Pois é Fernanda, você prefere sorvete de chocolate. E eu gosto de todos os sorvetes, ao ponto de nunca faltar no freezer. Mas também gosto de outras coisas também. Açaí inclusive. Conheço muitos que não gostavam dessa fruta, e insistiram com o paladar até passar a gostar e hoje fazer a tijela uma parceira quase inseparável. Como tudo na vida, desistir nas primeiras tentativas pode não ser a melhor saída, porém cada um tem as suas medidas e sabe até onde vai o confortável. Não dá pra forçar barra.
Assim também é com as pessoas. Tem gente que desiste logo dos amigos. Troca com extrema facilidade. Basta mudar um hábito e pronto, a pasta dos antigos amigos é deletada e abre-se outra. Tenho um assim. Compra uma moto, e os motoqueiros passam a ser os parceiros de todas as horas. Chega perto de você só para dizer o quanto são sensacionais aqueles que escolhem motos como filosofia e religião. Compra uma prancha de surf e esquece de todos que ficam na praia. São "uns bundões" que não sabem o que é viver. Claro, impossível não saber o que é viver senão sentir a sensação de ficar em pé em cima de uma prancha de surf. Mesmo que por poucos segundos em algumas horas de tentativas.
São aqueles que quando deixam o colégio esquecem os amigos para fazer dos colegas de faculdade os parceiros ideais. Poxa, como pôde viver tanto tempo cercado de pessoas que não têm "nada a ver comigo". Mutantis mutáveis. Perenidade só mesmo o insólito sentimento de que ninguém vale mesmo a pena, o esforço para se fazer acompanhar.
Falo essas coisas porque hoje me chegou aos olhos um poema de Oscar Wilde, que parei para refletir um pouco e que agora compartilho.
Loucos e Santos
Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila.
Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.
A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos.
Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo.
Deles não quero resposta, quero meu avesso.
Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.
Para isso, só sendo louco.
Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.
Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta.
Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria.
Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto.
Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade.
Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.
Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça.
Não quero amigos adultos nem chatos.
Quero-os metade infância e outra metade velhice!
Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa.
Tenho amigos para saber quem eu sou.
Pois os vendo loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.