Um libelo feminista,
onde duas mulheres estão no comando, e tomam todas as decisões,
apesar de inconvenientes para alguns homens. Uma delas mostra,
inclusive, como é capaz de se desfazer de uma gravidez indesejável.
Uma visão freudiana poderia reduzir Prometheus, de Ridley Scott, a
isso. A história, no entanto, nos remete aos principais segredos
ainda não revelados da humanidade. Quem somos, de onde viemos e por
que estamos aqui. É claro que não se trata de um estudo científico
ou filosófico. Scott apenas aponta uma direção, de forma
absolutamente ficcional. Em sua abordagem cinematográfica, a
humanidade foi gerada a partir de DNAs alienígenas, o que só
transferiria a origem da vida para outro ponto do universo.
A história tem início
em um passado incerto, quando um ser humanóide de outro planeta, às
margens de uma catarata, resolve se decompor, ingerindo uma
determinada substância com esse poder, liberando o seu DNA, sob as
vistas de uma nave alienígena. Isso sugere, então que o ser
humano, que viria surgir alguns milênios depois, teria essa origem.
Inevitável a comparação com 2001 Uma Odisseia no Espaço, de
Stanley Kubrick. Com um diferencial, já que na história original,
de Arthur C Clarke, é sugerido que foram os seres de outro planeta
que induziram o desenvolvimento da capacidade intelectiva humana, sem
haver doação de material genético.
Assim como em 2001, os
alienígenas também deixaram pistas para serem localizados. Os
monólitos da scifi de Kubrick são substituídos por desenhos em
cavernas e artefatos arqueológicos. Estes dariam a posição exata
no universo, de onde teria se originado a missão alien que trouxe
consigo a possibilidade do povoamento da terra. E são os arqueólogos
Elizabeth Shaw (Noomi Rapace, a Lisbeth Salander da versão sueca de
Os Homens que não amavam as mulheres) e seu namorado (noivo?,
marido?) Charlie Holloway (Logan Marshall-Green) quem matam a charada
e convencem a um megamilionário à beira da morte, que a a expedição
vale a pena.
A viagem para o planeta
indicado por imagens pré-históricas, provavelmente produzidas
pelos aliens que originaram a humanidade, é feita em animação
suspensa por longos dois anos e alguns meses, sendo administrada por
um robô de forma humana David que tem capacidades múltiplas. Mais uma
referência ao 2001 e seu supercomputador Hall. E como o seu
antepassado ficcional, ele tem também a capacidade de melar algumas
situações, criando nódulos dramáticos indispensáveis à trama.
Na nave Prometheus
surje também questões como quais são as prioridades da missão. Se
esta deve preservar o caráter meramente científico, na busca pela origem da
humanidade ou se há perspectivas econômicas a serem salvaguardadas.
Elizabeth pelo lado da ciência e Meredith Vickers (Charlize Theron),
herdeira do capitalista que financiou a expedição, se antagonizam,
inclusive sobre quem é o verdadeiro comando da missão. Meio
previsível saber para que lado a produção cinematográfica vai
pender, diante do histórico recente de desfechos de situações
semelhantes na indústria de Hollywood.
Daqui para frente, vão
alguns spoillers. A expedição ao chegar ao planeta indicado, se
depara com o que seria uma nave alien camuflada. A camuflagem só é
percebida com o desenrolar da trama. Aparentemente deserta, e no
interior de uma grande formação rochosa, aos poucos vai se
descobrindo que há formas de vida no local. É também encontrado
uma câmara de animação suspensa do que seriam os nossos
progenitores genéticos. Um único ser dessa espécie teria
sobrevivido a algum tipo de extermínio, que a princípio não está
exatamente claro. Mas depois se descobre que foi provocado pela
espécime que se consagrou em Alien, o oitavo passageiro, o inimigo
número um da tenente Ripley.
David, em uma das idas
até a nave, recolhe um material alienígena, e faz com que o
namorado de Elizabeth ingira desavisadamente. Uma atitude que pareceu
um mero experimento, mas que trouxe repercussões danosas a todos.
Charlie se transforma em um ser altamente destrutivo, e assassina
alguns tripulantes, reduzindo drasticamente a população.
O megamilionário
caquético, que se passava por morto, na realidade ainda está vivo
dentro da nave, e participa de uma nova ida para a nave alien, com o
objetivo de despertar o ser encapsulado. O velhinho tem a ambição
de encontrar uma fórmula de longevidade e prorrogar a sua miserável
existência, e se possível com um pouco mais de qualidade. Ou seja,
o que seria filantropia, passa a configurar uma ambição sem
tamanhos.
Mas o despertar do
espécime humanóide se mostra um erro. O ser é altamente hostil e
passa a matar todos os que estão em sua volta, chegando a separar a
cabeça do corpo do robô. A outra parte da expedição, que aguarda
na Prometheus, assiste a tudo. Vickers ordena a decolagem imediata da
nave, abandonando o restante da tripulação sobrevivente do acesso
de cólera do alien. Também é descoberto que aquela nave seria uma
arma de destruição em massa apontada para a terra. Parece que os
“nossos criadores”, não teriam gostado do resultado alcançado.
O grande mérito do
filme é a sua capacidade de gerar tensões. David, logo de início
dá mostras do seu desapego a qualquer diretriz que coloque a vida da
tripulação como prioridade. Mas não chega a demonstrar a paranóia
delirante de Hall ou de outros intelectos eletrônicos que piram o
cabeção, tão comuns em produções scifi. Ele é também a chave
da sobrevivência de Elizabeth, deixando de lado o maniqueísmo onde
há um lado essencialmente bom e outro inapelavelmente ruim. Achei
uma sacada esse desfecho. Mas também aparece a questão salvar a
pele ou a humanidade. Que achei meio clichê, mas orgânica para o
desfecho da história, que se propõe a ser a protogênese de Alien o
oitavo passageiro.
A estória, mesmo com
as semelhanças com 2001, uma odisseia no espaço é instigante, e
não faltam cargas de suspense, e alguma escatologia própria de
Scott, que nos pede alguma fortaleza de nossos estômagos. Foi uma
boa diversão. Só que o 3D é absolutamente dispensável, sob todos
os aspectos. Só um jeitinho de os distribuidores cobrarem a mais por
um produto que custa a metade.
3 comentários:
3D absolutamente indispensável nesse filme. gostei demais, apesar de ter sido um dos únicos filmes em que me deu vontade de sair da sala pra vomitar. acho isso um trunfo, de certa forma, rs.
beijão, gostei muito do texto. senti falta de um desenvolvimento à parte freudiana, especialmente do embate entre as duas mulheres, a lisbeth e a vickers. muito interessante essa percepção.
acho que, diferentemente do que muitos críticos estão falando, o filme não buscou trazer respostas. o filme apenas reforçou a maioria das questões criacionistas. o que tu acha?
beijão
Achei q o filme deixou muitas questões mal explicadas, por exemplo: pq os engenheiros resolveram nos exterminar? Quem matou os engenheiros, se o xenomorfo surgiu a partir de uma criatura gerada em útero humano 2000 anos depois?... Acho q uma sequência é indispensável pra tapar os vários buracos abertos. Sem isso, pra mim, será um filme muito incoerente e que não faz jus a Alien e Aliens.
Abraço
Ahhhh gostei do seu texto. Parabéns! Só um detalhe: quem matou vários tripulantes foi o Fifield, que serviu de hospedeiro àquela "cobra". O Charlie não mata ninguém, não.
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