quarta-feira, fevereiro 13

Mares da Espanha - Parte I


Navegava o velho corsário em seu bucaneiro mais velho ainda quando, nos mares da Espanha, teve de aportar. Parada técnica, ele diria, buscando novos grumetes para futuras empreitadas em águas da Ásia, Ele sabia, muito reservadamente, que as suas chances em batalhas contra naves mais modernas eram remotas. Mas um velho lobo do mar não se entrega fácil. Melhor morrer tentando um futuro grandioso do que se entregar sem lutar na beira de um cais, ele pensava cá com seus botões, na mais perfeita filosofia de balcão de taberna.

Mas ele nem suspeitava que batalha lhe esperava em terra. Não essas lutas ensandecidas tão repetidas em covis de piratas, mas outra, que dificilmente sairia vitorioso. Daquele tipo que nem se percebe que se está nela, mas depois que o embate começa, fica quase impossível de passar incólume.

Depois de deixar a embarcação passou a caminhar por ruas estreitas de Valencia, cidade localizada no Mediterrâneo, rumo ao coração da metrópole. Bons negócios, boas histórias sempre se ouvia naquelas paragens. O solo ainda parecia balançar. A terra não parece ser tão firme assim, quando se passa tanto tempo galgando ondas, nos sobes- e- desces das marés.

O pensamento ia longe quando percebeu um pequeno cortejo. Uma bela jovem, no frescor dos seus verdes anos, se protegendo do sol com uma sombrinha, acompanhada de algumas mucamas. O Vestido longo escondia algumas formas, mas só parte delas. Era perceptível a cintura fina e o formato dos seios que se harmonizava com o restante do corpo. O rosto parecia desenhado a mão. Talvez alguma obra de um famoso pintor renascentista pudesse se rivalizar em beleza. O tempo passado longe da civilização deixou o velho bucaneiro ainda mais extasiado com a bela figura que o acaso o presenteou. Lutou para o queixo não cair e manter o ar de desdém. Afinal, um guerreiro vencedor de tantas batalhas não poderia se abater com a força que aquela imagem transpunha para a atmosfera. Mesmo com toda o aparente descaso que o seu comportamento transmitiu, por dentro ardia pelos desejos que afloraram.

Mas não se fez de rogado. O lobo do mar seguiu o seu caminho em direção oposta a da bela dama, provavelmente pertencente à corte espanhola. Não sabia o que o futuro lhe aguardava. Pensava ser esta a primeira e última vez que encontraria a bela menina, uma completa desconhecida, até então. Mais tarde iria descobrir quantas trapaças aquela cena iria desencadear em sua existência. E ele, tão acostumado a situações inusitadas, de repente se encontraria em uma cilada.


3 comentários:

Anônimo disse...

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Você me surpreende...

www.jotelog.cl/jornalintimo disse...

Com esse texto, por exemplo...
Ele é seu, né? Ainda não tinha lido nada seu, assim, mais literário...