terça-feira, agosto 31

Diferenças entre Dilma e Serra

O que é óbvio para a grande maioria do povo brasileiro é que Lula conseguiu administrar esse país de forma muito mais benéfica para as camadas mais necessitadas da população do que os 500 anos anteriores de tucanismo-demonismo, tão bem sincretizados na gestão FHC. E o coitado do Serra ainda quis, através de uma propaganda enganosa, dizer que era a continuidade de Lula. Quem esse paulista pensa que é? Ou melhor, o que ele pensa da inteligência do povo? O mais estupefaciante é repetir em sua propaganda que foi ministro duas vezes. Mas ministro de quem? De que Governo? Só faltou afirmar que era do ministério de Lula.

Falando na real, Serra jamais poderia ter sido o candidato do PSDB, se esse partido quisesse ter alguma chance na atual campanha. Porém, Serra preferiu esfacelar o partido mesmo sem qualquer possibilidade de vitória a ter a humildade de reconhecer que Aécio Neves seria muito mais palatável à opinião pública. O ex-governador mineiro não havia sujado as mãos na gestão FHC, e por isso mesmo estaria desvinculado do ex-presidente tucano. Serra e FHC são a mesma coisa, o país sabe disso. Só Serra parece não saber. E como tal, a comparação não é Serra x Dilma, mas FHC x Lula. Desta forma, o máximo de popularidade adquirida, fruto de uma administração bem aceita e quista, não poderia ter alguma desvantagem contra uma gestão que terminou pifiamente, supermega mal avaliada, com inflações galopantes e dólar a R$ 4,00. Quem seria o doido de querer isso de volta? Só os que pensam em se locupletar nas tetas da viúva. E tal contingente é infinitamente minoritário entre o eleitorado.

Além de uma candidatura natimorta, o tucanato produziu erros em profusão durante a campanha em curso. Se não bastasse a estratégia equivocada de querer mostrar Serra como o candidato de Lula, a propaganda do Zé não tinha o que dizer. Por isso, tentou de todas as formas desqualificar Dilma Roussef. A última estratégia foi chamá-la de terrorista por ter tido a ousadia de lutar contra a ditadura militar. O mais primário sociólogo seria capaz de tirar a legitimidade de uma luta que tem como adversário um regime autoritário, ilegal, inconstitucional e divorciado da vontade da população. Serra deveria ter consultado o seu mentor FHC sobre o assunto.

Mas, sem dúvida, o maior de seus erros foi acreditar que os mídias tucanos (Folha de São Paulo, Revista Veja, e o grupo Globo) seriam capaz de sustentar a sua campanha contra tudo e todos. Felizmente, o Brasil tem comunicações alternativas capaz de fazer frente a esta avalanche de contrainformação e a inexorável avaliação pessoal de seus proprios sentimentos com relação às transformações acontecidas no país. Não é mais possível através da edição de um debate como já foi feito, mudar o rumo de uma eleição. Agora, as pesquisas de opinião começam a fazer seus ajustes para não cair no descrédito total no primeiro domingo de outubro. Sabe qual é a principal diferença entre Serra e Dilma? 24 pontos nas pesquisas de opinião. Quem viver verá.

sábado, agosto 28

Certo ou feliz?


Há dias uma determinada expressão me persegue e tem consumido alguns ATPs de minha massa cinzenta. Ser feliz ou estar certo? A princípio, todos se lançam rumo a felicidade. É claro que ninguém quer ser infeliz, mesmo que para isso precise cortar os dedos ou vender a mãe. Felicidade, na visão de alguns filósofos é a razão primeira da existência humana. É o que humaniza o homem e nos faz absolutamente diferentes de tudo o mais que possa existir na criação divina.

Sorte minha que por esses dias tive a oportunidade e a felicidade (olha ela aparecendo aqui) de cruzar com os pensamentos da filósofa judia-alemã Hannah Arendt que me lançaram algumas luzes sobre essa questão. A primeira delas é que faz sentido o meu primeiro insight de que ser feliz ou está certo é uma falsa dicotomia. Não há felicidade fora da razão, é a minha conclusão. Sem estar certo, a pessoa pode se manter na zona de conforto, evitar conflitos, tornar-se manso e dócil, assegurar a redução de eventuais tensões na busca por uma harmonização empírica. Mas nada disso pode ser visto como felicidade, na minha precária visão.

Hannah conheceu as atrocidades do nazismo in loco, expatriada que foi da Alemanha, em 1933. E não atribuiu os crimes praticados contra os judeus somente ao comando do poder germânico, mas, principalmente, aos pais de famílias, a grande maioria, que cruzaram os braços diante das maldades para não por em risco seus empregos, a condição que desfrutavam na sociedade alemã, o conforto, e em última análise, a suas felicidades comezinhas. O resultado deste não-comprometimento com o justo, o certo e a razão foi o desastre que se seguiu, com repercussões até hoje, mais de 60 anos após o fim da guerra.

Em 1963, Hannah escreveu sobre Eichmann em Jerusalém, o nefastamente famoso engenheiro da solução final, que levou milhões de judeus aos campos de extermínio. Ela considerou que o grande exterminador não era alguém terrivelmente mal, mas um típico burocrata que se limitara a cumprir ordens, com zelo, sem nenhuma capacidade de destinguir o bem e o mal. É claro que os judeus israelenses não gostaram dessa frase. Eles preferiram a espetacularização de proporções mundiais do julgamento do criminoso de guerra. Eichmann não poderia ser alguém "horrivelmente normal" como apregoou a escritora.

Quero deixar claro que o nosso juizo individual é sempre passível de imperfeições. Podemos nos admitir certos e dentro da razão em situações que um terceiro olhar não permitiria tal avaliação. Mas, por outro lado, não podemos ficar deslizando em falsas dicotomias ou se evadir totalmente de determinados confrontos interiores em nome de uma pax romana. É o que tenho a dizer no momento, procurando não ser cansativo, mas já o sabendo como tal.