quinta-feira, julho 24

Guatánamo em Gotham City


O filme é bem elaborado, roteiro que prende, envolve, e coloca o público como torcedor do herói trevoso. A interpretação do Coringa, levada a cabo pelo ator Heath Ledger (recém morto por uma combinação de cocaína e antidepressivos), assim como a de outros pisco-crazies (como Dustin Hoffman em Rain Man e Tom Hanks em Forrest Gump) que já surgiram nas telas , é digna de um oscar. Não só porque a academia dá especial atenção aos seus piscopatas, mas porque o filme Senhor das Trevas poderia sem nenhum esforço ser batizado de Coringa, tamanha a grandiosidade do trabalho do ator.

Mas fica só nisso. Ideologicamente, este Batman é o que existe de mais reacionário. Defende a política mão-de-ferro de Bush como ainda não tinha visto no cinema. A começar que todo mal vem do estrangeiro, ou é engendrado por uma ideologia anti-americana. Os bandidos são mafiosos italianos e corruptos chineses. Todos os americanos de pai e mãe estão colocados no caminhão das vítimas.

Em nome da lei –a patriótica inventada na era Bush- , Batman invade a China, (Hong Kong, é claro, já que a Continental é aliada e vai realizar a Olimpíada) e seqüestra direto para as prisões de Gotham o bandidão desclassificado de olhos puxados. Em nome da moral e dos bons costumes vale quebrar as regras, diz o filme.

Na prisão, o Coringa é espancado brutalmente por Batman, sob os olhares complacentes das altas autoridades policiais. Alguma semelhança com Guatánamo ou Abu Gabri? Que tal os afegãos seqüestrados de seu país e mantidos encarcerados sem nenhum direito civil na ilha cubana? S o Batman pode dar uns catiripapos em um bandido, porque o Estado Ianque, deve se privar de prender e arrebentar em nome do mundo livre?

Nas explosões do filme, hospitais são os principais alvos. Mostrando todo o lado cruel do terrorismo, protagonizado por pessoas sem o mínimo de piedade, portanto merecedoras de represálias à altura. Assim, mostra o filme, Batman tem todo o direito de quebrar os direitos civis da população de Gotham City e promover a escuta telefônica de forma indiscriminada, fuçando a vida de todos. O que exatamente é permitido pela lei patriótica de Bush.

A mensagem ideológica não pára aí. Coringa, o pior dos bandidos, é também o mais anti-americano deles. O bandido incendia um montanha de dólares, (teoricamente bilhões deles), mostrando simbolicamente a sua total aversão ao mundo capitalista e a tudo que ele representa. Afinal de contas, terrorista que é terrorista faz o mal pelo mal, simplesmente porque não suporta os valores do mundo livre(?). Terrorista que é capaz de promover tanta maldade a troco de nada, só pode ser um maluco varrido, que não deve ser nunca tratado como um cidadão. Não é possível existir nada sensato capaz de se opor aos valores americanos, ao american way of life, diz o filme em suas entrelinhas.

2 comentários:

Anônimo disse...

Caramba, isso é que vampiro! E tantos pais comprando asinhas de morcego para os filhos pra festas infantis... tisci, tisci.

Amei o seu comentário lá no meu blog kkkkkkkkk

Nina Souza disse...

Não vi o filme ainda, mas todo mundo sabe que esses heróis são tipicamente os americanóides que eles gostam de ver. Básico. Especialmente em período eleitoral.
Mas foi excelente seu ponto de vista, muito bom - e até importante de divulgar.
Bjs!