sexta-feira, abril 23

Peacock


Em uma pequena cidade de Nebraska, um homem leva uma vida simplória, dedicando-se de forma integral ao trabalho, sem demonstrar nenhum interesse pelo que existe além de sua rotina, até que um dia um vagão de trem descarrila e vai parar no seu quintal. Este fato desencadeia uma série de acontecimentos que expõe os conflitos de uma pessoa de vida dupla, ora homem ora mulher, que não entende e, de certa forma, não aceita um ao outro. A apresentação do protagonista é rápida e objetiva. Com poucos minutos de filme, a gente já sabe de que se trata de um personagem com dupla personalidade. Bem ao estilo Hitchcock. Até imagino que o título do filme venha a ser uma homenagem ao mestre do cinema suspense.

A história recebe vários elementos que aumentam o conflito entre os dois lados do John Skillpa/Maggie Skillpa, que aparecem aos olhos da pequena cidade, com pouco mais de 800 habitantes, como um casal. A caracterização do ator Cillian Murphy como o personagem que se traveste é muito feliz, e engana o espectador no início do filme. Quem assiste é levado a crer que a qualquer momento a farsa poderá ser descoberta. Uma farsa, diga-se, que não tem como principal objetivo ludibriar mas dar vazão a um trauma psicológico muito intenso.

A fotografia do filme é muito bem construída. Nas cenas iniciais temos a clara noção de um local ermo onde se desenrola a trama. Uma casa de passarinho já em posição desequilibrada posta em uma árvore nos remete ao desequilíbrio do protagonista. Não há nenhuma apelação a imagens desfocadas ou tremidas, clichês que além de causar o efeito de instabilidade nos dar alguma desconforto ao assistir. Cada enquadramento nos revela a densidade do personagem principal.

O filme avança na busca de superar o conflito de personalidade e outros que surgem ao longo do enredo. O protagonista tem um filho ilegítimo que causa sentimentos de rejeição de John e a de ternura em Emma. Ela quer ajudar a mãe, Maggie, vivida por Ellen Page, uma pobre coitada que vive em um trailler e tem um emprego chinfrim em uma lanchonete de beira de estrada. Ele, no entanto a quer bem longe dalí, junto com o filho.

Tudo isso tem um desfecho bem construído e original. Que vale a pena ser conferido. Esse filme tem tudo para ficar entre os melhores do ano. Todas as sinopses do filme que encontrei, que será lançado na próxima semana no Brasil, são absolutamente infieis ao que vi na tela. Soberba direção de Michael Lander. Gostei.

terça-feira, abril 13

Polícia para quem precisa


Enquanto toda a cidade está em situação de desespero, por causa da violência que pulula em profusão, não sabendo a quem mais pedir socorro, duas viaturas hilux, pagas a R$ 150 mil cada uma, com o dinheiro do contribuinte, do Ronda do Quarteirão, foram mobilizadas para fazer uma maldade sem tamanho. Por toda a manhã de ontem, os policiais serviram como leões de chácaras de dois desqualificados que se arvoram em ser dono de uma casa abandonada há mais de 20 anos.

O imóvel faz parte da massa falida da antiga indústria de processamento de cera de carnaúba, e, portanto, pertence aos credores. Só que no Brasil as coisas não funcionam do mesmo jeito para todo mundo. Quem tem bala na agulha manda. Justiça é bem de luxo. Só tem quem pode. E foi o que aconteceu. Um grupo de artistas de ruas, que ocupavam a casa há vários meses, viu a sanha desses que se arvoram de proprietários seguir o seu curso. Trouxeram uns peões que armados de picaretas e marretas fizeram muitos estragos na velha construção, num esforço de impedir a ocupação. Tudo isso, é claro, com o apoio dos policiais, que provavelmente recebeu o "por fora".

A população que mora aqui perto, acorreu ao local, tentando sensibilizar de alguma forma os verdugos. Mas a conclusão da demolição só foi impedida com a chegada de representantes do escritório de direitos humanos da Assembleia.

A casa estava abandonada há 20 anos, e por muito tempo serviu de covil de marginais. Poucos foram os moradores das cercanias que não soferam a ação dos bandidos, entregando celulares, carteiras e relógios. Até uma morte já aconteceu no local, sem quem nunca, a qualquer tempo, nenhum dos atuais usurpadores apareceu. Também nunca ninguém se responsabilizou pela imundície que reinava no local, antes dos novos e legítimos ocupantes chegarem, trazendo a limpeza, arte e um pouco mais de tranquilidade. No momento, eles voltaram a habitar o imóvel. Mas até quando?

A matéria no jornal o povo pode ser lido neste link.

segunda-feira, abril 12

Não é sério

Tem certas coisas que não entendo. De um lado há uns puristas ingênuos que querem preservar a língua portuguesa engessada no Brasil Não aceitam um único estrangeirismo e querem até aprovar lei nesse sentido. Realmente, não sei porque tanta defesa da língua do invasor. Se pelo menos defendessem o tupi guarani ou outro dialeto nativo, tudo bem. Mas preservar a cultura do conquistador? Pra que isso?

Dou outro lado, também não acho normal a excessiva xenomania instalada em terras brasilis. De repente, é chic falar o português de forma errada, até mesmo derespeitosa a nossa língua para forçar um sotaque idiota qualquer. Francês escapando por aqui há mais de 30 anos, ainda não fala português que preste? jo no creo. Mas para realçar esse verniz de arrogância, a GNT, canal da Globo, criou um programa com título com sotaque francês. É o Marravilha. Isso mesmo, com dois erres. Alguém vê charme nisso? Eu acho de um provincianismo sem monta.

quinta-feira, abril 8

Morte e vida severina

Noticiários já estão pra lá de saturados com tantas informações sobre as chuvas no Rio de Janeiro e seu infindável número de vítimas fatais. Já está quase chegando no ponto da anestesia, quando novos desastres não mais comovem. Só acho estranho quererem botar nas chuvas a culpa da calamidade somando a irresponsabilidade dos que construiram casas em áreas de risco.

Isso como se alguém de livre e espontânea vontade resolvesse morar em um barraco prestes a desabar morro abaixo. Em nenhum momento, nenhum meio de comunicação, mesa redonda, autoridade falou sobre a desigualdade social que empurrou parte considerável da população para as condições precárias em que se encontram. Nenhum país é tão desigual ao ponto de discutir a desigualdade como se fosse um mero problema climático.

segunda-feira, abril 5

Nine of ten


Às vezes, aos domigos é assim. Uma paella para a gente poder pensar um pouco sobre como será quando o paraiso vier. Não sei porque o Thiago fez essa careta. Talvez o prato tenha esquentado a sua mão mais do que o suportável. Erros aos quais somos impulsionados pela gula, não raras vezes.