A primeira cena de violência de que me lembro, em minha vida, eu fui a vítima. Aconteceu quando tinha cerca de quatro anos. Fui empurrado por um amiguinho de infância de um muro baixo e cai de cabeça em cima de uma pedra. Resultado: quatro pontos da testa e uma cicatriz que me acompanha até hoje. Recordo-me também do aperreio de minha mãe me levando para um pronto socorro.
Hoje o cenário é completamente diferente. Todos têm culpa pela violência praticada, menos os seus próprios protagonistas. Abre-se o jornal e se lê em letras garrafais que três turistas foram alvejados pela polícia porque não pararam diante de uma ordem da autoridade. Um vai ficar paraplégico. Mas a responsabilidade não são daqueles que alvejaram os ocupantes do veículo, em vez de atirar nos pneus ou procurar barrar a fuga dando um tranca, como se vê em vídeos policiais gravados nos EUA e exibidos na TV. Afinal, são tantos os policiais que morrem pelas mãos de marginais que diante do perigo iminente, nada mais aceitável do que disparar contra prováveis bandidos.
Também não se pode dizer que foram os alvejados os culpados. São inúmeros os relatos de testemunhas vítimas de marginais que se utilizam de carros e roupas de policiais para realizarem seus ilícitos de cada dia. Nada mais normal do que não crer numa ordem de parar e procurar desesperadamente escapar.
Mas não é só o medo que move as reações desproporcionais. É comum se ver determinados especialistas do ramo querer culpar os meios de comunicação, os jogos de videogames e computadores, os noticiários, os filmes, as músicas e tudo o mais pela explosão irracional de violência. Até monges budistas estão entrando no cacete lá pras bandas do Miammar, contrariando todo o fetiche pacifista que a religião de Buda mostra através Dalai Lama e seus seguidores.
A julgar pelo nível de violência imaginária que vivi em tenra idade, era para eu ter me tornado um troglodita, tipo esses que andam por aí, se achando os maiorais, na visão da psicologia moderna. Mas nunca cheguei efetuar um disparo de vera. Não me envolvia em brigas, a não ser alguns bate-bocas por conta dos rachas de futebol. Há a índole de cada um pesando na escolha do caminho a seguir, mas certamente, a falta de limites existente nos dia de hoje, está concorrendo para o salve-se quem puder. E não será apenas se criando novas ideologias pacifistas que este mundo vai se endireitar. No dia de Cosme e Damião, pensei um pouco nisso tudo.