Minhas amigas Tith, Flavinha e Julia participando do aquecimento do show do MonoblocoOntem teve show do Monobloco, por aqui. Muita energia transmitida por uma percussão que tenta reproduzir em miniatura uma bateria de escola de samba, às vezes tendo como coadjuvantes, às vezes como protagonistas, baixo, guitarra e cavaquinho elétrico. Vale a pena pela festa. Antigas e novas músicas estilizadas, muitas lembrando ritmos de carnaval, outras extraídas e reinventadas advindas dos clássicos da MPB. Outras, nem uma coisa nem outra, só releitura mesmo. As companhias também estavam ótimas!
Tudo isso me levou a reflexões sobre a minha interação com expressões artísticas. Sempre gostei de buscar o desconhecido, em termos de música, queria e continuo querendo me inteirar o que está além da MTV e das estações de FM. Conhecer o novo, e ter algumas coisas razoavelmente exclusivas em meu meio me levou a fazer aquisições de coisas insuspeitas.
Apesar dos esforços próprios e de todas as facilidades proporcionadas pela Net, na captura de impressões digitais musicais, ainda sinto que somos bem escravos da indústria cultural que define o que vai ser sucesso, o que devemos consumir, até mesmo os ritmos da temporada. Um ano é Axé, outro é funk, outro é lambada, outro é samba, outro é forró eletrônico. Achei o píncaro encontrar, certa vez, em uma danceteria paulista umas japas requebrando ao som de Mastruz com Leite.
As coisas acontecem meio de forma imperial. Alguns executivos definem quem serão os gravados e trabalhados para implantar em uma nação de quase 200 milhões um desejo de consumo musical. E tome programas do Faustão, do Gugu, Sérgio Groissman, e outras catrevagens mais. As mesmas notas musicais invadem emissoras de rádio até a exaustão, gerando no público (que deixa de ser apreciador da arte para ser consumidor) o desejo de entrar na festa, ter aquele bestiário em seu mp3 player, som do carro, da sala, no bar, de ir ao show e sair rebolando por aí ao som do último hit da temporada.
Mas o que é arte? Como fugir do lugar comum sem se tornar em um pedante, de nariz empinando, arrotando uma falsa erudição propelida a leitura de livros cheios de mofo? E ao mesmo tempo sem cair do ridículo de dizer que não gosta do que realmente gosta só porque determinado gênero é considerado de baixa qualidade por alguns iluminados que se acham o donos dos padrões estéticos globais. (no sentido de mundo, e não da rede globo de TV).
História comprida essa. Aí me vem à cabeça a frase de velha canção do Milton Nascimento que diz que todo artista tem de ir aonde o povo está. Tem gente levando isso ao pé da letra, de forma cruel. Migram do MPB inconseqüente para a música Gospel (meleca tocada para crentes) com muita facilidade, e dizem que fazem isso em nome do Senhor e não dos níqueis que passam a acumular após a conquista do novo território, corações e mentes incautas. Não é assim Baby Consuelo? Ou mesmo procuram sofisticação em parcerias consagradas ou em melodias mais palatáveis aos ouvidos cultos.
É difícil se colocar na situação de apontar o que realmente tem valor artístico. Dias desses tava ficando meio de rosca com o cinema que sempre foi feito. Produções antigas, que se pareciam obras perfeitas, ao serem revistas são uma verdadeira tristeza, nos deixando envergonhados de algum dia ter realmente apreciado aquilo. Arte não envelhece, é fato. Nessa expressão artística pouca, muito pouca coisa se eterniza como as produções de Charlie Chaplin, alguma coisa de Kubrick, Felinni, Hitchcock e outros pouquitos que não quero citar para não deixar margens à injustiça.
Da mesma forma, começo a achar despropositada a transposição dos heróis em quadrinho para as telas, apesar de sempre conferir in loco os resultados. Absolutamente sofríveis homens de ferro, homens aranhas, supermans, batmans, quartetos fantásticos, surfistas preateados, hulks.... Se quiser entender um pouco do que eu digo, procure assistir o primeiro superman, com a participação de Marlon Brando que fica mais fácil.
Será que alguém chega até aqui lendo o que escrevi? Não creio, mas ainda quero dizer mais algumas coisas, entre tantas outras que ainda penso em relação a esse assunto. Com o passar dos anos, para quem viu as obras artísticas, verdadeiramente artísticas, no original, é um pouco traumatizante assistir aos remixs feitos com pouca qualidade. Quem conhece uma bateria de escola de samba, produzindo os seus ritmos em força bruta em um ensaio de barracão, com toda aquela vibração pulsando na totalidade das células, fica muito complicado se envolver demais com uma apresentação do Monobloco. Quem já esteve em Nilópolis, absorvendo aquela explosão chamada de Beija-Flor, sabe exatamente do que estou falando. Sem querer se chato com os torcedores das demais escolas.
PS. As fotos foram tiradas por um sony ericsson com câmera de 1,3 mp