução da conquista de mundos, em primeiro lugar é empregado o uso das armas. Logo esta metodologia passa a ser antiquada, e a religião é o mais poderoso elemento de dominação. A terceira fase de Fundação tem no mercantilismo, proporcionado pelo desenvolvimento tecnológico o principal fator de domínio. Maquiavel.
É bem óbvio que Asimov, na realidade, não estava olhando tão distante no tempo. Pelo contrário. Estava se espelhando na experiência humana, onde força, religião e poderio econômico até hoje estão bem presentes na composição do poder real. A linguagem da ficção se espelha na história real, onde nenhum poder se eterniza com o uso apenas da força. É preciso mais que isso para dominar corações e mentes. Por isso, os principais conquistadores se apoderaram do simbolismo religioso para escravizar sociedades. E isso ainda se usa até hoje.
Todo um código de conduta e moral se impõe pela origem divina. Mais uma vez entra em cena os hierofantes, porta-vozes de Deus, no processo de conquista.
A partir de determinadas crenças, são legitimadas as ações que descontextualizadas não passam de alta crueldade. Se na idade média pessoas iam para a fogueira mediante acusação de bruxaria, hoje não está muito diferente.
Em nome de crenças religiosas, palestinos são mortos às centenas simplesmente porque, em análise mais simplória, não professam o judaísmo. A discriminação de ordem religiosa, a aqueles que teimam em seguir o hierofante é talvez, salvo melhor juízo, a mais cruel porque o discriminado não é só inferior ao discriminante. É também apontado com possuidor de demônios e fadado a danação eterna. Sua vida não tem nenhum valor e sua morte representa um bem à humanidade.
O poder aferido ao hierofante assume dimensões drásticas. Quando a comunidade confere poderes divinos, seduzida pelo poder das idéias do líder, há sempre conseqüências. Levas de pessoas deixam de raciocinar por si próprio e caminha a passos céleres em rumo ao fanatismo. Há exatos 30 anos, em 11 de novembro de 1978, para ser mais preciso, 914 seguidores do pastor Jim Jones, da seita Templo do Povo, lançou-se ao suicídio na Guiana. O pastor era norte-americano e tinha fundado diversas igrejas em seu país, antes de se tornar um genocida e se suicidar. Esse é só um caso que alcançou repercussões internacionais por suas conseqüências.
Esses mesmos hierofantes continuam agindo impunemente e ainda revestindo-se de uma aura de superioridade. A humanidade ainda não conseguiu caminhar com os seus próprios pés e entrega-se a líderes, como se cega fosse, em vias de tropeçar ao primeiro passo.
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